Uma vila operária com arquitetura canadense encravada no sinuoso relevo da Serra do Mar; uma locomotiva a vapor, confiscada dos alemães durante a I Guerra Mundial para transportar banana; e a transformação de uma fábrica de tintas e corantes em uma das áreas de lazer que deve se tornar referência na Região Metropolitana da Baixada Santista. Essas são apenas algumas das atrações turísticas que Cubatão reserva a quem embarca no Roteiro Histórico, projeto que mensalmente resgata parte da trajetória da Cidade, revelando, em prédios centenários, a memória de seus primeiros moradores.
Neste domingo (28), em sua oitava edição, o Roteiro Histórico, projeto desenvolvido pela Prefeitura, levou um grupo de 25 pessoas para uma espécie de viagem no tempo. Em pouco mais de quatro horas, o grupo, formado em sua maioria por famílias residentes na Cidade, percorreu locais que estão interligados há pelo menos quatro séculos com a história do País.
Acompanhados pelos secretários de Cultura, Wellington Borges, e de Turismo, Luiz Carlos Costa, os visitantes conheceram inicialmente o prédio da Biblioteca Municipal, na Avenida Nove de Abril. O mestre em História, Francisco Torres, chefe da biblioteca, recepcionou o grupo e o acompanhou durante todo o percurso. “Não existem só as décadas de 1970 e 1980 na história de Cubatão, quando a cidade ficou conhecida em razão dos problemas ambientais. Este é apenas um recorte. Há muito mais a saber sobre nossa Cidade”, disse Torres.
O prédio da Biblioteca Municipal, por exemplo, foi construído em 1935 para abrigar o primeiro grupo escolar. Até então, as aulas ocorriam nas casas, com professores se deslocando de Santos ou de São Paulo. Já no início dos anos 1960, passou a ser ocupado pela Prefeitura Municipal; e na década de 1980, ganhou a função atual. “São prédios repletos de história, por onde passamos diariamente e não nos damos conta de sua importância”, disse Torres.
O grupo, em seguida, seguiu até a Igreja Matriz para contemplar a imagem de Nossa Senhora da Lapa, de 1743. A obra atualmente passa por processo de tombamento. Antes de cruzar a Avenida Nove de Abril rumo ao Largo de Aveiro, Torres comentou que este importante corredor comercial já foi conhecido como Aterrado. “Como disse o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, os rios faziam as vezes das estradas. Com o aumento do fluxo de mercadorias entre São Paulo e Baixada, foi preciso aterrar o manguezal para estabelecer uma ligação seca”.
Já no Largo de Aveiro, junto à Praça Portugal, Wellington Borges revelou que, em breve, Cubatão será declarada cidade-irmã de Campina Grande, Paraiba, em razão da grande quantidade de nordestinos que vivem na Cidade. “Será a nossa primeira cidade-irmã no Nordeste. Além de contarmos com muitos moradores daquela região do País, Cubatão agora tem um festival de cultura nordestina, com o Danado de Bom, o que nos liga ainda mais a Campina Grande”.
O grupo também visitou a Praça da Bíblia, de 1978. Em sua área central há escultura representando folhas de uma Bíblia em movimento e, ao seu redor, duas pedras com os 10 mandamentos gravados em português e hebraico.
O roteiro continuou no Parque Anilinas, onde, em 1916, foi instalada a Companhia Anilinas de Produtos Químicos do Brasil. Além de corantes e tintas, produzia sabão e outros produtos de limpeza. “Marcou o início da industrialização da Cidade. A segunda fase da industrialização só ocorreu em 1955, com a Refinaria Presidente Bernardes”, informou Torres.
A fábrica utilizava folhas colhidas no manguezal para extrair o tanino que seria utilizado na curtição do couro. Como era gerida por capital alemão, enfrentou sérias dificuldades durante a II Guerra Mundial, de 1939 a 1945. Já em 1960, mergulhou em declínio financeiro e foi à falência em 1966. Seis anos depois, a área foi adquirida pela Prefeitura e transformada em área de lazer. Das instalações originais sobrou apenas parte das casas construídas para os operários. Os galpões registrados em fotos antigas foram demolidos. Atualmente, o parque passa por reurbanização e ganhará teatro, cinema, teleférico e quadras esportivas. “Será uma referência na região”, destacou Wellington Borges.
No Anilinas também pôde ser apreciada a locomotiva a vapor confiscada no Porto de Santos durante a I Guerra Mundial. Ficou em operação nos trilhos instalados junto ao Rio Pilões para escoamento da produção de banana. Em 1976, a locomotiva foi doada para a Prefeitura. “Nossa intenção é restaurá-la e deixá-la em condições de voltar a funcionar a vapor, em um trilho de 50 metros de extensão, no próprio parque”, disse Borges.
Na sequência, o grupo esteve no Largo do Sapo, local que abrigou o Porto Geral de Cubatão, ponto de parada dos tropeiros e do embarque das cargas em barcaças para cruzar o Rio Cubatão, no século XVIII; e no Cruzeiro Quinhentista, um dos monumentos erguidos em 1922 para celebrar o centenário da independência na Estrada Velha.
O último ponto a ser visitado foi a Vila Light, uma das últimas vilas operárias ainda preservadas do País. Edificada para abrigar funcionários da antiga empresa Light, ainda hoje conta com moradores em parte de suas 200 unidades.
“A usina Light começou a ser construída em 1920 e foi inaugurada seis anos depois”, informou Torres. “A arquitetura das casas segue modelo canadense, da época. Não possuem muros e a garagem coberta fica em área separada, no que seria o quintal da casa”. Atualmente o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural luta para que a vila seja tombada.
Para participar do Roteiro Histórico, basta agendar por telefone. Não há cobrança de taxas ou ingressos. Em breve a Secretaria de Turismo divulgará data, horário e telefone para os interessados em garantir vaga na próxima saída, em setembro.
Fonte: Prefeitura de Cubatão