Quarta, 19 Novembro 2025

Editorial | Coluna Dia a Dia

Fazendo quase um contraponto às questões tarifárias com os EUA e às observações dos exportadores pós-redução no tarifaço imposto aos consumidores norte-americanos, sai na Imprensa nestes dias a notícia de que este País não está conseguindo embarcar o produto e sofrendo por problemas nos portos nacionais. Isso, mesmo com safra neste ano menor que a esperada e declaradas impossibilidades de escoamento para as terras do Tio Sam.

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Causa verdadeiro espanto que um dos princpais produtos nacionais de exportação, em valor, que vem impulsionando o setor portuário nacional há dois séculos (influiu decisivamente na própria construção do porto de Santos, no final do Império) e acumula um histórico de crescimento quase contínuo desde então, esteja sendo de certa forma ‘esquecido’ por autoridades do setor.

A situação chegou ao ponto de o porto do Rio de Janeiro registrar esperas de até 63 dias para embarques (alguém deve uma ótima explicação para isso!), com 57% dos navios programados sofrendo alteração de escalas. Com equipamentos modernos (portêineres, carretas, trens, contêineres, navios), voltamos às velocidades do século XIX, quando estivadores enfileirados nas pranchas carregavam sacas de café nas costas até os porões dos navios.

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Os números citados continuam: em Santos, a demora para embarque (período de janeiro a setembro) foi de 35 dias, mas o impacto foi maior (75% de atrasos ou alterações de escala). Sem greve. Sem tsunamis da Natureza, só os terremotos comuns da política e os maremotos da economia.

Literalmente “encalhado nos portos”, conforme expresso na matéria, o café nacional destinado à exportação sofreu com isso um prejuízo, medido em reais pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), que “equivale a cerca de R$ 1,869 bilhão” (ou US$ 348,29 milhões). Só em setembro, um mês após os EUA fecharem as portas ao café nacional, “938 mil sacas não foram embarcadas, o que equivale a 2.848 contêineres. Os prejuízos só com a armazenagem extra por conta do esgotamento da estrutura portuária chegam a R$ 9 milhões”.

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Importante ressaltar que a situação foi reportada para a movimentação do café, mas entidades dos exportadores de açúcar e carne têm queixas semelhantes. E também que as reclamações não são endereçadas apenas aos portos, mas à situação de toda a cadeia logística desses produtos.

Pode-se dizer que é mais uma conta a ser colocada no enorme pacote do chamado “Custo Brasil”, suportado por um país que “em se plantando, tudo dá”, mas que não consegue se planejar ao longo de mais de um século para garantir ao menos que suas principais mercadorias vendidas cheguem ao local onde estão os compradores. Que existam ao longo do caminho instalações e meios de transporte que acompanhem a evolução do mercado e garantam as condições de escoamento da produção.

Note-se que chegamos ao ponto de tal situação ser registrada não no momento máximo das safras e das exportações de café, pelo contrário: ocorre num momento em que os empresários reclamam da depressão no mercado resultante do absurdo tarifaço imposto em 10 de agosto a produtos brasileiros adquiridos pelos cidadãos dos EUA. Que caiu agora de 50% para 40%, mas continua (segundo os exportadores) inviabilizando as vendas. Imaginem se Trump não existisse: em quem seria posta a culpa?

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Afinal, o Brasil redirecionou parte considerável dessas exportações para outros mercados, particularmente no caso do café, como reconhecem os exportadores, e teoricamente também a redução na safra cafeeira deste ano ajudou a evitar excessos de estocagem, como eles mesmos alegam.

Se não houve supersafra (a que está começando a chegar aos portos deve ser maior) e as vendas ao Exterior diminuíram por culpa do Trump, então como o produto conseguiu ficar encalhado nos portos, com os exportadores culpando pelos prejuízos principalmente falhas no movimento portuário e no transporte marítimo? Ou não é bem assim...?

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Uma pista, talvez: esses dados foram usados pelo setor cafeeiro para embasar críticas às idas e vindas nas especificações (e datas) do leilão do Tecon Santos-10. Que tendem a tornar indefinidas as previsões de quando ele se tornará operacional.

Bem, o problema está posto na mesa dos debates. Como diria um conhecido caboclo: “Êta cafezinho bom!”

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“Alguém precisa de uma ajudinha aí para embarcar o café?”
Imagem: cartão postal de Santos, da M. Pontes & Cia/Bazar de Paris, em 1906
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*O Dia a Dia é a opinião do Portogente

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