Sexta, 22 Novembro 2024

O impacto da economia napolítica, até muito recentemente, limitava-se à análise de variáveisrelacionadas aos fundamentos da economia (crescimento, desemprego e inflação).Contudo, nos últimos anos, tem-se notado um aumento da saliência de indicadoresdo mercado financeiro no debate eleitoral. Tanto fundamentos da economia quantoo mercado financeiro, agora, parecem dividir o espaço de discussão sobre oimpacto da economia nas eleições. Em termos de modelagem econométrica, ignoraralgum desses aspectos é incorrer em erro de especificação. Em termossubstantivos, ignorar algum desses fatores é contar uma história incompleta.Infelizmente, a maior parte dos estudos sobre economia e eleições ainda nãoincorporou o impacto de indicadores do mercado financeiro em análiseseleitorais, principalmente em países em desenvolvimento.

A crescente importância detemas relacionados ao mercado financeiro nacional e internacional deve-se a doisfatores principais. Primeiro, há uma crescente internacionalização eflexibilização dos fluxos de capital, que não existia na magnitude de hoje a 10anos atrás. Segundo, atores ligados a esse setor ganharam influência na políticadoméstica, e essa influência deve ser ainda mais visível onde a necessidade deobtenção de investimento externo é imprescindível para o desenvolvimentoeconômico. Portanto, a mudança na agenda de discussão sobre temas econômicos nãose deve ao acaso. Ela é fruto de mudanças ocorridas no sistema financeirointernacional e na abertura das economias nacionais, outrora bem mais fechadas àcompetição externa.

Tendo em vista que a análise darelação entre economia e eleições em países economicamente desenvolvidos jáincorpora tanto os fundamentos da economia quanto fatores ligados ao mercadofinanceiro em suas análises eleitorais, é possível aplicar algumas dessasabordagens ao estudo de países em desenvolvimento. Em trabalhos anteriores,indicadores sobre os fundamentos da economia nacional, como inflação edesemprego, eram os pontos centrais da análise (Eulau e Lewis-Beck, 1985;Lewis-Beck, 1988; Echegaray, 1995). A relação entre esse conjunto de variáveis eintenção de voto era tida como bastante evidente. Quanto mais alta a inflação,quanto maior o desemprego, quanto mais baixos os salários, mais baixa também é apopularidade do governo. Isso se traduz, conseqüentemente, em queda nasintenções de voto para candidatos do governo.

Em suma, quanto pior odesempenho do governo na administração da economia, pior sua avaliação pelapopulação e mais tênues suas chances de se manter no poder. Segundo essa visão,eleitores decidem seus votos em parte baseados em avaliações retrospectivas dodesempenho de seus governantes (Fiorina, 1981). Pode-se dizer que o votoretrospectivo é tido como o padrão normal de decisão eleitoral em um regimedemocrático, pois está fortemente associado à idéia de accountability5.A direção causal é clara: fatores econômicos afetam intenções de voto.

Por outro lado, a ciênciapolítica também parece ter incorporado em seus estudos o impacto do aumentoindiscutível na fluidez dos fluxos de capital externo e a crescente influênciade variáveis do mercado financeiro internacional em assuntos domésticos. Hádiversos autores que têm apontado para a crescente influência de atores domercado financeiro internacional nos rumos da política doméstica (Leblang, 1997;Kaufman e Segura-Ubiergo, 2001; Clark e Hallerberg, 2000; Basinger e Hallerberg,2004). Em decorrência, indicadores de taxa de câmbio, medidas de risco-país eíndices de bolsas de valores passam a ganhar destaque na discussão sobreeleições (Gleisner, 1992; Berry, Elliott e Harpham, 1996; Alesina et alii,1997; Freeman et alii, 2000; Hays et alii, 2000; Bernhard eLeblang, 2001).

Uma contribuição importantedessa nova literatura é a idéia de que há uma relação causal recíproca entreindicadores do mercado financeiro e voto (Bernhard e Leblang, 2001). O mercadofinanceiro reage mal à incerteza gerada por eleições (idem; Borsani,2001). Eleições são momentos de mudança que sempre envolvem riscos e por issogeram trepidação nos indicadores do mercado financeiro. Contudo, a reação destedeverá ser mais aguda quando a perspectiva de mudança em uma ordem favorável aosseus interesses é maior. Partidos de esquerda normalmente são associados apolíticas econômicas heterodoxas6. Portanto,quando um candidato de esquerda ganha apoio eleitoral, sinalizando apossibilidade de mudança na política econômica de um governo que segue acartilha da ortodoxia econômica, isso acaba por afetar avaliações de risco deanalistas financeiros. Parece claro que variações em intenções de votoinfluenciam indicadores financeiros.

Por outro lado, indicadores domercado financeiro podem também afetar a popularidade de governantes e intençõesde voto (Bernhard e Leblang, 2001; Berry et alii, 1996). É de se esperarque atores do mercado financeiro tenham preferências por candidatos que defendampropostas políticas que os beneficiem. Quando candidatos do governo, favoráveisao mercado, aparecem bem em pesquisas de opinião, isso não deve gerar oscilaçõesnos indicadores financeiros. Tais indicadores devem se manter estáveis epositivos e provavelmente não se tornam tema para uso político durante acampanha, a não ser para beneficiar o governo. Por outro lado, quando hácrescimento das intenções de voto em candidatos contrários ao mercado, issoaumenta a incerteza de investidores e pode gerar instabilidade e queda nosindicadores financeiros. A instabilidade dos indicadores financeiros, por suavez, pode se tornar tema político a ser explorado durante a campanha eleitoral evir a impactar a disputa eleitoral.

Conforme Bernhard e Leblang(2001), o impacto dos indicadores financeiros provavelmente é mais visívelquando estes oscilam negativamente. Ou seja, o mecanismo causal da relação entreintenção de voto e indicadores financeiros tem diversos momentos. Primeiro,pioras nas avaliações de risco-país ou queda na bolsa de valores podem sercreditadas ao crescimento nas pesquisas de intenção de voto de candidatoscontrários aos interesses do mercado financeiro. Em um segundo momento, oenfraquecimento dos indicadores financeiros pode ser utilizado como um fatopolítico pelo candidato governista. A deterioração dos indicadores financeirospode ser creditada à postura de um candidato específico e isso pode impactarintenções de voto nesse candidato em pesquisas futuras. A constante menção dafragilidade dos indicadores do mercado financeiro em jornais e na propagandaeleitoral de certos candidatos aumenta a visibilidade desses temas para oeleitor e pode afetar intenções de voto em um momento posterior. Em outraspalavras, ocorre primeiro uma assimilação do quadro eleitoral por parte dosatores do mercado financeiro que se reflete nos indicadores financeiros.Posteriormente, uma vez que a reação do mercado financeiro se torna pública e éusada eleitoralmente por atores políticos, esta pode vir a impactar as intençõesde voto.

 

Para ver o trabalho completo:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582006000100002&lng=pt&nrm=&tlng=pt

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