A pergunta é do presidente da Fiorde Logística Internacional, Milton Lourenço. Segundo ele, quem vive o dia a dia do comércio exterior sabe que, depois de 35 anos de êxitos econômicos, a China deparou-se em 2009 com uma recessão mundial e teve de abandonar a antiga política de exportar maciçamente produtos de baixa qualidade, substituindo-a por outra de alto valor agregado com base em tecnologia de ponta. "Como isso exige cérebros mais desenvolvidos, o governo chinês tem investido muito em educação para formar grandes contingentes de mão-de-obra especializada." E prossegue: "Ao mesmo tempo, o novo modelo chinês prevê o crescimento de seu mercado interno, com a formação de uma classe média capaz de absorver grande parte de sua produção industrial."
Lourenço analisa que ainda que não haja um feroz antagonismo entre EUA e China, sabe-se que a política externa de cada um desses mega-países exclui o outro. "Tanto que a China não faz parte do recente Tratado Transpacífico (TTP) e, em contrapartida, lançou em 2014, dentro do âmbito do foro Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac)-China, uma iniciativa destinada a se tornar um tratado que exclui explicitamente EUA e Canadá e prevê pesadas inversões na região."
E conclama:
"Portanto, é fundamental que os atuais responsáveis pela política externa brasileira saibam ler com atenção as tendências globais. Já não se está à época do alinhamento automático, o que equivale a dizer que o Brasil não só deve procurar aderir ao TTP, apesar do grande obstáculo que é a baixa competitividade de sua economia, como lutar por um acordo Mercosul-UE e igualmente estar aberto para um relacionamento comercial intenso com a China, adotando uma política extremamente pragmática, que preveja o mútuo benefício. Afinal, há muito que se sabe que um país não tem amigos, mas apenas interesses."