Foram quase duas horas de reunião, mas os diretores da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) não conseguiram explicar os motivos das seis demissões sem justa causa, ocorridas nos últimos dias, na empresa.
A reunião foi realizada na manhã desta sexta-feira (8), na sede da estatal, entre dirigentes sindicais e os diretores Alencar Costa (Administração e Finanças), Paulino Moreira da Silva Vicente (Infra-estrutura e Serviços) e Carlos Helmut Kopittke (Comercial e de Desenvolvimento). O presidente da empresa, José Di Bella Filho, estava em Brasília. Os ânimos estiveram exaltados durante todo o encontro.
Sindicalistas e autoridades políticas mostraram muita revolta com as demissões “sem justa causa” dos funcionários de carreira da estatal. O grupo quer a readmissão de todos os atingidos. A ameaça de greve continua, avisaram os sindicalistas.
A justificativa do diretor de Administração e Finanças da Codesp, Alencar Costa, para as demissões, não agradou o presidente da Delegacia Regional da Baixada Santista do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), Newton Güenaga Filho. “Não existe um modelo de reestruturação para dizer que eles (os demitidos) não têm o perfil da empresa. Na reunião, acusaram os que saíram de não trabalhar. Então, rebati dizendo que estavam chamando os trabalhadores de vagabundos e o diretor (Alencar) desconversou e disse que não era bem assim...”.
Güenaga representa uma categoria que teve dois trabalhadores sumariamente demitidos, às vésperas do Carnaval. Ele entende que a diretoria da estatal está atacando os sindicatos minoritários e usando o Porto de Santos como balão de ensaio para estender a prática das demissões aos demais portos do País.
Alencar Costa foi desmentido prontamente pelo representante dos trabalhadores no Conselho de Administração (Consad) da Codesp, João de Andrade Marques, quando disse que as demissões foram discutidas no órgão. O fato indignou os presentes. “O diretor da Codesp nunca poderia usar uma defesa inverídica para justificar essas demissões. E foi o que ele tentou fazer várias vezes nessa reunião”, desabafou um dos presentes.
Para a ex-deputada e líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na região, Telma de Souza, que também esteve presente ao encontro, o “bolo” da insatisfação está crescendo na Codesp. “Antes que o bolo cresça, seria conveniente que a diretoria revisse sua posição diante das demissões”. Ela cobra dos diretores indicados pelo governo federal, que não tem ligação com a cidade de Santos, mais sensibilidade com o porto local e com os problemas constatados.
Convidada pelo presidente do Sindicato da Administração Portuária (Sindaport), Everandy Cirino, Telma quer ver transparência e um plano de otimização para a modernização da Companhia. “Não dá para fazer uma seleção sem que as pessoas saibam os critérios”. Para a ex-prefeita de Santos, os diretores aparentam estar perdidos, achando administrar uma empresa privada e deu seu recado ao ministro dos Portos Pedro Brito de que não é possível contemporizar com o atual cenário.
A também ex-deputada federal e agora candidata oficial ao executivo santista pelo PSB, Mariângela Duarte, não se intimidou e fez críticas às demissões, indicando que o patrimônio humano é a maior riqueza de qualquer empresa, seja ela pública ou privada. Ela garante que não se sente tolhida pelo partido devido à sua posição.
A iniciativa da reunião agradou o vereador Benedito Furtado. Para ele, ficou claro, pelo que falaram, “de que não haverá mais demissões. Isso ficou claro para mim”.
Apoios
O deputado federal (PDT-SP) e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, ficou indignado ao saber o que está acontecendo na Codesp. Ele disse que não medirá esforços para cancelar as demissões. “Vou levar pessoalmente ao deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) o que está acontecendo e mostrar, também, a minha indignação”.
A deputada estadual do PT, Maria Lúcia Prandi, fez questão de entrar em com a reportagem do PortoGente para explicar que não pôde participar do encontro desta sexta-feira, mas que estava solidária com os portuários de Santos. Ela vê nessas demissões a criação de um “clima de terrorismo que prejudica os trabalhadores. É um quadro perigoso que pode ser ampliado com novas demissões”.
Prandi disse que falaria sobre o assunto na posse do Diretório Nacional do PT, em Brasília, na noite desta sexta-feira (8).
O primeiro suplente de deputado estadual do PT, Fausto Figueira, disse que é preciso que a atual “diretoria aja com critério claro e transparente, discutindo com os trabalhadores o processo de reestruturação da Codesp. Demissões de funcionários antigos da Codesp têm de ter critérios absolutamente claros para que os empregados possam entender ou não essas demissões. Fazê-las como algo descolado do projeto de reestuturação me parece algo temeroso e sem transparência”.
“Estou indignado”, diz o presidente do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro, Sérgio Giannetto. Ele disse ao PortoGente que está solidário aos trabalhadores de Santos e preparado para reverter este quadro. Giannetto teme que demissões arbitrárias, como estas na Codesp, tornem-se comuns no restante do País.
A reportagem do PortoGente recebeu às 21h15 desta sexta-feira (8), mais uma manifestação de apoio aos portuários de Santos, é a do deputado estadual Paulo Alexande Barbosa (PSDB-SP): "As demissões de funcionários de carreira da Codesp, com mais de 20 anos dedicados à empresa, só confirmam o absoluto descaso da diretoria da estatal com o Porto de Santos. O ato, praticado durante os festejos de Carnaval, é uma afronta a todos os trabalhadores que ajudaram a escrever a história do porto. A indignação não deve ficar apenas nas palavras. Como deputado, solicitarei ao governador José Serra que interfira nessa questão, valendo-se de sua autoridade e liderança política do Estado para a imediata readmissão de todos os funcionários dispensados arbitrariamente por pessoas sem qualquer compromisso com a Baixada e o Porto. Dignidade Já!"