Sexta, 22 Novembro 2024

Euclides da Cunha em sua famosa obra-prima “Os Sertões” já relatava a força e bravura do sertanejo. Dentre os inúmeros homens do sertão que migraram do nordeste para o Estado de São Paulo em busca de uma vida financeiramente mais digna está José Alberto Pereira, um baiano que atende pelo nome de Sheik.

 

Sua história com Santos e o reencontro com o mar - até então visto somente da confluência com um rio na pequena Conde - aconteceu aos 12 anos de idade. A caminho da tradicional escola Escolástica Rosa, onde estudou por alguns anos, contemplava o mar.

 

Nessa época, aos 13, trabalhava como ajudante geral num comércio na Rua Amador Bueno. Lembra do seu primeiro dia de trabalho, 7 de janeiro de 1967, dia em que houve a explosão do gasômetro de Santos.

 

Passava o seu dia entre o centro histórico de Santos e a escola à beira-mar. Tinha uma amigo, daqueles inseparáveis. “Vamos entrar para a Marinha”, brincavam um com o outro. O tom jocoso da conversa de menino, quem diria, levou os dois a iniciarem um curso preparatório para a Escola de Aprendizes Marinheiros.

 

Prova feita e somente José Alberto conseguiu ser aprovado. Contrariando a família, resolveu ingressar na carreira militar em novembro de 1970. Na véspera de embarcar no navio "Custódio de Melo" que o levaria à Florianópolis, durante sua despedida assistiu novamente ao Raposa do Mar, um filme contado em plena 2ª Guerra Mundial, no Atlântico Sul, onde o "Haynes", um contra-torpedeiro americano, descobre um submarino alemão. Este filme o acompanharia durante outros momentos decisivos de sua vida no mar.

 

Na escola militar, o adolescente não se intimidou com a dura disciplina. Na véspera da sua formatura, o jovem assistiu a uma sessão de cinema. O filme? Raposa do Mar. Formou-se e aos 18 anos foi designado para a Força de Transporte no Rio de Janeiro. No ano seguinte, ganhou sua primeira viagem a Porto Rico. Teve mais duas oportunidades de viagens ao exterior, dessa vez, na Europa. Tentou retornar a Santos, mas não havia vagas. A saída foi ficar em São Paulo por algum tempo.

 

Quando voltou a Santos depois de quatro anos e meio, foi cursar agrimensura. Trabalhava neste período no serviço externo da Capitania dos Portos. “Caminhava muito. Entrei na escola com 63 quilos e cheguei a 100. Perdi 20 quilos nessa função de externo. Quando dei baixa em 76, estava com os mesmos 63 quilos iniciais”, conta, risonho.

 

Resolveu deixar a Marinha pela lentidão no processo da carreira militar. Daí em diante, o baiano bem-humorado testou sua versatilidade. Trabalhou em diferentes obras, na Dersa, Mercedes-Benz, nunca lhe faltou trabalho.

 

Ainda durante o curso de agrimensura no Colégio José Bonifácio conheceu o atual prefeito de Santos, e seu amigo, João Paulo Tavares Papa.

 

Depois de ficar indeciso entre o curso de Direito e o de Arquitetura, optou por fazer Jornalismo na Universidade Católica de Santos, aos 27 anos. O visual já era muito parecido com o dos dias atuais, com brinco e barba.

 

O apelido “Sheik” surgiu no primeiro dia de aula do professor Cláudio José dos Santos. Mais velho e com “um certo estilo”, não fica difícil imaginar o assédio das meninas... Ganhar esse apelido foi fácil. Desse dia em diante, nunca mais foi conhecido como José Alberto Pereira.

 

Como jornalista fez diversas tentativas de emprego. Brasília, São Paulo. Depois de dois anos formado, surgiu uma vaga no extinto jornal Cidade de Santos, na editoria de porto e comércio exterior. Mesmo sem experiência, encarou o desafio e após um ano a oportunidade de ouro: uma viagem à Antártida. Animação e expectativa.

 

Na véspera da viagem, um novo editor assumia a função. Com toda a frieza, desautorizou a viagem da equipe. Com a mulher grávida, Sheik optou por ir. Foi demitido em alto-mar.

 

Vinte e seis dias a bordo e muitas recordações...na memória. A jovem equipe perdera todas as fotos, o que lhe impediria de vender matérias para outros veículos.

 

Na volta, Sheik conseguiu fazer duas reportagens. Uma para o Jornal do Porto e a outra, uma crônica, para o jornal ”O Jacaré”.

 

Da inesquecível experiência, Sheik diz que não há nada igual. “Não tem nada comparável. Você vai navegando e encontrando icebergs. Aquele frio que uma hora parece muito seco, outra não. Você fica ali sentado pegando uma brisa, fica vendo aquele céu, aquele silêncio... tem um som de ruído de criação do universo. Uma experiência transcendental”.

 

Voltou desempregado e a convite do jornalista Ciro Marcondes Filho foi trabalhar na USP onde ficou por três anos. Na Secretaria do Estado de Meio Ambiente atuou por 17 anos.

 

Aos 53 anos de uma vida sem monotonia, Sheik inicia uma nova fase na sua empolgante carreira. Há um mês comanda a Secretaria de Comunicação de Santos (Secom). O jornalista escritor prepara agora o lançamento de seu livro “História de Santos”, previsto para janeiro do ano que vem.

 

Pelos corredores da Secom, dizem os funcionários, é proibido chamá-lo de secretário. “Sheik hierarquicamente está acima de secretário”.
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