Fonte: Valor Econômico
Inaugurada em 2006 com capacidade para moer 1,35 milhão de toneladas de cana, a destilaria Dracena, localizada no município paulista de mesmo nome, garante que começará em 2012 a expandir sua capacidade para incluir o açúcar no portfólio. Paradoxalmente, porém, a empresa demitirá mais funcionários do que o normal para esta época do ano.
A partir da ampliação prevista, diz o advogado Cidonio Vilela Gouveia, diretor e sócio da empresa, a meta é alcançar uma moagem de 3,5 milhões de toneladas de cana na safra 2014/15 e também produzir energia elétrica a partir do bagaço e levedura seca para o mercado de ração.
Os investimentos estão estimados entre R$ 160 milhões e R$ 180 milhões, e incluem as áreas industrial e agrícola. "Neste ano renovamos área de cana e plantamos um pouco mais, já com vistas a essa ampliação. As mudas também estão sendo preparadas", afirma ele.
A empresa está concluindo a equação financeira para tocar o planejamento. Espera usar de 30% a 40% de recursos próprios, e o restante virá de financiamento - bancário e de empresas de equipamentos, conforme Gouveia.
Em 2014/15, a empresa pretende produzir, em caso de a matéria-prima ser dividida em parte iguais para etanol e açúcar, 200 milhões de litros de etanol, 200 toneladas de açúcar VHP, 130 mil MW de eletricidade e 70 mil toneladas de levedura. "Já iniciamos o projeto de cogeração e vamos começar a exportar em 2012 um excedente de 35 MW/h", diz o diretor da usina.
Apesar dos planos expansionistas, a companhia também foi prejudicada pela forte quebra da safra de cana neste ciclo 2011/12 no Centro-Sul do país. Nesse contexto, a usina Dracena processou 875 mil toneladas de cana, praticamente 100% próprias. "Compramos pouca cana de terceiros porque o preço não compensou. Estava muito alto", diz Gouveia. Em 2009/10, a empresa bateu seu recorde de processamento, com 1,26 milhão de toneladas.
Foi nesse contexto que a Dracena tomou uma decisão que gerou desconfiança no mercado: dispensar mais da metade dos funcionários - entre safristas e trabalhadores administrativos - na entressafra para reduzir custos, com vistas de recontratá-los um mês antes do início da próxima moagem, previsto para 20 de abril.
"Será uma entressafra longa, de quase seis meses. Fizemos as contas e decidimos que não compensa manter o custo da folha por todo esse tempo", diz Gouveia. Ele conta que entre 370 e 380 funcionários estão sendo dispensados em 30 de novembro, entre safristas e funcionários da área administrativa. O número responde por cerca de 60% da folha de pagamento, formada por 610 funcionários. Normalmente, diz Gouveia, na entressafra são dispensados entre 20% e 25% do pessoal.
Ele esclarece que foi feito acordo com os três sindicatos que representam os trabalhadores da usina. "A maior parte dos que saem, vão com a previsão de serem recontratados um mês antes da safra, ou seja, em março", diz.
As demissões fermentaram especulações de que a Dracena poderia estar mudando de mãos. Apesar do tamanho da unidade, modesto para os padrões atuais do segmento em São Paulo, a Dracena e usinas vizinhas como a Alta Paulista, passaram a frequentar a lista de alvos de grupos maiores por estarem nas imediações da usina Rio Vermelho, comprada em 2010 pela múlti Glencore, que quer avançar no ramo com a formação de um cluster na região de Junqueirópolis. Dracena e Glencore negaram que seja esse o caso.
Luiz Carlos Correa Carvalho, diretor da consultoria Canaplan, diz que é possível que outras usinas que concluíram a safra muito cedo usem a estratégia de reduzir os gastos com folha de pagamento diante da entressafra de quase um semestre, diz. "Mas não há notícias concretas de que isso esteja acontecendo de forma generalizada".