Claro que a tecnologia pode prover soluções, criando novas formas de obter a água necessária ou ampliando transportes alternativos como as ferrovias interoceânicas. Mas, a que preço?
Trump 2.0 vem aí. Em mais alguns dias, o mundo verá se ele porá os pés no chão ou seguirá ideias mirabolantes de submeter o mundo à sua visão imperialista. Chamará os militares para submeter a administração panamenha do canal do Panamá (‘chinesa’, em sua ótica particular) e baixar tarifas?
Ou a China, após declarar que não achou graça na fala do futuro presidente, enfim se assumirá como maior potência mundial, podendo até ignorar o canal, que vem perdendo importância em sua estratégia marítima? A propósito: independentemente desses contendores, o canal sobreviverá às mudanças climáticas globais?
Lago Gatún atinge níveis mínimos cada vez mais críticos / Foto: Stan Shebs, CC BY-SA 3.0
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Há um fato pouco divulgado ainda, que é a possibilidade desse canal ter de interromper o trânsito de navios entre Atlântico e Pacífico por conta do aquecimento global. É que o sistema de eclusagem usa água doce retirada especialmente do lago Gatún, e são 200 milhões de litros a cada travessia.
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Com a escassez de chuvas na região em 2023, os reservatórios naturais ficaram em situação crítica e o número de travessias diárias foi reduzido em até 40%. Chegou a ocorrer leilão de direitos de passagem, além dos atrasos e custos adicionais – que os armadores naturalmente repassaram aos fretes marítimos.
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Claro que a tecnologia pode prover soluções, criando novas formas de obter a água necessária ou ampliando transportes alternativos como as ferrovias interoceânicas. Mas, a que preço? Em médio ou longo prazo? Valerá investir nisso?
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Voltemos ao fator China. Ela vem desenvolvendo uma rede de transportes que conecta a Ásia às Américas pelos oceanos Atlântico e Pacífico, dispensando o Canal do Panamá. O degelo polar está criando novas rotas mais diretas pelo Norte da Eurásia. Então, que efeito significativo para o mundo terá a fanfarronice do presidente eleito? Sobre a presença chinesa no Panamá, Trump 'acusou' o golpe e 'vestiu a carapuça'. Muito inteligente, ele.
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Aqueçamos esse debate: o mundo caminha para uma economia mais sustentavel e ambientalmente correta (se reverterá o cataclisma previsto, é outra história). O mercado apoia cada vez mais os produtos ecologicamente amigáveis, pois, além de corretos, já ganham escala comercial com o barateamento de sua produção. Com o planeta convergindo na busca pela perdida sustentabilidade, trustes e Trumps que insistirem no negacionismo, acabarão isolados e sentados em montes de entulho invendável.
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Quem já leu sobre a queda dos grandes impérios percebe quão potentes motores dessa derrubada são a arrogância e a cegueira para cenários já percebidos no horizonte. 2025 chegou: Cop 30 será na Amazônia, não nos desertos árabes, não na Europa, nunca nos EUA. Então, quem são os protagonistas?
Lembremos que o transporte marítimo tem sua própria agenda: precisa se readequar aos efeitos combinados de mudanças econômicas e climáticas, reduzir sua pegada ambiental, enfrentar autoridades inconsequentes, sem planejamento e políticas consistentes para portos e transportes – como Portogente tem abordado em mais de duas décadas de Informação.