Há lideranças que se impõem por decretos, que operam à distância do real, como se a essência de uma empresa pudesse ser traduzida em métricas e relatórios. Decidem de cima, movem peças de longe, acreditando que o todo pode ser moldado sem conhecer as partes.
O problema não está na autoridade, mas na alienação. Quando o olhar não alcança o cotidiano da operação, o gesto do comando se torna impreciso, e o risco de desmanchar o que sustenta a estrutura é iminente.
Em muitas organizações, o que gera valor não está à vista. Está no saber de quem executa, na experiência acumulada de quem opera, no zelo silencioso de quem mantém o fluxo quando os olhos do topo já se fecharam.
É comum ver decisões radicais tomadas por quem jamais pisou no "chão da fábrica". Cortes, reestruturações, demissões. Tudo baseado em planilhas que não revelam o que, de fato, mantém viva a reputação, o desempenho e a identidade de uma instituição.
Liderar exige proximidade. Exige escuta ativa, observação sem filtros, disposição para compreender além da superfície e inteligência para reconhecer que o essencial, muitas vezes, não se mostra nos números. É preciso saber o que se rompe quando uma decisão é tomada, o que se perde quando uma função é extinta, o que se apaga quando a cultura local é desconsiderada.
O "chão da fábrica" é mais do que uma simples expressão ou um espaço físico. É onde mora o sentido, o esforço real, o valor construído dia após dia. Desconhecê-lo é liderar às cegas. É manobrar uma embarcação sem bússola, apostando que a direção certa virá da própria convicção.
O verdadeiro líder não comanda de longe. Ele se aproxima, aprende, sente. Reconhece que a estrutura só se sustenta porque há base sólida, feita por mãos, por histórias, por rotinas que ninguém vê, mas todos sentem quando desaparecem.
Conhecer esse chão não é um detalhe. É o próprio exercício da liderança em sua forma mais lúcida.
Maithe Morotti
Administradora especialista em Liderança Estratégica, com ênfase em Logística, Comércio Exterior e Processos Gerenciais