Sexta, 24 Janeiro 2025

* por Everaldo Gonçalves, publicado no Brasil 247

O Grupo EBX, em uma semana, despencou na bolsa 40,5%, o valor de R$ 45,81 bilhões passou a R$ 37, 42 bilhões. O artista sumiu da mídia. Nada a declarar. É questão de tempo, o mercado cria e derruba seus mitos.

A indústria de mineração, como a do petróleo, nada mais é que uma economia extrativista, etapa pré-capitalista, o aproveitamento de acumulação primitiva do capital. O lucro pode ser grande devido ao risco ser igual o prejuízo e de sentido contrário ou maior, com as consequências. Gasta para nada! Pior que no jogo, quando conta com a sorte, o sonhador pode ganhar, na mineração há casos de lucros e alguns locais sem nenhuma chance, com perda total, pois jamais poderia achar o que a natureza não guardou. No garimpo empata a conta de lucros e perdas, com um número ínfimo de ganhadores e elevadíssimo custo ambiental. Na indústria mineral organizada, as estatísticas de sucesso são de duas minas para cem indícios de minerais interessantes e há muitos empreendimentos lucrativos. O seguimento do petróleo é um negócio complicado demais. O grupo das “Sete Irmãs”, os trustes consagrados por Monteiro Lobato, dominou as reservas mundiais e foi ampliado pelas empresas estatais da Rússia, Venezuela, Bolívia, Argentina e a nossa Petrobras. Um clube fechado em que não cabe o Diabo Loiro para dominar o Diabo Negro.

Vista de um lado, a mineração é o dinheiro pronto, no caso do metal amarelo, o ouro é o demiurgo, o próprio capital e no caso do petróleo, o óleo é o ouro negro, o deus negro. Vista de outro lado, é o blefe, perda absoluta. As guerras de conquista são sustentadas ou voltadas para esse tipo de capital, onde há muito minério, há conflitos e as jazidas não têm fronteiras geográficas. É aventureiro ou ingênuo o empresário, sem tradição e equipe técnica, que entra no ramo da mineração, quando não conta sequer com as forças de Sansão. Cabeça brilhante, iluminada pelo seu símbolo do sol, mas mascarada pela peruca, atua em qualquer negócio, como se fosse um coringa. Percorre do batom ao X-tudo das refeições, passando pela hotelaria, show business, marinas, barcos, minérios, ferrovias, navios, portos, siderurgia, energia e até o vale-tudo do UFC. Na contra mão do capitalismo quer voltar ao fordismo verticalizando a indústria. Vai tirar petróleo? Antes instala fábrica de navios, plataformas, sondas e portos para escoar a produção e neles exportar minério que “fabricará” Então, aproveita o Porto Açu, para montar siderurgia, que gera escória para fazer uma fábrica de cimento; além disso, com o aço, faz fábrica de carros e de tubos para transportar o petróleo. Parece projeto de inventor do moto-contínuo. Uma equação industrial que não se fecha, com tantos X Da Questão, nem com a geração de energia solar, eólica, térmica a gás e carvão importado.

Chegou o momento de mostrar produção. É muita ousadia um neófito querer dominar o mercado sujo de óleo e de sangue, baseado apenas nas informações oriundas da Petrobras. Eike Batista contratou um punhado de técnicos, a soldo de ouro, que detinham informações estratégicas da empresa, que saíram sem respeitar a quarentena levando na memória os mapas, perfis geológicos e de sísmica. O desrespeito por geólogos é tal, uma vez que não faz pesquisa mineral, que Eike Batista afirmou na Revista Exame: “os geólogos são sonhadores, o único que pensa com visão econômica é o Paulo Mendonça”. O mesmo geólogo que demitiu da presidência da OGX, na tentativa de estancar a sangria das suas ações. Trocou o indez, o indutor da galinha de ovos de ouro, o seu Mister Oil, pelo presidente da empresa de navios. Faz sentido se o barco está afundando!

