Sábado, 19 Julho 2025

Editorial | Coluna Dia a Dia

Ele disfarça, arrota umas taxas aqui, um decreto para o mundo cumprir ali, mas lá no íntimo ele sabe: os Estados Unidos perderam a mão, o leão está ficando sem dentes, não assusta como antes. Ainda tem a força... mas as garras estão cortadas, a visão fraca não lhe permite mais reconhecer os amigos… basta manter distância prudente e seguir em frente. O mundo está fazendo isso, e Trump teme o resultado. Que ele mesmo impulsionou, aliás.

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E de quê Trump tem medo? A pista está em suas atitudes. Ele ameaça quem cogita legitimamente a criação de um substituto para o dólar, em transações que não envolvem os EUA. Trump sabe que não é fácil, poderia apenas rir da ideia. Mas não, solta ameaça atrás de ameaça, com taxas que – fica só entre nós este segredo – serão pagas pelos próprios consumidores estadunidenses, seus eleitores ou não.

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Há 25 anos, certo Hussein teve ideia parecida, mas precisou fugir do palácio, foi perseguido e morto, em meio à invasão do Iraque pelos EUA, sob o falso pretexto de haver um estoque secreto de armas proibidas debaixo de uma ponte… que nunca apareceram, sendo tudo desmentido pelos próprios EUA.

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O detalhe agora é que os ameaçados são os próprios construtores de um mundo novo – e este é o verdadeiro temor de Trump. Ele se excluiu desse futuro, que por isso quer demolir antes que cresça. O substituto do dólar? Só uma desculpa, como a das falsas armas.

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O dirigente norte-americano ameaçou sobretaxar até quem expressasse apoio à desdolarização, “sem exceção”, tentando cortar essa ideia pela raiz. Agora, tem de cumprir a ameaça (ou ficar ainda mais desmoralizado pelas bravatas), “punindo” 30% da economia mundial, incluindo fornecedores de petróleo, de terras raras e outros produtos de interesse estratégico. Resultado? Surpresa!! (Aguardem os próximos capítulos).

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E a novela vai ficando interessante. Notícia destes dias: a montadora BYD encerrou suas importações para 2025, estoque garantido antes da vigência das taxas. E assumiu instalações da Ford em Camaçari/BA. Como outros notaram: saiu uma produtora estadunidense de veículos movidos a combustíveis fósseis, entrou uma chinesa produtora de carros elétricos… No universo Disney, a MAGA Patalógica está orgulhosa do pato Donald…

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Se todos fizeram como a BYD, talvez não vejamos muitos navios em certas rotas até 2026, por falta do que transportar. A estagnação desses tráfegos pode ser acompanhada por uma recessão nos EUA, pela paralisação dos negócios e das linhas de produção, com comércio exterior inviável.

Some-se a isso: queda contínua no poder do dólar, novos impostos internos, elevação brutal na dívida pública, redução de serviços essenciais para o país funcionar, surgimento dos muambeiros ianques, desemprego e falta de imigrantes para trabalhos mais pesados… Trumpestade perfeita, como eles já dizem.

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Vem agora o mais surreal: não é só uma BYD. Os chineses assinaram dia 7/7 um acordo com o Brasil para costurar o trecho bioceânico da Nova Rota da Seda, ligando por ferrovia o super-porto sino-peruano de Chankay com Ilhéus/BA. Se tudo for resolvido nas negociações, a grande ferrovia logo estará pronta, ao ritmo chinês padrão de 14 km/dia…

A China pensa grande: no capítulo seguinte, pode acontecer a ligação com Santos. A questão é que talvez os santistas estejam dormindo no porto (era “ponto” na citação original, sabemos, mas vale a licença poética…). A ligação entre o Pacífico e Santos, que originalmente seria direta, poderá ser com escala na Bahia, pelo menos num primeiro momento. Humm...

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Vamos analisar isso melhor mais adiante. Inclusive porque Rota da Seda, o nome diz, é algo de maior interesse para a China, em sua geopolítica mundial. Precisamos colocar as nossas cláusulas, conforme os interesses de nossa indústria (nem um pouquinho do material rodante fabricado aqui?), nosso comércio (qual a nossa participação nas cargas transportadas?), nossos portos e até a nossa população (quantos empregos vai gerar no Brasil?). Nada que não possa ser resolvido para satisfação de todas as partes, basta um pouco de boa vontade.

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E onde entram os EUA em tudo isso? Pagando ingresso no cinema, como meros espectadores do avanço de uma nova Economia de que se autoexcluíram. Ficarão à margem da História, resmungando isolados no mundinho de que se consideram soberanos. O mundo vai mostrando como formar parcerias mais proveitosas com outros atores, que respeitem acordos de amizade e tratados internacionais de comércio e defesa.

Agora, enquanto o mundo se entende (ou não) com o presidente norte-americano e o Brasil com os chineses, a Bahia coloca Ilhéus na linha do trem interoceânico e Santos fica discutindo sem fim se faz ou não porto em águas profundas, o que faz (ou não) com os acessos terrestres congestionados, quem toma conta do quê… Tem conversa aí para mais de metro!

Design sem nome 2Um recado claro, de mãos dadas. Alguma dúvida?
Foto: Rafa Neddermeyer/Brics Brasil
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*O Dia a Dia é a opinião do Portogente

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