Felipe Rossetti é sócio-fundador da Piticas
A indústria brasileira é atravancada por uma longa lista de problemas que agravam sem o devido planejamento e controle da produção. Da carência de infraestrutura à base tecnológica defasada; da elevada carga tributária à falta de produtividade e à mão de obra deficiente. Manter uma indústria no Brasil é um desafio que se renova a cada dia.
Um real valorizado e uma das taxas de juros mais altas do mundo completam o cenário do chamado custo Brasil, que sufoca as empresas e sobretudo as indústrias, dificultando o acesso tanto ao mercado interno quanto às exportações. Não deveria ser assim em um país onde a indústria como um todo representa 22% do Produto Interno Bruto (PIB) e tem 20% de participação no emprego formal, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Mesmo diante desse cenário de pesadelo econômico, apostamos que é possível crescer. O segredo é um mix de visão de oportunidade, crescimento orgânico e investimento bem canalizado em tecnologia, além de planejamento e organização. Vimos uma oportunidade no setor de vestuário de cultura pop e geek, e apesar das previsões modestas para o Brasil, projetamos um aumento de 20% no faturamento este ano.
Para quem trabalha com o público geek, o momento é bom, mas o crescimento só é possível porque fizemos a lição de casa. Começamos nossa empresa com um investimento de apenas 5 mil reais e dez anos de vivência e conhecimento do mercado, que permitiram antecipar uma tendência e visualizar o nicho que desenvolveríamos com sucesso.
O lucro foi sendo reinvestido em produção, com uma preocupação que dribla outro grave problema da indústria brasileira: a carência de linhas de crédito acessíveis e desburocratizadas. Crescemos com zero dívidas. Desde o começo, optamos por não fazer empréstimos e reinvestir no nosso próprio crescimento.
Quando passamos a ter alto volume de vendas, pudemos atender às exigências e dar um salto indispensável a nossa trajetória de sucesso: trabalhar com licenciamento. Nosso primeiro licenciamento foi em 2013 e trouxe 30% de aumento nas vendas. Ano passado, a Piticas construiu uma fábrica de 11 mil m², em Guarulhos, na Grande São Paulo. Investimos em meio à crise pois produto nada funciona. Começa tudo na fábrica.
Nossa opção desafia o senso comum do mercado. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), a roupa brasileira custa 30% a mais que no exterior. Mas acreditamos que com inteligência e tecnologia, investir na indústria nacional pode ser competitivo. Uma de nossas prioridades foi garantir automação e premiação da equipe. Isso permite absoluto controle de todos os processos, desde a produção dos tecidos, até a administração das franquias, mantendo o custo de produção mais vantajoso do que importar da China – outro fantasma que ronda a indústria brasileira.
Confiando em produtos com valor agregado, e atuando em mercado de nicho, porém em franca expansão, com uma gestão meticulosa, é possível crescer. Investir em indústria é um grande desafio, mas vale a pena apostar nele.