Fonte: Blog Hiperativassa
Fiquei quieta esperando a poeira baixar porque confesso que já estava me dando náusea só de ouvir as inúmeras baboseiras ditas nos últimos dias contra os alunos da USP.
Não discuto o episódio recente da universidade porque não estava lá, porém, conheço muito bem os pós e contras de estudar, morar e trabalhar na USP City e sei que não é nada fácil chegar até ali, se formar na melhor universidade da America Latina e comer o pão que o diabo amassou, contando cada segundo de aprendizado ali, na esperança de que aquela seja a porta de entrada para uma vida mais digna, mais justa, com uma profissão.
Fui a primeira da minha família a entrar em uma universidade e entrei na melhor. Pra muita gente isso não faz diferença, talvez porque não tiveram a oportunidade de viver uma universidade de verdade, com todas as suas lições e desafios. Mas daí também é outra discussão…
O fato, é que ser uma uspiana mudou completamente a minha vida. Não só pelas oportunidades e caminhos que se abriram, mas principalmente por me fazer uma pessoa melhor, por me ensinar o valor do saber, por me apresentar o mundo com todas as suas possibilidades e por me dar a chance de conhecer gênios: os melhores na arte de superar obstáculos, de prestar solidariedade sem pedir nada em troca; pessoas com brio e honra, coisas que hoje em dia são tão raras.
Tudo começou quando cheguei ao Cepe naquele fevereiro de 2006. Peguei o corredor com minhas malas nas costas e um sonho no coração. Chorava muito, afinal, nunca tinha saído de casa antes e de repente me vi sozinha naquele lugar imenso sem minha família e amigos…
A Letras não era bem o lugar com o qual sonhei, com o tempo percebi que era a possibilidade de ser jornalista, mesmo que como ouvinte. Passei por greves, intoxicação no bandejão, fome, frio, solidão, medo de não conseguir.. Vi amigos enlouquecerem, outros brilharem. Vi a vida passar num segundo….
Apoiei a invasão da reitoria em 2007 e esperei a tropa de choque chegar disposta a apanhar pelos meus ideais. Hoje não sei o que move aqueles alunos, mas o que me movia era a luta por um colchão, por um local decente pra morar, por um mínimo de conforto na sala de aula. Vocês acham estranho? Pois é, quem não passa por ali não sabe o que é morar, estudar e trabalhar na USP.
Temos sim os melhores professores do mundo, mas temos também grandes dificuldades para estudar ali. –AH, mas vocês não pagam… É mesmo? Nossa, passar uma greve inteira sem comer por falta de recursos financeiros e aguardar meses dormindo no chão é um preço alto na minha concepção….
Repito, não sei dizer o que houve ali, mas sei dizer o que sempre acontece na USP: partidos e alunos se misturam e as verdadeiras causas se perdem dando espaço para bagunça… Agora, é indiscutível que as causas existem e merecem sim ser analisadas.
Terminei o meu curso e no final tive a certeza de que nada do que vivi ali será esquecido. Foram amizades que jamais se acabarão, paixões que mostraram que o amor não tem forma exata, aulas que me levaram além do que a minha compreensão podia me levar…
Calouradas, livros e mais livros devorados, trabalhos de campo, suor e lágrimas juntos, sempre em busca desse ideal que não me abandona: ser uma grande jornalista!
Hoje me orgulho de tudo o que vivi na USP e do que faço fora dela. Sei que eu não seria a mesma pessoa sem passar por lá e fico MUITO chateada quando coloco a minha camiseta e sinto as pessoas me olhando como se eu fosse uma baderneira.
NÃO SOMOS baderneiros e não se pode generalizar as pessoas… Se alguém deseja falar sobre a USP e seus alunos, precisa primeiro conhecê-la, vivenciá-la prá depois tentar argumentar. Meia dúzia não representa toda uma classe…. Fica a dica!