Não é para filósofos debaterem, mas para cada leitor - exportador, importador, armador, dirigente político ou simples consumidor.
Tantos despautérios em 40 dias de governo Trump não parecem mais ser algo saído de mentes desequilibradas. Em conjunto, configurariam um plano maior, um blefe que consiste em esconder fatos que ganhariam grave sentido se colocados ao mesmo tempo na mesa de pôquer. Seriam parte duma tentativa desesperada de conter o desmonte do ‘Império’ Americano, vitimado pela própria arrogância?
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'A Ascensão e Queda das Grandes Potências', (Paul Kennedy, 1987) dialoga com ‘Ascensão & Queda’ (Paul Strathern, 2019), por séculos/milênios desse movimento pendular, envolvendo desde antigos impérios até URSS, EUA e China. Obras permeadas pelo sentimento de forte interdependência entre poderes econômico-político-militares mostram como leve desequilíbrio nesses pilares causa tombos monumentais.
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Tendo isso em conta, note-se o declínio militar dos EUA desde a Retirada do Vietnã (1973), o escândalo Irã/Contras, o falso pretexto das armas químicas para atacar o Iraque, a resistência do Talibã, a audácia da Al-Qaeda, a demonização do Irã e situações militares vexatórias, como o 11 de Setembro.
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Note-se também o declínio econômico, com a transfência de indústrias para a China, erro estratégico que agora os EUA querem consertar ‘esquecendo’ sua propaganda globalizante.
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Seu poder político ganhou rachaduras quando Iraque quis negociar petróleo em moedas europeias em vez dos "petrodólares", e agora o BRICS amplia o uso de moedas próprias em seus comércios bilaterais (reduzindo a influência do US$).
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Há décadas se sabia que até 2032 a China suplantaria os EUA como maior potência econômica, prazo antecipado para 2028. Quando Tio Sam castigou a Rússia com bloqueio econômico, seu sucesso foi apenas parcial, da mesma forma como desde 1962 Cuba sobrevive a poderoso “embargo”.
Com a queda no poder de sedução ianque (Walt Disney, Hollywood, "american way of life") e bolhas especulativas estourando em Wall Street, Trump colhe frutos de erros político-administrativos colossais. Por isso esbraveja e dá patadas fabulosas nos aliados, atraindo os holofotes enquanto nos bastidores busca solucionar grandes problemas domésticos (melhor acreditar assim...)
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Por quê ele precisa cortar gastos radicalmente, demitindo milhares de funcionários atabalhoadamente, implorando depois pela sua volta em setores críticos? Porque o gasto interno cresce mais que a entrada de divisas.
Trump talvez finja não saber que nova pandemia pode devastar seu país, cuja estrutura sanitária parcialmente desmontou neste ano. Intencionalmente, alinhado a interesses estrangeiros? É outro debate – foco nas consequências. Não podendo/querendo brigar com grandes potências, dirige impropérios e ameaças a países indefesos, tentando mostrar uma força que já perdeu.
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"Dividir para governar" é outra carta no bolso do colete de Trump. Quer dividir a América Latina acenando com ofertas aos “amigos” e penalidades aos demais, para que se digladiem. Idem na Europa.
Erra feio demonstrando que palavra estadunidense nada vale, como nos tratados com OTAN, ONU..., a garantia solene contra invasões da Ucrânia e agora as sobretaxas que aplica a México e Canadá, descumprindo acertos recentíssimos. Não é mais parceiro confiável, como países europeus e latinos (exceto Argentina!) descobriram.
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Atirou no próprio pé. O novo cenário não lhe será favorável. Ex-aliados se unem na revolta contra esse infrator de acordos internacionais. Declarações escandalosas como a do ‘resort’ em Gaza não ajudam. Os próprios eleitores descobrem que ficarão com a conta dos desmandos.
Expulsar imigrantes, ignorando a Constituição, fragiliza uma economia muito baseada em exploração de gente juridicamente desamparada. Faltando trabalhadores e expulsando 20% deles, quem fará os trabalhos piores, recebendo salários chineses nas indústrias que os EUA precisam repatriar para seu território? Que adiantará oferecer bons empregos, se o estrangeiro sabe que seu esforço não é reconhecido, podendo ser recambiado ao seu país, algemado e tratado como reles bandido?
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A economia do planeta vem mudando para matrizes sustentáveis que, ao ganharem escala, ficam mais vantajosas que as dependentes de combustíveis fósseis. Negando a tendência, os EUA não se preparam para ela: seus produtos, caros e ultrapassados, encalharão nas prateleiras, Trump sabe: em lugar de avançar na sustentabilidade, quer o mundo retrocedendo para não lhe fazer frente.
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Esta reflexão é para cada leitor – exportador, importador, armador, dirigente político ou simples consumidor. Quem entende como sustentabilidade reduz impactos ambientais e riscos nos negócios não quer repetir erros do período industrial, quer? A força da Nova Economia vem daí. Neste cenário, os EUA são os dinossauros.
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Europa já percebeu o que fazer, os fundos russos que congelou serão derretidos para compensar o abandono pelos EUA. Aliados históricos estudam reorganizar blocos político-econômicos sem este país. Se Washington precisar futuramente de apoio internacional, suas atitudes serão negativamente lembradas. Nesse jogo, Europa-América Latina-África podem comandar novo baile, ainda que embalado por música asiática...
Hora do “Farol da Liberdade” atualizar suas leituras
Fotos: divulgação/montagem