Enquanto a autoridade portuária flutua embalada em sonhos de triplicar as instalações para acolher extraordinária movimentação de cargas, bem acima dos recordes atuais, e o empresariado debate detalhes da instalação dos novos terminais, pouco de novo se vê de prático em termos da infraestrutura de apoio e especialmente quanto aos acessos.
O mundo dos negócios e o barquinho de (muito) papel
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Alguns até sentem necessidade de integração maior com a comunidade no entorno das instalações portuárias, mas na prática as coisas não acontecem.
É o humilde pescador colocado para discutir normas técnicas com advogados e técnicos (ele só sabe que o peixe está sumindo, o pouco que encontra está contaminado).
É o cidadão que perde o direito de transitar porque a carreta bloqueou o acesso ou derrubou a passarela rodoviária (para ele não interessam sermões sobre fortunas investidas em infraestrutura nos próximos anos).
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Agora mesmo, temos novo prazo para o aeroporto em Guarujá, depois de mais de 100 anos de promessas. Nos últimos 25 anos, o aeroporto está “sempre pronto para começar as operações imediatamente, faltando apenas detalhezinhos burocráticos sem importância”. Mas os prazos continuam sendo perdidos.
Seriam as almas dos urubus do lixão próximo da pista que atrasam as operações do aeroporto? Ele era sonhado como internacional, efetivou-se por décadas com linhas interestaduais e diversos vôos diários, hoje serve a pousos ocasionais... e promessas eleitorais. Nem tratemos das alternativas de Praia Grande e Itanhaém, eternamente entravadas.
Os acessos avançam sempre atrasados, a reboque do progresso. Obras como a terceira pista da Rodovia dos Imigrantes ou as restaurações das ferrovias centenárias na Serra do Mar (acreditando-se que saiam do papel), sequer têm folga para suportar o crescimento dos próximos cinco/dez anos.
Pátios para caminhões são pensados no entorno do porto inteiro, mas a cada anúncio surge um movimento popular contrário, mostrando que as propostas estão caindo de paraquedas, sem embasamento sério, sem diálogo mínimo com as comunidades impactadas com:
...tráfego pesado (trepidação/rachaduras nas casas),
...vias fechadas por manobras e mega-congestionamentos,
...poluição causada pela movimentação viária (hoje principal fonte poluidora, muito maior que a industrial),
...veículos vetores de doenças transmissíveis (pelos mosquitos que chegam de carona),
...impossibilidade de circulação interna (especialmente de viaturas policiais, de bombeiros, ambulâncias),
... oportunidades para assaltos e outros crimes (com o trânsito parado),
...insegurança (com transporte de cargas perigosas sem apoio eficiente em caso de sinistros)...
Não é por acaso a resistência dos esquecidos nesses assuntos, embora lembrados 'pro forma' nas audiências públicas obrigatórias.
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Nestes dias, está saindo do papel o túnel imerso Santos-Guarujá. Que garantias há de que não aumentará o tráfego pesado nas cidades, se o próprio projeto da obra é ilustrado com um caminhão de quatro eixos entrando nesse túnel (as balsas que fazem hoje essa travessia só aceitam veículos de três eixos)?
Em outro megaprojeto, a diferença entre áreas citadas em duas fontes federais dá para contruir um Tecon maior que o previsto para a capital baiana no mesmo pacote de obras/concessões.
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Diálogo mínimo no dia a dia com quem sente na pele os problemas, porém é bombardeado com informações desencontradas, só agrava a desconfiança e o problema.
Os infinitos seminários simultâneos parecem mais espaços de propaganda de consultorias milionárias (com quinhão garantido a cada mudança de planos), que formas práticas de buscar soluções viáveis, efetivamente implementadas. Vemos maravilhados como tudo funciona direitinho mundo afora, sem problemas socioambientais (ok...!), todos concordam que precisamos fazer algo parecido. O evento acaba, os debates também.
Fica tudo para o próximo hipermegasseminário... Os participantes, inclusive autoridades nacionais, saem confessando desconhecer o impacto ambiental desses projetos, se na prática não haverá interferências no próprio canal de navegação do porto, nas cidades, nas praias, nos transportes, na pesca...
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