Terça, 24 Junho 2025

O SBT está fazendo um programa para definir qual é o maior brasileiro de todos os tempos.  Isso fez com que cada um fizesse uma lista em sua mente de “maiores brasileiros”. Eu mesmo incluí gente como o diplomata Sérgio Vieira de Mello e o escritor Guimarães Rosa. Mas todos nós, sem exceção, estávamos errados.

O maior brasileiro de todos os tempos saiu de casa aos 8 anos de idade. Perambulo pelas ruas sobrevivendo até os 12 anos sabe-se como. Foi gigolô, sendo preso diversas vezes durante a juventude por arrumar confusão. Passou fome, morou debaixo da ponte, fchegou a cometer pequenos furtos para sustentar a família. Como bom brasileiro, foi sobrevivendo com a resistência de Fabiano, de Vidas Secas.

Encontrou na luta o seu estilo de vida. Lutou vale-tudo, telecatch, boxe. Aprendeu a se esquivar dos constantes e duros golpes da vida. Aprendeu a bater nas circunstâncias e a viver lutando, até a velhice. A luta fez ele sobreviver. A luta marcou sua existência. A luta moldou seu caráter.

Teve um sem número de filhos. Nove, onze, quinze, dezoito. Ninguém sabe ao certo. Moldou todos eles com aquilo que marcou sua vida: seu espírito de luta. Todos eles nasceram para ser lutadores, que nem o pai.

Um deles teve o nome do dono da academia de judô em que ele treinava, que morreu assassinado: Yamaguchi. Um outro só revelou como ele se livrou as circunstâncias amargas da vida o tempo todo: Esquiva. Um terceiro teve seu nome em homenagem ao seu lutador favorito, Teófilo Stevenson: chamou Estivan, mas só porque o cartório não permitiu a adoção do nome integral. Até Luciano, o nome mais simples, foi em homenagem ao lutador brasileiro Luciano Todo Duro Torres.

Todos os filhos foram forjados na luta. Batendo na mesma bananeira da qual tiravam alimentação. Quando Esquiva desistiu do boxe e começou a vender drogas, ele não desistiu. Foi atrás, mostrando novamente para o filho que a única coisa que vale a pena na vida é esquecer os erros e continuar lutando.

Ele luta até hoje. Bate em adversários 20, 30 anos mais novo. Continua correndo, porque sabe que sua vida é lutar. Ensinou os filhos assim. Acreditou nos filhos e acreditou que seus filhos fariam o milagre de ganhar a vida lutando no Brasil, apenas com seus ensinamentos. ”Nunca tive uma vida fácil e dizia para todo mundo que eu não iria plantar batata ou milho. A minha lavoura seriam os meus filhos”.

E ele conseguiu viver para ver o milagre. Os dois lutadores mais velhos, Yamaguchi e Esquiva, conseguiram vaga na equipe brasileira para os Jogos Olímpicos de Londres. Já era uma realização imensa. Já havia melhorado a vida de todos. Mas eles fizeram mais. Contaram a história mais inspiradora dos Jogos Olímpicos. Torceram um pelo outro e conquistaram medalhas. Não importa a cor delas. O milagre já está feito. O ciclo já está fechado. A história já está completa.

Adegard Câmara Florentino, o Touro Moreno, merece ser o maior brasileiro de todos os tempos. Não porque ele tenha mais notoriedade que todos os outros, pelo contrário. Continua vivendo sem nenhum luxo, em sua casa humilde no Espírito Santo, com um quintal de terra batida onde forjou seus filhos na luta. Mas porque representa de forma completa e brilhante o espírito do brasileiro que não desiste, que continua lutando, que tenta sobreviver de qualquer jeito, que erra e sofre muito.

Touro Moreno conta a história do brasileiro que é desprezado pela vida, que sofre golpes das circunstâncias, que a abandonado por tudo e todos e ainda assim insiste em prosseguir, trôpego, errante, mas sempre com uma consciência que é capaz de movê-lo para qualquer milagre: a de que continuar lutando e ser humilde. Foi isso que o folclórico lutador capixaba ensinou para os filhos. E é por isso que ele é um brasileiro tão enorme. Porque resolveu continuar lutando.

“Eles não sabem fazer mais nada na vida, só ser humilde e lutar”

Adegard Câmara Florentino, o Touro Moreno, o maior brasileiro de todos os tempos

Fonte: O Enciclopedista

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!