Segunda, 20 Mai 2024

por Bárbara Farias

A história do aposentado Manoel Francisco de Sousa, 73 anos, o Neneco, nordestino do Rio Grande do Norte, nascido na cidade de Areia Branca, se confunde com mais de meio século de acontecimentos no Porto de Santos. Seu Neneco testemunhou tragédias e vivenciou mudanças que ocorreram na Companhia Docas de Santos.

Em 25 de maio de 1948, Seu Neneco, foi admitido pela Companhia Docas de Santos, com 18 anos, como trabalhador da Classe C, função que atribuía serviços gerais. A empresa, na época, pertencia à família Guinle. Depois foi promovido e passou a trabalhar na classe B, no setor de escafandria, como auxiliar de mergulhador.

Deste período, além de lembranças, Seu Neneco guarda uma foto tirada em 03 de maio de 1953 (ao lado) com seus saudosos companheiros de setor: o servente Mário Santos (Sapo), o mergulhador Francisco Rosa, o fiel de mergulhador e Manoel (Português), todos falecidos. Da esquerda para a direita, Seu neneco é o último. 

Para Seu Neneco, tudo o que construiu na vida deve a companhia, pois com o seu emprego, sustentou a família e comprou um apartamento. Seu Neneco é casado Maria Aparecida, tem três filhos, Almir, Sandra e Rita de Cássia e quatro netos. Embora esteja aposentado desde 1977, continua prestando serviços à empresa.

Dotado de uma memória ímpar, Seu Neneco, lembrou datas de desastres ocorridos no Porto de Santos. Em 18 de abril de 1959, ele testemunhou a colisão do navio Del Valle, cargueiro norte-americano com o batelão Guaiúba, que afundou. Não houve vítimas fatais. Outro grave acidente ocorreu em 19 de fevereiro de 1965. Um avião da FAB bateu nos fios de transmissão da companhia. A aeronave caiu no mar, matando o comandante.

Um dos piores sinistros do Porto de Santos também foi acompanhado por Seu Neneco: o navio grego Ais Giorgius, atracado, nos Armazéns 30 e 31, incendiou em 08 de janeiro de 1974. "Ficamos a noite toda jogando água em cima dele para não explodir". Seu Neneco perdeu um amigo no desastre. O auxiliar de segurança da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes da CDS, Marcelo Martins Vicente, caiu no mar e seu corpo foi encontrado somente no dia seguinte. O cargueiro transportava caixas, sacos e tambores, com leite em pó, óleo de pinho, resina, champanha e produtos químicos diversos, entre os quais nitrato de sódio. Havia carga altamente inflamável. O incêndio é considerado o maior da história do porto.

Seu Neneco lembrou que em 1981 a administração da Companhia Docas de Santos passou da família Guinle para o governo, passando a se chamar Companhia Docas do Estado de São Paulo – Codesp. O primeiro presidente da, então, Codesp, se chamava Sérgio da Costa Marques, funcionário da empresa.

Com o passar dos anos, a modernização da Companhia Docas de Santos, resultou na extinção de muitas funções. Seu Neneco foi até marinheiro de máquina, antigo foguista e depois de aposentado retornou a empresa exercendo a função de moço de máquina, antigo carvoeiro. "Quando entrei na companhia era tudo braçal, os batelões eram movidos à lenha e carvão. Quando surgiram as embarcações com motor à diesel, substituindo os vapores, não havia mais necessidade dos foguistas. Então, com a modernização a companhia acabou tendo menos empregados".

Seu Neneco falou sobre a Draga Vera Cruz, da companhia. A embarcação possuía caçambas de ferro denominadas alcatruz. A draga retirava a lama do fundo mar e despejava nos batelões, embarcações onde era despejado o material dragado.

Como todo trabalhador que reivindica seus direitos, Seu Neneco participou de uma greve que aconteceu, em 1959, que durou de 23 de abril a 5 de junho. Os funcionários queriam melhores salários. "Eram 250 gatos brigando contra a poderosa Companhia Docas de Santos", contou. Várias categorias se uniram para ter na carteira de trabalho a classificação de marítimo. Os portuários que realizaram a greve eram foguistas, cozinheiros, motoristas, entre outros.

Segundo ele, embora esses portuários já tivessem estabilidade, não eram fixos nas embarcações que trabalhavam, atuando cada vez num navio diferente. Esses empregados preferiam trabalhar nas mesmas embarcações, pois já conheciam os navios. A vantagem ainda de ser marítimo consistia no acúmulo de funções que, por conseqüência, resultava num salário maior. Eles ganharam a causa.

Hoje, Seu Neneco trabalha no setor de maregrafia. Ele opera o equipamento que registra o gráfico da tábua das marés.

Seu Neneco tem um dom. Ele é artesão desde menino. "Artesanato não se aprende em colégio". Com madeira e pregadores de roupa, Seu Neneco constrói barcos, cadeirinhas, animais, jangadas, caravelas, entre outros artigos. A necessidade o levou a desenvolver essa habilidade. Começou a trabalhar cedo. Aos 12 anos já fazia artesanato para vender.

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