O navegador Amyr Klink antes de partir para a sua 15ª viagem rumo à Antártica, esteve no Porto de Santos onde acompanhou a cerimônia de batizado do transatlântico inglês Island Star, que teve como madrinha sua esposa Marina Bandeira Klink. A estréia não foi somente do navio no país, mas do velejador que pela primeira vez embarcou num transatlântico. O destino seria Búzios, litoral do Rio de Janeiro.
Com a esposa e suas três filhas, as gêmeas Tamara e Laura de sete anos e a caçula Marininha de cinco, Amyr aproveitou a oportunidade para proferir uma palestra aos 1.700 passageiros do navio.
Extremamente divertido e informal, Amyr contou como surgiu a idéia de dar a volta ao mundo. Certa vez calculou quanto havia remado durante sete anos na raia olímpica da USP e percebeu que se traçasse uma linha reta poderia ter dado a volta ao mundo. Leu livros sobre o assunto e se empolgou em construir um barco.
Assim, iniciava a trajetória do maior navegador do Brasil. Ele conta como foi o começo no mar. “O desafio estava em não enfrentar o mar, e sim em se entender com o mar. Era um desafio de negociação, de respeito. Não era um desafio de coragem, arrogância, prepotência. Era um desafio apaixonante porque não tínhamos espaço em abundância nem para redundância. Tudo era muito calculado e preciso”.
Foto: www.amyrklink.com.br
Uma das experiências mais importantes que relatou foi quando fez a primeira expedição à Antártica. A previsão era de ficar 15 meses fora do país, acabou navegando por 22. “Nesta época percebi que o perigo não estava no mar, e sim no supermercado, no sistema de energia para cozinhar, no gás, e no diesel”.
Ele conta que ao se deparar com um grande iceberg as pessoas a bordo começam a valorizar cada instante e espaço. “A gente começa a ter um cuidado extraordinário com tudo o que a gente faz. A gente sabe que qualquer coisa que quebra, qualquer acidente, qualquer besteira que a gente fizer não tem conserto. Ao mesmo tempo a gente fica maravilhado com a imensidão da paisagem dos cenários exuberantes”.
É realmente incrível imaginar-se diante de tamanha massa de gelo. Klink conta que em janeiro deste ano viu o maior iceberg de sua vida com 165 metros de altura. Quatro anos atrás, teve o privilégio de ver de perto o mais extenso de todos: 185 km de extensão por 110 km de largura. Algo inexplicavelmente grandioso.
E não se cansa de ver esses espetáculos da natureza. “Todas as vezes eu fico maravilhado com a imensidão. É difícil se aproximar desse gelo”, fala emocionado.
Mas toda essa aventura tem um preço: a pontualidade. Para alguns, tarefa simples, corriqueira. Mas há quem faça desse pré-requisito da navegação uma tortura. Amyr Klink explica que a qualidade turística precisa desse fator. “Eu prezo profundamente a pontualidade. Esse tipo de atividade, o turismo, depende de segurança que só é obtida através da pontualidade”, conta.
Foto: www.amyrklink.com.br
Ele conta que ano passado quase perdeu o barco Paratii 2, de seis milhões de dólares, por causa de uma fotografia. “A gente se encantou demais para fazer as fotos. O problema que era abril, mês que se tem somente seis horas de luz. A gente tinha hora certa para chegar num porto seguro, passamos 15 minutos do prazo e quase tudo se acabou. Esses minutos foram loteria”, relembra. O problema é quando o gelo se desmancha e as placas pontiagudas mudam de posição, o risco para a embarcação é muito grande.
O velejador disse que tinha uma idéia errada com relação ao período que não tinha sol. Ele ficava aflito só de pensar que ficaria no escuro. “Descobri, na verdade, que as dificuldades maiores eram as domésticas e não do ambiente em que estava. Eu ficava apavorado com a idéia de ficar soterrado pela neve até descobrir que quando o barco é coberto pela neve ele fica muito mais confortável, aumenta a eficiência térmica”.
Quando viaja sozinho, tem que se preocupar com tudo o tempo todo. Ela conta que nunca dorme mais do que 45 minutos. No inverno, com o barco preso no gelo, chega a dormir 14 horas por dia.
Em todo o trajeto se encontra gelo a deriva. O controle não é feito somente pelos radares mas visualmente também. Um pedacinho de gelo fica invisível e pode afundar um navio. O segredo de uma navegação de sucesso é administrar o tempo e o risco.
A viagem à Antártica é inédita para as sua três filhas. A bordo do veleiro Paratii 2, de 30 metros e 100 toneladas, o navegador Amyr Klink retorna daqui a dois meses.
Quem é Amyr Klink
Nascido na capital paulista, filho de pai libanês e mãe sueca, o velejador Amyr Klink é formado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie. Dirige a Amyr Klink Planejamento e Pesquisa Ltda. e a Amyr Klink Projetos Especiais Ltda. Também é sócio-fundador do Museu Nacional do Mar, em São Francisco do Sul (SC) e da Revista Horizonte Geográfico.
É membro da Royal Geographical Society e assessor de expedições da Revista National Geographic Brasil. Ainda ministra palestras em seminários para empresas, escolas, universidades, instituições e associações, abordando temas como planejamento estratégico, gerenciamento de risco, qualidade e trabalho em equipe.
Escreveu sete livros e recebeu diversos prêmios. Em 2000 e 1999 recebeu o "Prêmio I-Best" - Os melhores sites brasileiros de internet - categoria: personalidades. Ganhou as duas categorias: popular e júri oficial. No mesmo ano foi agraciado com a “Tilman Medal”, conferida pelo Royal Cruising Club (R.C.C.) de Londres, aos responsáveis pelas mais bem planejadas e empreendidas expedições polares do mundo – Pela viagem de volta ao mundo navegando em altas latitudes. Em 1996, foi incluído no Guinness Book - Edição brasileira, em função da Invernagem Antártica e também em função da Travessia do Oceano Atlântico a remo, em 100 dias. Em 1994, Amyr recebeu o prêmio da ABGR de Gerente de Risco do Ano. Em 1993, foi agraciado com a “Tilman Medal” conferida pelo Royal Cruising Club de Londres – Pela viagem de invernagem em solitário. Também em 93, venceu o prêmio “Os melhores do Marketing de Seguros” da Fenaseg (Federação Nacional de Seguros).