Dois fatos ocorridos no Brasil, correlatos e relacionados aos Estados Unidos da América (EUA), merecem destaque e análise por envolver, direta e indiretamente, casos muito complexos e estratégicos. E ambos ocorreram de forma sinistra. A rápida passagem do secretário de Defesa americano James Mattis (o Mad Dog) por Brasília, em 13 de agosto deste ano e o desembarque de 96 blindados doados pelos EUA no Porto de Paranaguá (PR), em 3 de outubro último. Trata-se de, e estão em jogo, interesses nacionais: soberania, comércio e desenvolvimento.
Fala-se que fizeram parte das conversas reservadas do secretário americano com os ministros brasileiros da Defesa Joaquim Silva e Luna e das Relações Exteriores Aloysio Nunes, a parceria entre a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e a Boeing (empresa americana fabricante de aviões e de foguetes espaciais); o uso do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, pela Nasa; a privatização de poços de petróleo; o Brasil liderar a solução da questão da Venezuela e a presença marcante da China, principal adversária comercial dos EUA, em território brasileiro. Uma pauta robusta e densa.
Conectando-se a visita do secretário americano e o desembarque dos 94 blindados, com a chegada de mais 30 em janeiro próximo, não se descarta a veracidade das palavras de Mattis ao retornar aos EUA: “A cobra vai fumar.” Utilizando a famosa frase da campanha da Força Expedicionária Brasileira – FEB, na 2ª Guerra.
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Para não faltar fumo no cachimbo da cobra, nesse contexto envolvendo temas tradicionais nos conflitos mundiais, fica cristalino como água que não foi deixado de lado o resultado possível das eleições presidenciais. Por isso, convém também refletir o caso, até então inimaginável, da suposta interferência da Rússia nas eleições que elegeram Trump presidente dos EUA em 2016, e que está sendo investigado pela Justiça Federal. No âmbito das eleições brasileiras, tamanha complexidade pode inflamar a hipótese de fraude nas urnas, volta e meio aventada por Bolsonaro, caso ele não vença.
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Do que se sabe, no que tange à soberania nacional, alguns generais brasileiros não pactuam com as propostas liberais do economista Paulo Guedes, cotado para ministro de eventual governo Bolsonaro, como a de privatizar a Petrobrás. A empresa petroleira é tratada como ativo estratégico. Decerto, no tocante à autonomia regional, não deve ter sido tratado com simpatia nas conversas com Mattis a posição do Partido dos Trabalhadores, contrária a do ministro Aloysio Nunes, de respeitar a independência da Venezuela.
É certo que os blindados americanos aumentam o poderio militar do Brasil. Entretanto, o que o povo brasileiro deseja e espera é que esse preparo para a guerra seja apenas anúncio de paz.