A gestão do espaço público no Brasil vive em contradição. Enquanto autoridades e pesquisadores das maiores cidades do País se desdobram para aperfeiçoar a mobilidade urbana e criar áreas agradáveis para pedestres, pouco é feito para melhorar a qualidade do transporte coletivo e para conter as vendas de automóveis.
De forma salutar, a discussão ganhou força em São Paulo, a maior metrópole brasileira, com a implantação das "zonas verdes" na última semana. Essas áreas recreativas temporárias foram instaladas em dois pontos da Cidade, substituindo vagas para estacionamento de veículos. A iniciativa foi do projeto Design Weekend (DW!), inspirada nos parklets montados em São Francisco, nos Estados Unidos.
Foto: Futura Press
Movimentação na intervenção chamada “Zona Verde”, em SP
A zona verde oferece espaço para parar bicicletas, sentar e interagir com outras pessoas em áreas de grande circulação. O mobiliário é composto por peças de madeira e outros materiais que recriam espaços bem arborizados. “São Paulo não é uma cidade para pessoas, é uma cidade para carros. Isso precisa mudar. E o primeiro passo é atacar a questão da mobilidade”, diz Lincoln Paiva, presidente do Instituto Mobilidade Verde.
No entanto, o resultado de qualquer política de mobilidade será pífio diante do nada eficiente transporte público em São Paulo. Os passageiros são transportados em verdadeiras latas de sardinha e dispõem de insuficientes linhas de metrô e corredores de ônibus. O Governo Federal, por sua vez, pratica um histórico de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para alavancar as vendas de automóveis e incentivar o transporte individual.
Os idealizadores do projeto pretendem deixar as Zonas Verdes montadas no período de um mês durante a 10ª Bienal de Arquitetura, que ocorrerá entre setembro e novembro deste ano. A ideia é convidar as pessoas, os institutos e o poder público para debater sobre a implantação do projeto na cidade.
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Iniciativa tenta debater a imobilidade causada pelo excesso de veículos
Embora não tenham encontrado muitas resistências no caminho, os organizadores apontam a burocracia e os impedimentos legais como principais entraves para concretizar as zonas verdes. "Uma cidade boa para pessoas tem que criar meios para que possamos nos deslocar a pé, com facilidade e com prazer. O simples ato de sair de casa até o ponto de ônibus pode ser um martírio aqui", completa Lincoln Paiva.