Quarta, 06 Agosto 2025

 

Opinião | André Charone
Contador, mestre em Negócios Internacionais e professor universitário.

Trump tarifa Brasil

Trump impõe tarifa de 50% ao Brasil: Especialista revela o que está em jogo na guerra comercial entre EUA e Brasil

Em um movimento que reacende tensões comerciais e políticas no cenário global, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na última terça-feira (9) a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA, com vigência a partir de 1º de agosto de 2025.

O argumento apresentado por Trump é de natureza política: segundo ele, a medida seria uma resposta à suposta perseguição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil, referindo-se ao julgamento como uma "caça às bruxas". Apesar da motivação declarada, os efeitos concretos recaem sobre a economia e o comércio exterior brasileiro, que agora enfrentam um novo obstáculo no relacionamento com um de seus principais parceiros comerciais.

"Essa tarifa reduz drasticamente a competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano, ao mesmo tempo em que favorece países que possuem acordos comerciais com os EUA, como México, Chile e Canadá. É uma distorção que impacta diretamente setores estratégicos como o agro, a siderurgia e a indústria aeronáutica", avalia o consultor e professor universitário André Charone, que também é mestre em negócios internacionais.

📌 Setores mais afetados

Com a nova tarifa, produtos brasileiros tendem a se tornar até 50% mais caros no mercado norte-americano, o que deve resultar na substituição por concorrentes estrangeiros com vantagens tarifárias. Os setores mais vulneráveis incluem:

  • Café: Principal produto brasileiro exportado aos EUA, pode perder espaço para fornecedores da Colômbia e América Central.
  • Aeronaves e componentes: A Embraer e outros fabricantes nacionais enfrentarão perda de competitividade frente a concorrentes com produção local nos EUA ou em países com acordos comerciais.
  • Carnes e alimentos processados: O aumento de custo pode inviabilizar contratos e comprometer margens de lucro.
  • Minérios, metais e cobre: O setor de commodities industriais deve ser pressionado por fornecedores alternativos.

⚖️ O risco de uma retaliação

O governo brasileiro reagiu à medida com firmeza. O presidente Lula anunciou que o Brasil poderá retaliar com base na Lei de Reciprocidade Comercial, e o Ministério das Relações Exteriores estuda recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).

No entanto, uma retaliação direta também pode gerar efeitos colaterais. Para André Charone, é preciso cautela:

"Caso o Brasil reaja com novas tarifas, haverá aumento de preços internos em produtos americanos, como eletrônicos, peças automotivas, insumos industriais e medicamentos. Isso pode provocar repasse de preços ao consumidor e pressionar a inflação, especialmente em setores que dependem dessas importações."

🧭 Desafios e alternativas estratégicas

O cenário exige agilidade por parte das empresas exportadoras brasileiras, que devem adotar medidas para mitigar os efeitos da tarifa. Entre as principais estratégias estão:

  • Diversificação de mercados externos, com foco em regiões que mantêm ou ampliam acordos comerciais com o Brasil.
  • Utilização de regimes aduaneiros especiais, como o Drawback, que permite isenção ou suspensão de tributos na importação de insumos utilizados na exportação.
  • Planejamento tributário e logístico, com revisão de contratos internacionais, análise de margens e alternativas de triangulação comercial legal via parceiros estratégicos.
  • Fortalecimento de parcerias comerciais com países da América Latina, Oriente Médio, Europa e Ásia, reduzindo a dependência do mercado norte-americano.

Para Charone: "O cenário exige inteligência tributária, diplomacia comercial e reposicionamento estratégico. As empresas que atuarem de forma proativa terão mais chance de preservar seus mercados e até abrir novas frentes. Já o Brasil, como país, precisa encarar a necessidade de uma política comercial mais ativa e menos vulnerável a decisões unilaterais."

🔮 O que esperar daqui para frente

A medida de Trump, ainda que envolta em discursos eleitorais, tem potencial de causar sérios efeitos colaterais no comércio exterior brasileiro. Além dos prejuízos diretos para empresas e cadeias produtivas, o episódio reacende o debate sobre a necessidade de o Brasil avançar em acordos comerciais multilaterais, melhorar sua competitividade e fortalecer suas instituições comerciais internacionais.

"Enquanto os governos transformam o comércio internacional em palco político, quem corre o risco de pagar a conta, como sempre, é o consumidor", finaliza André Charone.

📘 Sobre o autor

André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA).

É sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino, autor de livros e dezenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional.

André lançou recentemente o livro "A Verdade Sobre o Dinheiro: Lições de Finanças para o Seu Dia a Dia", um guia prático e acessível para quem deseja alcançar a estabilidade financeira sem fórmulas mágicas ou promessas de enriquecimento fácil.

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*Todo o conteúdo contido neste artigo é de responsabilidade de seu autor, não passa por filtros e não reflete necessariamente a posição editorial do Portogente.

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