Iniciado o ano de 2017 e Michel Temer ainda não fez o grande discurso para a Nação. Nada melhor do que um grande empreendimento para reverter a sua popularidade despencando, enquanto a sociedade acha que seu governo é um pino quadrado em buraco redondo, reflexo do polêmico processo de impeachment, e, sem rumo, não legitima a liderança do presidente.
Seus próprios gestos à frente do poder transmitem insegurança. É que sugerem fatos inusitados e sem motivo na liturgia do poder, como o presidente continuar a habitar na residência oficial do vice e a foto da ex-presidente Dilma permanecer pendurada em parede de algumas empresas estatais, porque o presidente ainda não tem sua foto oficial.
Pela Internet, a análise crítica da peça publicitária de fim de ano do governo Temer, em página inteira nos principais jornais nacionais, na qual se reduziu seus 232 dias à frente da presidência a 120 dias a partir da posse efetiva, agrega impressão negativa a um governo que fez trocas constrangedoras de seis ministros nesse período. Na lista de ações, a debilidade de “algumas medidas corajosas que se já tornaram realidade”, faz a imagem do governo ficar tão artificial como as coisas que tentou explicar.
Metaforicamente, o balanço desses primeiros passos em 2016 poderia ser interpretado, em uma única frase, como “a ponte que virou pinguela”. No entanto, não é verdade que “é o que se tem no momento”, quando falamos do presidente da República, cuja economia é uma das dez maiores do mundo e potência em muitas áreas, com universidades brasileiras competentes e seu povo trabalhador.
O paradoxo entre a crise que persiste desde junho de 2013 e as soluções políticas fabricadas para enfrentá-la, sob o comando de um presidente da Câmara de Deputados hoje presidiário, tem dificultado a construção da desejada e necessária ponte para o futuro do Brasil. Em vez de remendos eleitorais convenientes e manchão para apoiar tacadas rentistas, o enfrentamento dessa hostilidade popular convém ser feito com nobres atos que dêem maior transparência, facilite a comunicação com o governo, promova relacionamento menos autoritário, dificulte a corrupção e reduza os custos das campanhas eleitorais.
A partir de hoje, a eventual substituição do presidente Michael Temer se dará por eleição indireta, para a qual não há ainda regulamento. Parlamentarismo não é uma panaceia, mas é o mais antigo sistema democrático do mundo e adotado pela maioria dos países desenvolvidos. Por ser mais flexível que o presidencialismo e possibilitar decisões mais ágeis, o parlamentarismo permite que a conjuntura de tempestade nacional consiga se recuperar com relativa agilidade, conforme já adotado em duas situações similares brasileiras.
Michel Temer tem pouco menos de dois anos para concluir sua biografia de presidente, caso não consiga se reeleger. Para que seus procedimentos sejam condizentes com a circunstância, empregar a sua extraordinária habilidade política para implantar o Parlamentarismo, poderá, assim, perpetuar na história a obra política da sua proclamada e premente Ponte para o Futuro.