O governo da Grécia anunciou ontem a adoção de drásticas medidas de austeridade, entre elas duros cortes em pensões e salários do setor público, para tentar atender as demandas de seus credores internacionais e para garantir a próxima parcela de socorro, de € 8 bilhões.
As medidas, que incluem cortes de gastos, aumento no imposto de renda e aceleração de reformas estruturais, deverão ser profundamente impopulares e pesarão sobre uma economia que já esperava uma contração de cerca de 5% neste ano.
Mas Atenas foi obrigada a concordar com medidas mais dolorosas para tapar um crescente buraco em suas finanças públicas e para convencer os governos europeus e o Fundo Monetário Internacional (FMI) a manter um programa de socorro.
As medidas incluem um corte de 20% nas pensões superiores a € 1,2 mil por mês, e um corte de 40% nas pensões acima de € 1 mil mensais pagas a pessoas com idade inferior a 55 anos. O piso de incidência do imposto de renda será rebaixado ainda mais, para € 5 mil, dos € 12 mil no ano passado.
Cerca de 30 mil funcionários públicos passarão a receber parcialmente seus vencimentos - que deverão chegar a 60% de seu salário - até o fim de 2011. Esse número (de funcionários afetados) é superior aos 20 mil previstos inicialmente por algumas fontes governamentais.
Um novo esquema de pagamento a servidores públicos será posto em prática para gerar economias adicionais, estimadas por alguns analistas entre € 800 milhões e € 1 bilhão por ano.
Uma autoridade governamental sugeriu que o novo e extremamente impopular imposto sobre imóveis, anunciado neste mês, permanecerá em vigor pelo menos até 2014, em vez de ser introduzido escalonadamente no ano que vem, como prometido inicialmente.
As medidas foram tema de duas demoradas discussões por telefone na segunda-feira e na terça, envolvendo de um lado representantes do governo grego e, de outro, funcionários do FMI, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu - apelidadas de "troika".
"As discussões com a troika serão concluídas após a chegada dos inspetores no início da próxima semana", disse Ilias Mossialos, um porta-voz do governo, após reunião do gabinete que durou mais de seis horas.
Mas as novas medidas de austeridade foram atacadas quase imediatamente pelo partido conservador de oposição Nova Democracia, líder nas pesquisas, mostrando haver pouco espaço para consenso político.
Os conservadores disseram que as medidas são injustas e as atribuíram à política econômica praticada pelo governo.
As novas propostas frustrarão ainda mais os sindicatos gregos. Mesmo antes de as medidas serem delineadas, os sindicatos de transportes e de motoristas de táxis tinham convocado uma greve de 24 horas para hoje, ao passo que a poderosa central sindical do setor público anunciou uma paralisação de três horas a partir de cerca do meio-dia em toda a região metropolitana de Atenas. Essa greve poderá afetar alguns voos de e para o aeroporto internacional de Atenas.
Fonte: Valor Econômico