O seleto grupo de políticos de Goiás amigos de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preferiu distância do velório de Maria José de Almeida Ramos, a mãe do contraventor, que morreu na madrugada deste domingo, aos 79 anos, vítima de falência de órgãos múltiplos, em Anápolis (GO). Cachoeira, preso em Mossoró (RN), não compareceu. Não foi autorizado pela Justiça Federal.Segundo Dora Cavalcante, uma das advogadas do empresário, a justiça alegou que não haveria "tempo hábil" para organizar o transporte. Dora criticou a decisão. — É a crueldade de estar preso desnecessariamente a três mil km de distância. Não haveria tempo hábil para fazer a remoção e ele ficará privado desse direito fundamental — disse a advogada.
Para a remoção de Cachoeira, segundo a advogada, seria necessário que ele enfrentasse uma viagem de 4 horas de carro até Natal (RN) ou Fortaleza (CE) - capitais mais próximas de Mossoró -, de onde embarcaria em avião para Anápolis.
Cachoeira recebeu a notícia da morte de sua mãe pelo diretor da penitenciária de segurança máxima. Mas com os protestos da família. Quem ligou para o presídio foi seu ex-advogado, Jeová Junior, mas a ideia era que o bicheiro só tomasse conhecimento do falecimento da mãe na quarta ou quinta-feira, durante visita de parentes a Mossoró. A família ficou irritada com Jeová.
Um familiar lembrou que a ausência de Carlinhos reduziu pela metade o número de pessoas presentes ao velório. Segundo ele, muitas pessoas ligaram, mas avisaram que não iriam comparecer, de olho na bateria de jornalistas que acompanharam o evento.
Nem o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), nem os deputados e empresários que apareceram nas interceptações telefônicas da Operação Monte Carlo, em conversas comprometedoras com o bicheiro, foram prestar a última homenagem à matriarca da família que comanda o jogo de azar no Centro-Oeste do Brasil.
Ainda que sem presenças ilustres, os atos fúnebres de dona Zezé, no cemitério São Miguel, mostram a força da família Cachoeira em Anápolis. Dezenas de amigos e parentes, inclusive vereadores da cidade, prestaram a última homenagem a mãe do bicheiro, preso pela Polícia Federal em 29 de fevereiro. O velório ficou repleto de coroas de flores, porém, dentre aquelas que ficaram do lado de fora, nenhuma trazia a assinatura de proeminentes representantes da política nacional.
- Ela foi a matriarca de uma família querida por todos aqui na cidade. Ela era uma mulher de bem, querida por todos. A gente vive na cidade e não tem motivo para se afastar agora --- afirmou o vereador Wesley Silva (PMDB).
Segundo relatos de pessoas próximas a Cachoeira, que estavam no velório, o contraventor está tenso, pressionado e dá sinais de que poderá comparecer à CPMI, prevista para ser instalada ainda nesta semana no Congresso, disposto a responder às perguntas sobre o seu envolvimento com políticos governistas e de oposição. Entretanto, ele teria rejeitado a primeira oferta do Ministério Público Federal para se beneficiar da delação premiada.
O bicheiro vem dizendo que se sente um preso político e sugere que sua prisão, agora, serve para ofuscar o julgamento do Mensalão, que deve ocorrer ainda neste ano, conforme disse ao GLOBO o futuro presidente da Corte, Carlos Ayres Britto. Carlinhos Cachoeira demonstra especial ressentimento com o PT, que incentivou a criação da CPI durante a semana passada. Ele recebe relatos periódicos sobre a repercussão do escândalo.
Fonte: Agência O Globo