Quinta, 16 Janeiro 2025

O presidente da Vale, Murilo Ferreira, desde que assumiu o comando da companhia há três meses, tem dedicado a maior parte do seu tempo a resolver pendências importantes na agenda da mineradora, no Brasil e no exterior. Ferreira vem promovendo distensão e tem compartilhado negócios que não evoluiram na gestão de seu antecessor. Por exemplo, com o empresário Eike Batista, controlador da EBX, que tentou adquirir uma fatia da Vale em 2007. Recebeu o prefeito de Parauapebas (PA), Darci José Lermen (PT), que acusou a empresa de não pagar royalties do minério de ferro às prefeituras e decretou a caducidade da província mineral de ferro de Carajás.

No momento, Ferreira trabalha para solucionar o impasse entre Vale e Petrobras. Trata-se da negociação com a estatal para renovar o contrato de arrendamento da jazida de carnalita, minério do qual se extrai o cloreto de potássio, localizada em Sergipe. As conversas entre as duas empresas, retomadas em julho, num encontro com a presidente Dilma, podem terminar em acordo na próxima semana, apurou o Valor. Essa jazida é crucial para a Vale viabilizar um megaprojeto de produção de fertilizantes no Nordeste, avaliado em US$ 4 bilhões.

Para mostrar que não tem nenhuma restrição a fazer negócios com Eike Batista, Ferreira recebeu o empresário e seu pai, Eliezer Batista, ex-presidente da Vale - do qual é muito amigo - para almoçar com ele na sede da companhia, quarta-feira. O motivo do encontro foi comemorar a parceria firmada entre LLX Logística, da EBX, e a Ferrovia Centro Atlântica (FCA), da Vale, para viabilizar o transporte de minério de ferro até o superporto do Açú. LLX e FCA assinaram um memorando de entendimentos nesse dia.

Antes de Batista, Lermen, prefeito de Parauapebas, já tinha sido recebido no gabinete de Ferreira. O prefeito, que manteve uma queda de braço com o ex-presidente da Vale Roger Agnelli por causa do decreto de caducidade de Carajás, estava acompanhado da ex-governadora do Pará Júlia Canepa e deputados. Ferreira recebeu o prefeito, segundo amigos próximos, em nome de uma política de distensão na mineradora.

Como parte desse modelo de gestão, o presidente da Vale instituiu reuniões mensais com os funcionários para "degelar" o relacionamento. Já ocorreram três.

Também estão na pauta de Ferreira as disputas com o governo pelo pagamento de tributos envolvendo a Receita Federal e o Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM). No fim de julho, a Vale pagou R$ 5,8 bilhões à Receita Federal relativos a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), ganhos oriundos de receita de exportação que vinham sendo questionados na Justiça.

A decisão de quitar o tributo foi tomada porque a Vale perdeu liminar no Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região e se viu frente a duas alternativas: ou pagar ou depositar em juízo. Se optasse pelo depósito judicial, corria o risco de ter de pagar multa de 75% sobre o valor devido e juros, caso perdesse a ação, que continua na Justiça.

Outra querela jurídica herdada por Ferreira tem preocupado o presidente. O DNPM cobra da Vale cerca de R$ 4 bilhões de pagamento de royalties do minério de ferro devidos a municípios, Estados e União. A empresa, quando cobrada, não concordou com o pagamento desse valor. A queda de braço com o DNPM foi mais uma gota d’água na desgastada relação de Agnelli com o governo.

Ferreira tem buscado se entender com o DNPM via o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Ele propôs retornar ao tema em uma "discussão técnica". O DNPM acatou a proposta e constituiu um Grupo de Trabalho (GT) com especialistas em royalties e a Procuradoria Federal. A Vale formou uma equipe para avaliar pendências. Até início de novembro, o assunto pode ter uma solução.

Fora do Brasil, o executivo busca entendimentos com diversos parceiros. Recebeu carta de Leo Gerard, presidente do United Steel Workers (USW) da América do Norte, sindicato dos funcionários da Vale no Canadá. Ele pretende se encontrar com Gerard na próxima ida ao país, pois a greve de um ano deteriorou muito a relação com os empregados.

Com 90 dias no cargo, Murilo tem viajado muito. Na Guiné Bissau, onde a Vale desenvolve dois projetos gigantes de minério de ferro - Zogota e Simandou -, encontrou-se com Condé, presidente eleito do país. Na ocasião, reviram o acordo anterior. Condé quer que a Vale faça uma ferrovia para escoar minério pela Guiné e não atravessando a Libéria, como foi acertado antes.

Outro nó praticamente resolvido é o do projeto de potássio do Rio Colorado, na Argentina. Em junho, as autoridades de Mendoza, acusaram a Vale de não cumprir acordo de empregar pessoal local e priorizar os fornecedores da região. A Vale escalou o engenheiro Sergio Leite para tocar o projeto.


Fonte: Valor Econômico

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