Segunda, 03 Fevereiro 2025

A prisão de um paulista e uma pernambucana pela Polícia Civil, na Zona Sul de Natal, no dia 21, revelou uma nova forma de atuação dos clonadores de contas bancárias e cartões de crédito. A estudante Rafaella Daphine, 22 anos, foi flagrada com dois cartões clonados, mas ao invés de ter de assinar o canhoto autorizando a compra, ela possuía a senha da conta bancária da vítima, “pagando” pelos produtos adquiridos à vista. O delegado que cuida do caso, Everaldo Fonseca, disse que os registros de cartões clonados são diários na Especializada de Falsificações e Defraudações, mas a forma utilizada pela acusada é sofisticada e inédita.

Os dois cartões apreendidos com a estudante são dos bancos Itaú e Caixa. O delegado explicou que ambos estão vencidos há anos, mas estão com as tarjas magnéticas funcionando, gravadas com os dados de uma conta bancária de uma vítima ainda não identificada. A acusada disse que os cartões clonados foram “emprestados” pelo paulista Custódio Domingos Rocha, 25 anos, para ela fazer compras no comércio local.

Foi numa dessas compras que a polícia descobriu o esquema. Na noite do dia 21, terça-feira, um agente da Delegacia Especializada de Atendimento ao Turista, que funciona no Praia Shopping, estava numa loja e viu quando Rafaella Daphine tentou comprar um produto com o cartão de terceiro. Ela disse que o cartão era do namorado e que tinha a senha. A venda de R$ 236,45 foi recusada pela funcionária da loja e isso despertou a atenção do policial.

A estudante foi observada de longe e entrou em outra loja. A compra de R$ 300,00 também foi recusada. Depois, mais uma loja foi visita pela suspeita e, desta vez, a compra de R$ 83,10 foi aceita. Na quarta loja, outra compra recusada. O agente, agora com reforço, abordou Rafaella Daphine por suspeitar que ela ia “dar um estouro no comércio” e pediu para ver o cartão. Foi aí que ele percebeu que o cartão do Itaú estava vencido desde 2001. A jovem foi levada à DP e contou que no dia 19, comprou R$ 500,00 com o mesmo cartão. Ela também delatou que foi o namorado, Custódio Domingos, quem lhe deu os cartões.

A polícia montou campana para localizar o suspeito e, horas mais tarde, fez a prisão. Ele tem passagem em SP por tráfico, estelionato, formação de quadrilha e apropriação indébita. Em depoimento ao delegado Everaldo Fonseca, o paulista disse que recebeu os cartões no dia 18 de um rapaz conhecido por “Alexandre”. Foi com um dos cartões apreendidos que o paulista comprou um celular no valor de R$ 1.450,00. O que chama a atenção no caso é que alguns comerciantes venderam seus produtos a pessoas que não são as titulares dos cartões.

Mas o que alertou a polícia foi o fato de os cartões apreendidos serem usados para compras com débito em conta. Até agora, a polícia só conhecia clonagem para compras à prazo. “Foi uma surpresa, porque o esquema é sofisticado”, disse o delegado. Acredita-se que o esquema funcionava juntando dois tipos de crimes desbaratados esta semana pela PF na Operação Colossus, unindo o roubo de senhas pela internet e a clonagem de cartões.

Custódio foi autuado por estelionato e falsidade ideológica. Rafaella responderá a inquérito por estelionato, crime que prevê pena de um a cinco anos de reclusão.

Fraudador tinha máquina de clonar 

“Alexandre”, identificado pelo preso Custódio Domingos, teria saído do Rio Grande do Norte na terça-feira com todo o material necessário para a clonagem de cartões. Pelo menos foi isso que o paulista explicou ao delegado Everaldo Fonseca.

Os equipamentos para clonagem são construídos por pessoas com conhecimento em eletrônica. Essas pessoas compram partes dos componentes no mercado formal e fabricam os “chupa cabras” ou “ratos” - pequenos dispositivos usados para ler os dados - ou trilhas - das tarjas magnéticas dos cartões.

Outra parte das máquinas usadas pelos falsários é importada para a confecção de crachás, mas acaba utilizada para “fabricar” os cartões bancários clonados.

Cliente normalmente não arca com prejuízo

A TRIBUNA DO NORTE conversou com uma mulher que teve o cartão de crédito clonado. Ela aceitou falar na condição de seu nome e o da administradora do cartão não serem revelados.

Segundo a mulher, o cartão de crédito que foi clonado é, na verdade, de um dependente seu. De acordo com ela, a pessoa que aplicou o golpe fez várias compras em diversos estabelecimentos, deixando um “rombo” de R$ 14 mil.

“Nós descobrimos a clonagem na sexta-feira passada (17). Houve problema na hora de passar o cartão”, contou a mulher. Na hora em que ela e o dependente souberam o débito - de R$ 14 mil - foi um susto. “Ele não fez nenhuma das contas. O cartão só podia ter sido clonado. Como, ninguém sabe, pois ele (o dependente) falou que mantinha o cartão sempre na carteira”. 

A mulher procurou a administradora do cartão de crédito e foi orientada a registrar, por meio de carta, o que havia ocorrido. Ela contou que fez os procedimentos que lhe indicaram e agora está aguardando um retorno da administradora para resolver o problema.

Normalmente, quem tem o cartão clonado é ressarcido pelas administradoras de cartão ou instituições financeiras. Alguns desses casos são ressarcidos mediante a condição de a vítima não processar a administradora do cartão ou de não registrar o caso à polícia. Apesar de parte das vítimas não procurar a polícia, os casos de clonagem de cartões são diários na Grande Natal.

Preso mais um suspeito em Natal

A Polícia Federal prendeu ontem Jeferson Roberto da Silva, funcionário de uma lanchonete em Natal, sob suspeita  de integrar a quadrilha de crackers e clonadores de cartões desbaratada na última terça-feira durante a  Operação Colossus. Ele tem mandado de prisão decretado pela 2ª Vara Federal porque, segundo a PF, copiava dados  dos cartões dos clientes da lanchonete. Com a prisão dele, cai para cinco o número de procurados por  envolvimento na organização criminosa.

Segundo a PF, ainda são procuradas cinco pessoas. Todas têm mandado de prisão decretado. Ao todo, 23 pessoas  foram presas e um adolescente apreendido na maior ação contra o crime cibernético no RN.  

Ontem, chegaram do Rio de Janeiro os equipamentos usados pelos criminosos para a clonagem de cartões. Foram  apreendidas quatro máquinas de leitura de cartão, uma máquina leitora magnética e aproximadamente três mil  cartões em branco prontos para serem clonados.

O material estava com Sheyla Annibal Simiões, presa naquele  Estado. Ela, a exemplo de outros acusados, já foi transferida para a sede da PF do RN. No RJ, os falsários  recebiam dos bandidos do RN as informações da tarja magnética dos cartões das vítimas. Lá, os cartões clonados  eram confeccionados e depois enviados para o RN através dos Correios.  

Fonte: Tribuna do Norte - 24 AGO 2007

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