Artur Araújo, consultor técnico da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), no projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, está pessimista com relação ao País. Para ele, não só o noticiário mais recente – viadutos e pontes que “se movem”, Brumadinho soterrando multidão, incêndios em prédios abandonados e ocupados – mas o dia a dia das construções e equipamentos no Brasil é um rol de problemas em curso ou por ocorrer.
Crime de Brumadinho, em Minas Gerais, deixou mais de 300 mortos. Foto: Fotos Públicas.
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Ele descreve: "Escolas com telhados prestes a cair, infiltrações e vazamentos em hospitais e postos de saúde, estradas e ruas esburacadas, semáforos que apagam na chuva como se fossem lamparinas, a relação é infinda e angustiante. E não é só fruto de alguma incúria exclusivamente estatal, porque Mariana e as demais barragens de rejeitos de mineração são bem privadas e boa parte das rodovias está concessionada a empresários, para nos atermos a dois casos mais conhecidos."
Araújo cita recente estudo da Comissão Europeia que traçou um panorama de alta gravidade no estado de manutenção, conservação e deterioração das malhas de transporte da União Europeia, ressaltando que os investimentos no setor estavam significativamente abaixo até da taxa de depreciação contábil dos ativos, para mostrar que não está sendo rigoroso apenas com as plagas tupiniquins. Ou seja, acontece também no chamado "primeiro mundo".
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O consultor da engenharia avalia que tal cenário mundial resulta de duas orientações econômicas que têm se mostrado desastrosas: "Na gestão estatal, o “austericídio” – a falsa teoria econômica que vê na minimização sem limites das despesas e investimentos públicos a “estrada para o progresso”, via uma mágica a que chamam “contração expansionista” – elimina os recursos destinados a garantir a vida útil dos bens comuns, acelerando sua entrada em estado crítico. Nas empresas privadas imperam a ditadura do lucro trimestral e a obsessão com o “valor para o acionista”, caminho que leva – pelo corte sem critérios de quaisquer despesas “não essenciais”, com ênfase em redução de quadro técnico, eliminação de programas de manutenção preventiva e corretiva e “curtoprazismo” na gestão – a bruscas perdas de valor de marcado e a colapso dos lucros a cada acidente que ocorre, perdas certamente maiores do que os ganhos da economia míope. Assim como o Estado, o mundo dos negócios vive à sombra de mortes, feridas e pessoas desaparecidas, com potencial destrutivo de marcas e imagem corporativa."
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Segundo ele, tais orientações econômicas trazem consigo uma “repulsa à engenharia” e resultam na redução acelerada do quadro dos profissionais mais preparados para evitar desastres e para otimizar custos. "Submetidos a políticas de coerção interna, assistindo o desmonte de equipes capacitadas e a desvalorização de suas orientações, os profissionais de Engenharia se veem como “primeiros culpados” quando acontece o que eles – se realmente respeitados e com recursos adequados à mão – teriam avisado quando e como aconteceria, evitando que as tragédias previsíveis se transformassem em realidade cruel", sentencia.