No Brasil, navio não passa nem debaixo de ponte; na Alemanha, navega por cima nos viadutos.
Notícia que Portogente citou dia 10 e vem ganhando destaque: em meio à guerra comercial com a China, o governante americano sobretaxará escalas em portos estadunidenses de navios construídos por estaleiros chineses. Depois dos impasses surreais na escalada das taxas, agora seu caminho é enveredar por barreiras não tarifárias, como essa.
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Não repetiremos editoriais. Queremos apenas saber: o que autoridades e empresas brasileiras estão fazendo para surfar essas ondas? Esperarão a concorrência desbravar esse oceano encapelado, para navegarem tranquilas em mar de almirante? Ora, quem descobre um novo mundo tem direito a ele: é a paga pelo risco, que sempre motivou as navegações, desde os fenícios.
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Então: o que foi pensado para resolver essa questão dos navios? Haveria como viabilizar um sistema para transbordar conteineres no Brasil, entre navios chineses e brasileiros ou neutros, que fariam o transporte "últimas milhas", até portos atlânticos dos EUA?
Nesse vaivém cambial e tarifário de Washington, pode surgir oportunidade para estruturar transportes através de porto concentrador no Nordeste brasileiro. Por estranho que isso pareça, cálculos de custo global bem feitos podem trazer soluções inesperadas. Mas, alguém está calculando essas hipóteses? No Brasil?
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Mesmo sem muita pirotecnia, existem chances à espreita para negócios com empresários nacionais que busquem novos mercados. Alguns estão de malas prontas para sair prospectando clientes na Europa, por exemplo. Que tal aumentarem os valores agregados, passando a outro patamar de fretes? Quais representantes de portos e empresas de logística acompanharão as negociações, propondo alternativas de transporte?
Sabe-se que, no agronegócio, por exemplo, os brasileiros são muito competitivos na porteira da fazenda, mas perdem contratos quando o Custo Brasil é adicionado ao trecho da fazenda ao porto. E...?
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Desde o Segundo Império, o Brasil agradecia seu desenvolvimento à ampliação das ferrovias. No século XX, o rodoviarismo passou a reinar, com abandono de ferrovias, hidrovias e navegação costeira, invertendo nossa matriz de transportes. Basta dizer que no Brasil navio não passa nem debaixo de ponte; na Alemanha, navega por cima dos viadutos.
Qual o peso rodoviarista na atual ruptura de modelos de comércio e transporte defendidos desde 1945 pelos EUA? Existem oportunidades para a volta do incentivo a hidrovias e ferrovias, mesmo que com interessada ajudinha chinesa. Pressão externa por pressão externa, um empurrão diferente e bem calibrado seria benéfico...
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O Brasil lidera a transição para matrizes energéticas sustentáveis, enquanto Trump dá uma guinada para o passado. Tangidos pelas crises climáticas, que só terraplanistas ignoram, os mercados mais "redondos" precisam de fornecedores compatíveis com a nova “Terra.2” . O que a indústria brasileira oferece a esses clientes, além de choro e velas? No que o setor de transportes pode colaborar?
Com a COP-30 chegando, o Brasil precisa esquecer a retórica e apresentar soluções sob medida, para que novos parceiros só precisem assinar na linha pontilhada. Será pedir demais, de quem quer liderar essa transformação? Chega de ver o Brasil simultaneamente "país do futuro" (que nunca chega) e das oportunidades perdidas (que diariamente batem à porta... fechada)!
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Trump já colocou na manga outra carta de jogo: obrigar os países a escolherem entre EUA e China. A ameaça não funcionará ante a inutilidade de se aliar com nação que trata pior velhos parceiros do que novos inimigos. Atente: surgem aí brechas para o empresariado nacional explorar.
Com o fim da globalização, a tendência ao isolacionismo obrigará cada país a fortalecer mercados internos - com espaço para portos fluviais e costeiros ocuparem. Ou os empresários nacionais, avessos ao mínimo risco inerente aos negócios, deixarão passar outra grande oportunidade de revitalizarem a cabotagem, com espaço também para estaleiros e indústrias de navipeças?
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Se uma guerra comercial baseada em restrições não tarifárias perdurar entre EUA e China, desarticulando não só o eixo transpacífico mas também a navegação pelo Atlântico, o Brasil poderia se candidatar a ser um dos polos da navegação atlântica, especialmente entre América Latina e Europa. Quem mais? Certo país mais ao Sul que mal navega, foge das boias de salvação e afunda cada dia mais, buscando lá no fundo (FMI) sua âncora de salvação?
Em linhas gerais, é isso. Especialistas, provocados a pensar no assunto e tendo mercados interessados, saberão encontrar soluções geniais para fazer essa "virada de chave". Talvez estejam até prontas na gaveta, faltando apenas efetiva vontade de fazer.
Colocar o guizo no gato é fácil. Mas o momento é de colocá-lo no rato. Ou mouse (do computador), formatando as soluções que o momento exige.
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No rio Elba é assim: navio passa até por cima. Aqui, nem por baixo.
Foto: Von Olivier Cleynen - Eigenes Werk/Wikipédia, 17/4/2020
