A primeira escolha de carreira de Rafael Edelmann de Oliveira Baptista era estudar Música, mas não teve êxito em sua tentativa de entrar na USP e na Unicamp. Veio então para o cursinho com outra meta: fazer Direito na São Francisco. Encontrou grandes dificuldades a superar, dedicou-se aos estudos e conseguiu chegar aonde queria.
JV – Além da Fuvest, você prestou mais algum vestibular?
Rafael – Prestei a 1ª fase da Unesp, para Engenharia Biotecnológica, fui bem, tirei 81, mas não fiz a 2ª fase. E, com a nota do Enem, fui chamado para o curso de Engenharia Naval da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Direito, Engenharia Biotecnológica e Engenharia Naval.
Por que você escolheu cursos tão diferentes?
Eu entrei no cursinho já com a intenção de prestar Direito, mas achei interessante a área de Exatas e fiquei nessa mistura toda. No final escolhi Direito mesmo. Antes, no último ano do colégio, que terminei em 2007, eu só queria saber de Música e de luteria [construção de instrumentos de corda com caixa de ressonância, como guitarra e violino]. Eu tinha começado a aprender a entalhar com meu avô e decidi ir para Tatuí, onde passei o ano de 2008 estudando Música e entalhando.
Seu avô constrói instrumentos musicais?
Ele fazia marchetaria e volutas [cabeça dos instrumentos de arco, de formato espiralado], essas coisas, mas não chegou a fazer instrumento musical. Eu gostava de Música, gostava do que ele fazia e acabei achando que era o que eu queria. Em Tatuí, desisti da luteria e fiquei só na Música. Voltei para São Paulo e passei 2009 estudando Música em casa. Estudei o ano inteiro sozinho e me inscrevi nos vestibulares da Fuvest e da Unicamp, para o curso de Música, mas não passei nas provas de habilidades específicas. Na Fuvest eu não cheguei a fazer nem a 1ª fase dos exames.
O que trouxe você para o Etapa?
Meu irmão estudou aqui, hoje ele faz Economia na USP. Gostou. Amigos meus também estudaram no Etapa. Acabei vindo para cá. Como estava seu ânimo no início do ano passado? Tinha feito a prova específica da Unicamp para o curso de Música em janeiro. Achava que iria passar e fiquei meio mal quando não consegui. Mas vim animado para o cursinho, decidido a entrar na USP. Conversando com meu irmão sobre as profissões e tal, comecei a ir atrás, decidi que faria Direito. Estava disposto a realmente aprender e precisava mesmo, porque eu tinha muita defasagem.
Como era seu estudo?
Comecei com um plano de estudos e me organizei bem. Fiz uma pasta de todas as matérias, prestava atenção nas aulas e ao chegar em casa resolvia exercícios das matérias em que tinha dificuldade. Aí comecei a ter nota baixa em simulado, vi que meu plano de estudos não estava dando certo e passei a fazer um pouco diferente: anotava tudo, quase tudo que o professor falava, até considerações, coisas que eu achava importantes. Ao chegar em casa eu relia tudo, reconstruía as aulas e depois fazia exercícios. Minhas notas começaram a aumentar, até tirei uns A.
Estudando em casa como você evitava as “distrações”?
Tem gente que se distrai com o computador, acaba não aproveitando. Eu usava o computador para me aprofundar em algum tópico que eu achava interessante ou em que estava com dúvida. E pesquisava bastante no Plantão Virtual do Etapa.
Qual era sua rotina de estudos?
Eu vinha às aulas de manhã e voltava para casa por volta das 2 horas da tarde. No primeiro semestre eu ainda ia para a academia e começava a estudar depois das 4 horas até 10 horas da noite. Em agosto parei com a academia, para ralar mesmo, pegar pesado. Aí consegui fazer muito mais exercícios e minhas notas aumentaram.
Sua carga de estudos cresceu no segundo semestre?
Sim, porque continuei estudando até as 10 horas da noite, mas começando logo ao chegar em casa, depois das aulas. Das apostilas de Matemática, eu fiz tudo e, de Física, quase tudo.
Em termos de matérias, quais eram suas maiores dificuldades?
Matemática, Geografia, Física… No início, quando pegava os exercícios de Matemática eu tinha vontade de chorar.
E qual foi o resultado de seu esforço?
Matemática acabou sendo minha melhor nota no terceiro dia da 2ª fase da Fuvest. Em Física eu errei só uma questão na 1ª fase.
Em quais matérias você tinha uma base mais forte?
Acho que em História, eu sempre li um pouco de História. Em Química eu tinha uma base legal, o professor de Química no colégio foi bom.
Houve algum período durante o ano particularmente difícil para você?
Sim, no fim do primeiro semestre, antes das férias. As minhas notas estavam caindo, e em Matemática eu tirei 3,8, foi um negócio assim. Achei que não iria passar.
Na classificação por faixas, como ficava?
