O transporte de carga e de passageiros no Brasil encontra-se em um momento primordial que irá definir como ficará a mobilidade da população em um futuro próximo. A falta de planejamento do setor fez com que o País concentrasse mais de 60% de suas cargas nas rodovias e que as pessoas optassem pelo transporte individual, em detrimento aos combalidos meios coletivos. Nesse cenário, os portos são extremamente afetados.
Como eliminar com as “intermináveis” filas de espera para descarregar nos portos, como as observadas em Paranaguá (PR), onde caminhoneiros passam dias aguardando com as mãos atadas? Como estão estruturadas as empresas de transporte para enfrentar as exigências dos embarcadores? Pensar em soluções para essas perguntas causa até desolamento quando registramos alguns dados recentes do segmento de transportes.
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Segundo a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), o Brasil abrigava, em 1950, 31,4 veículos por habitante. No último levantamento realizado, em 2002, já se registrava dois veículos por pessoa. A projeção para 2010 é de 1,6 automotor para cada morador em território nacional. A falta de estacionamentos integrados com os outros modais de transporte – no caso da carga – e com o transporte público de grande capacidade, como o metrô – no caso dos passageiros -, causa cenas vistas como na Avenida dos Bandeirantes, em São Paulo: tráfego lento e ineficiente, gerando perdas exorbitantes para todos os envolvidos.
A péssima conservação das rodovias e grandes avenidas também prejudicam o bom andamento do trânsito, além de ter participação direta na falta de segurança para se aventurar no asfalto País afora. Mais de 100 pessoas morrem por dia no trânsito e mais de 170 mil ficam inválidas anualmente, gerando um altíssimo custo social e previdenciário. Nem é possível calcular, então, o sofrimento das centenas de milhares de famílias das vítimas...
O setor energético também é prejudicado com a concentração do uso de automóveis e caminhões no Brasil. Um único automóvel, que comporta, no máximo, cinco pessoas, gasta até 25 vezes mais energia do que um vagão de metrô. Panorama similar acontece ao se comparar caminhões com trens de grande capacidade ou com barcaças marítimas.
A precariedade da frota de veículos também preocupa – e se não há quem se preocupe, deveria se preocupar. Caminhões e veículos antigos, sem a devida manutenção, deixam para trás grandes quantidades de óleo e de “fumaça preta”, extremamente prejudiciais ao meio ambiente. Se cada um dos seis milhões de veículos que circulam no País jogar, em média, três ml de lubrificante ou combustível no solo, são 18 mil litros diários de substâncias altamente contaminantes atiradas no meio ambiente. Isso equivale a um caminhão-tanque por dia jorrado nos centros urbanos e rurais.
Como é possível notar, mudanças na matriz de transportes se fazem imprescindíveis. Caso contrário, não será apenas o meio portuário que terá que acarretar com perdas irreversíveis. A saúde, a segurança e o direto de ir e vir de toda a população está em jogo. Consciente da importância do tema, PortoGente abre este espaço para os “jogadores” formularem propostas buscando nichos de soluções para os entraves apresentados.
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