Assim, um príncipe que tenha uma cidade forte e não se torne odiado, não pode ser atacado e, mesmo que o fosse, o atacante regressaria de cabeça baixa. (Niccolò Machiavelli)
O que se assiste na novela da Ponte dos Barreiros, sobre braço de mar em São Vicente, litoral paulista, demonstra uma afronta à competência da engenharia nacional e um primitivismo político dominando o mais importante estado do País. Desde 30 de novembro de 2019, uma população de mais de 150 mil pessoas da área continental da cidade tem que fazer baldeação no transporte rodoviário e andar um trecho de 600 metros em situação precária, porque a estrutura da ponte está comprometida e não suporta trânsito de veículos.
Pilares comprometidos de ponte utilizada por uma comunidade numerosa.
Crédito: Solange Freitas | TV Tribuna.
O comprometimento de mais de 50 pilares da ponte vem sendo anunciado há muitos anos, sem que qualquer providência fosse tomada. E a solução para o caso, prevista em um ano, não deve iniciar antes dos próximos seis meses, como sinaliza a população abrindo faixa apelando por ação do presidente Bolsonaro, em frente ao forte dos Andradas, onde ele passa o carnaval, no Guarujá, cidade próxima à ponte.
Ainda que o caso esteja circunscrito na área municipal, o fato ocorre no Estado de São Paulo. O governador João Doria personifica um político pertencente a uma elite do dinheiro, para a qual essa classe popular só tem significado em períodos eleitorais. Trata-se de uma relação mediada pelo populismo, que tem sido muito eficaz na conquista de votos com campanhas estruturadas nas redes sociais. Porém, insensível ao sofrimento dessa gente que cabe ao poder político mitigar, com os recursos disponíveis e propósitos sociais, como é papel desta ponte.
Crises como essa servem também para clarear, como a luz do sol, a situação terrível em que se encontra a relação do cidadão e o governo. Todavia, sobeja capacidade técnica ao País para repará-los eficientemente. Faltou tão somente competência política para, nesses 95 dias, já ter sido restabelecido o uso parcial da ponte.
Toda extensão da Ponte dos Barreiros, em São Vicente. Crédito: Cesar Morgado | Prefeitura de São Vicente.
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Se há uma força que segura esse País, ha também o primitivismo político que ora atinge e penaliza a população da área continental de São Vicente - parece solto e sem freios. Até quando? Infelizmente não se percebe um Congresso Nacional à altura de promover uma reforma política necessária e da dimensão do Brasil, que reduza as chances de aventureiros políticos serem eleitos.