Em geral C menos.
Você fez o RPD [Reforço para Direito]?
Fiz, nos sábados de manhã.
Qual é a diferença das aulas do RPD para as aulas normais?
No RPD eles acabam aprofundando os tópicos e pegam mais exercícios.
O seu desempenho nos simulados do RPD eram compatíveis com os simulados gerais?
Eu ia melhor no RPD.
Em termos de faixa, como era?
Ficava em C mais. Meu primeiro A foi no RPD.
A prática com simulados ajudou nas provas?
Ajudou pra caramba. No simulado você está numa situação mais ou menos de prova, quer tirar nota, quer acertar, ir até o fim. E eu fazia com atenção, realmente resolvia as questões, fazia pra valer todos os simulados. Só perdi um do Enem e um da Fuvest, porque estava passando mal. O resto eu fiz todos, atébo da 2ª fase da Fuvest.
No fim de semana, além de fazer o RPD, você estudava em casa?
Estudava. Se eu ia sair no sábado à noite, estudava à tarde. Se ia fazer alguma coisa à tarde, estudava no domingo. Eu saí bem menos do que normalmente sairia, claro, mas não deixei de aproveitar nada.
Como você estudou Redação?
Eu treinei o ano todo, fiz bastante redação. Não fazia menos de uma por semana. E, depois da 1ª fase, passei a levar as redações ao plantonista.
E como era seu desempenho nos simulados de Redação?
Tirava entre 7 e 7,5.
Quais eram as faixas dessas notas?
Era C mais, C menos. Nas do RPD eu tirava C menos, teve até uma em que tirei D.
Você leu os livros indicados pela Fuvest?
Li todos. Eu consegui ler quase todos os livros praticamente no metrô e um pouco à noite. Depois que terminei todos os obrigatórios, eu comecei a ler outros, lia sempre que tinha um tempo. Li Sagarana, li Os Sertões, coisas que talvez interessassem para a Fuvest.
Você assistiu às palestras sobre os livros?
Assisti a todas. Uma visão de alguém que entende do assunto é muito importante. Dá uma visão mais clara.
Nas férias de julho, o que você fez?
No primeiro fim de semana eu fui para Santo Antônio do Pinhal, mas voltei e fiquei estudando. Eu tinha terminado o primeiro semestre ainda com muita defasagem em Matemática e em Português, principalmente em Literatura. Tinha realmente de estudar mais. Fiquei uma semana estudando só Matemática e na segunda semana eu peguei Português, História e Geografia.
Sua preocupação era maior com a 1ª fase da Fuvest ou com a 2ª?
Com a 2ª. A nota de corte para Direito não era absurdamente alta e dava para fazer. Então, minha preocupação mesmo era com a 2ª fase.
Quantos pontos você fez na 1ª fase da Fuvest?
O corte de Direito foi 56. Eu tirei 75. Logo na primeira questão da Fuvest, eu bati o olho mas não lembrava. Fiquei um pouco nela, comecei a lembrar e consegui resolver.
Como você se sentiu com essa nota que dava até para passar em Medicina?
Fiquei feliz pra caramba. Mas eu sabia que não podia deixar aquilo subir à cabeça.
Esse resultado foi uma surpresa?
Eu me sentia preparado para essa prova. Tinha certeza de que poderia passar. Não que eu iria passar, mas que poderia passar.
Na 2ª fase, como foi?
Em Redação eu “pisei na jaca”. A Fuvest registrou que meu rendimento foi de 40%. O tema era “o altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?”. Por uma razão desconhecida, fiz a redação inteira sobre altruísmo, não falei de pensamento a longo prazo. Minha nota na prova de Português foi 5,5, então devo ter tirado 7 nas questões, para dar essa média final. Nos outros dias, quais foram suas notas? No segundo dia eu tirei 7,4. No terceiro, 6,4.
Alguma surpresa na 2ª fase?
A 2ª fase foi meio chocante. Os professores falam que a redação da Fuvest é subjetiva, mas também preparam você para uma redação objetiva. Eu estava preparado, mas houve um descuido. Eu sabia as questões de literatura e também as de interpretação de texto. No segundo dia, a prova foi bem mais tensa do que eu achei que ia ser. Eu estava esperando uma prova bem difícil, mas superou as expectativas. Só que aí é aquela coisa, você respira fundo e faz com calma. No terceiro dia, das matérias prioritárias, em Matemática eu só não fiz uma parte de uma das questões. História e Geografia eu sabia bastante também. Não sei como ficou meu desempenho separado nas duas, mas sei que fui melhor em Matemática. Eu me senti melhor em Matemática.
Na escala de 0 a 1 000, qual foi sua pontuação?
No final deu 644 pontos.
Classificação na carreira?
78º [à frente de mais de 80% dos aprovados.]
Como ficou sabendo de sua aprovação?