A Questão do X
Eike Batista, no seu best-seller O X Da Questão (Editora Sextante: 2011), escrito pelo Jornalista Roberto D´Avila (livro que eu já critiquei), conta que abandonou os estudos e assumiu a venda de enciclopédia e seguro de vida “de porta em porta” em Aachen, a cidadezinha de Carlos Magno, na Alemanha. Em seguida, começou a intermediar contrabando de diamantes de garimpeiros de Diamantina – MG para logo depois tomar um empréstimo de 500 mil dólares, não contabilizados, capital que o principiou no contrabando de ouro na região do Tapajós no Pará. Ganhou dinheiro, mas levou um cano e fez novo empréstimo de igual forma e valor. Diz no livro que ganhou 6 milhões de dólares no “comércio” de ouro. Tentou organizar o garimpo, viu que era melhor requerer pesquisas e vender as áreas. Rei do diamante, do ouro, do ferro e agora do ouro negro. Esquece-se da praga de índio e do Manifesto que diz: tudo que é sólido desmancha no ar! Imagine o que não é sólido! Faltou-lhe quem lesse na cabeceira ao menos O Poço do Visconde de Lobato e mais tarde O Capital de Marx. Dinheiro não cai do céu. O trabalho é que faz o capital, que gera mais capital, sem pagar a mais-valia ao trabalhador.

Mas, o folclore de empreendedor bem sucedido, bom pagador e empresário de palavra é balela. Há um rastro de praga em sua trilha coberta de nuvem negra que faz subitamente o negócio gorar.

A lenda do Diabo Loiro
A sorte de Eike é a sua sina advinda da maldição de índio, que provoca a autofagia do capital, visto que falta a pedra Muiraquitã ao novo Macunaíma.

Uma cortina de fumaça. Praga de Xamã na lenda do Eldorado sobre o comprador de ouro, que corre “de boca em boca” nos garimpos abandonados, nas minas goradas e na Amazônia contaminada pelo mercúrio, nas barrancas do Rio Tapajós, em Itaituba, no Pará. O Mito teria o corpo fechado. Inclusive já levou um tiro pelas costas, por causa de um acerto de contas, e saiu ileso.

Em pleno garimpo, o comprador de ouro, prevenia a maleita mascando dente de alho e engolindo uma talagada de cachaça. Com isso, sua figura exalava um “bafo de onça” mais forte que o enxofre de satanás e era envolvida por uma aura de fumaça branca. Este revolucionário método de erradicação da malária baseado no uso tópico de álcool e alho está descrito no manual de autoajuda O X Da Questão, página 79, e quiçá possa render ao autor da brochura o Prêmio Nobel da Medicina. No garimpo, com a chegada de Eike Batista, caso não tenha sido eliminado o impaludismo, houve incremento do consumo de bebida e avanço da prostituição, com a elevação da moral e da recuperação do ouro fino. O milagre foi líquido e volátil. Na bateia ou “na cobra fumando” – um concentrador rudimentar de ouro, com um caixote seguido de uma calha riflada forrada com um pano grosso felpudo – era adicionado o “miraculoso” mercúrio metálico.

O líquido prateado, “em um passe de mágica” ou por “feitiçaria”, agrega o ouro em forma de liga, com facilidade na recuperação e faz a purificação celestial. Uma vez concentrado pela “queima ao ar livre”, volta o ouro metálico no pião da bateia (um crime ambiental, pois a queima – destilação – deve ser feita em retortas). Sublimação! Ato que aos humanos é considerado como inatingível, como sair do corpo sólido e transmutar no espírito invisível em estado de Jinas na quarta dimensão.

Todo Xamã, qual alquimista, almeja a transmutação. Impossível imaginar o sucesso do jovem loiro de olhos azuis entre os nativos. Porém, o cacique dos garimpos comprou uma briga com os curandeiros, pais-de-santo e os pajés. Em plena selva, nas áreas devastadas, a corrida do ouro foi tal que havia uma nuvem de fumaça branca provocada pela queima do azougue.

Leia o artigo completo em www.brasil247.com/pt/247/portfolio/68457/Eike-a-maldi%C3%A7%C3%A3o-do-diabo-loiro!.htm

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