No dia em que saiu o resultado, eu estava tentando entrar na internet quando um amigo ligou e disse que eu tinha passado. Achei que ele estava zoando e tal, aí ele mandou um print screen da lista e eu vi que realmente tinha passado.
O que você fez?
Vim ao Etapa para comemorar. Depois eu e uma amiga também aprovada para Direito fomos de metrô à São Francisco e batemos umas fotos lá.
Já conhecia a São Francisco?
Não, foi a primeira vez.
Como foi o encontro com os veteranos no dia da matrícula?
Fui para lá de manhã, já tinha um monte de veteranos, só no caminho do largo até a faculdade eu já estava com tinta, cabelo cortado e tal.
Mas foi tranquilo?
Foi tranquilo, eles não fazem nada que você não quer. Se você não quer, eles respeitam. Trote só tem na manhã do primeiro dia, quem não quer ser pintado ou ter o cabelo cortado, é só não ir de manhã, ir à tarde ou no segundo dia.
Como foi a semana de recepção?
Foi legal pra caramba. Tem bastante coisas, palestras, você conhece pessoas, lugares, os tribunais, escritórios de advocacia, os grupos da faculdade, acaba tendo uma ideia do que é a faculdade. Mas uma noção real do que é a São Francisco eu estou tendo agora, nas primeiras semanas de aulas.
Quais são as matérias deste primeiro semestre?
Posso pegar a listinha? Teoria Geral do Direito Privado, Direito Romano, Teoria Geral do Estado, Direito Constitucional, Teoria Geral do Direito Penal, Economia Política e Introdução ao Estudo do Direito.
De qual você está gostando mais?
Economia Política.
E qual matéria você tem de estudar mais?
Economia Política. São quatro aulas por semana, duas dobradinhas, em cada aula são umas 40 páginas estudadas, você tem de reconstruir o texto. Toda semana tem chamada oral. Você pega texto do próprio professor para falar, explicar o que o professor quis dizer…
Você está em alguma atividade extracurricular?
Estou na atlética, no time de basquete. Tem treinos nas segundas e quartas-feiras, das 10 horas à meia-noite. E estou tentando entrar para o Departamento Jurídico. Há uma seleçãozinha para calouros. Também quero participar da Academia de Letras.
O que faz essa academia?
É para discutir literatura, fazer récitas de poesia, saraus, essas coisas.
Do que você mais gostou até agora na faculdade?
Das pessoas mesmo. Porque você está num ambienteem que as pessoas gostam das mesmas coisas que você. Um diferencial da São Francisco é que os professores querem dar aula, são todos ex-alunos de lá que querem que a faculdade vá para frente. Eles escutam os alunos, você consegue ter um diálogo legal e a aula sempre corre muito bem.
Você já tem alguma ideia da área que pretende seguir na carreira?
Eu estou começando a conhecer, mas acho que vou seguir a área de Direito Econômico e Financeiro.
Hoje você está satisfeito com sua escolha de carreira?
Eu estou muito contente na faculdade de Direito. A impressão que eu tenho do curso está ótima. É o que eu quero fazer mesmo.
Que dica você pode dar ao pessoal que está este ano no cursinho?
Uma coisa que eu fiz, que talvez dê certo, é prestar atenção nas aulas e escrever, porque assim você tem dois registros da mesma informação, o auditivo e o visual. Ajuda a gravar melhor e a reconstruir as aulas depois. Para mim, principalmente nas matérias de Humanas, reconstruir as aulas foi o que mais ajudou.
Em Exatas, principalmente Física e Matemática, fazer muito exercício, e também procurar exercícios de outros lugares, para ter uma ideia diferente. No fim do ano, eu e três amigos pegamos provas de Física do ITA e ficamos respondendo nos intervalos de aula.Uma vez ficamos dois dias tentando resolver um exercício. Aquilo ajudou, nem tanto pela matéria em si, mas pelo raciocínio e tal. Isso acaba ajudando nas outras matérias também.
Como ficou marcado para você o ano passado?
Foi um ano cansativo, de trabalho mesmo, de ter uma meta e querer alcançar essa meta, mas foi muitolegal. Fiz amigos que vão ficar para o resto da vida. E os professores marcaram, porque ter aula com quem quer ensinar é diferente.
O que você diria a quem não entrou e vai prestar de novo este ano?
Com esforço dá para passar. É tentar ver o que aconteceu, o que não deu certo, para tirar de lição. Quando eu estudava Música, sozinho em casa, eu estudava pouco, ficava vendo TV, e senti o resultado na pele. No cursinho, para entrar em Direito, eu percebi que se não mudasse, se não tivesse um método de estudo e seguisse esse método, ia ser muito difícil conseguir. É isso, ver os erros e consertar.
Há algum segredo para ser aprovado?
Segredo para passar? Estudar. Realmente, querer aprender, não ter preconceito com matéria. Se tem algum segredo, é esse.
Por: Curso Etapa
Fonte: Enem Virtual