Quinta, 21 Novembro 2024

 

Engenheiro químico, de formação, Eduardo Carvalhaes Jr., 52 anos, trabalha com corretagem e exportação de café há 19 anos e conta como originou sua atividade profissional, no Brasil.

Para falar do corretor de café é preciso contar a história dessa profissão, em nosso país, desde o início. A corretagem de café surgiu com o advento do comércio do produto. “Em 2003, o Brasil comemorou 270 anos da primeira exportação de café e 275 anos da chegada da primeira muda. O pé de café é oriundo do norte da África e chegou ao Brasil, pelo Pará”, comenta.

No entanto, as mudas não se adaptaram ao clima do norte e então foram plantadas no Rio de Janeiro, onde finalmente, deu início a produção de café que chegou ao Vale do Paraíba, norte do Estado de São Paulo.

Com a construção da ferrovia São Paulo Railway, pelo barão de Mauá, possibilitando a entrada do produto no interior do estado, houve a explosão do ciclo do café gerando assim riquezas na região.

Para Carvalhaes, a ferrovia São Paulo Railway é o marco do ciclo do café, no estado. “Antes do café, São Paulo era um estado pobre. Os estados ricos do Brasil eram a Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A partir do ciclo do café São Paulo enriqueceu, tornando-se essa locomotiva do Brasil que é”.

Segundo ele, o corretor é o profissional que tem conhecimento do grão de café e pode orientar o produtor sobre a qualidade da mercadoria. Em suma, o corretor de café é um consultor do produtor, assim como do comprador que traz os diversos lotes para o exportador e o torrador.

Carvalhaes afirma que o Brasil continua sendo o maior produtor de café, o maior exportador e o segundo maior consumidor, do mundo. “Há mais de 120 anos que o porto de Santos é o maior porto exportador de café do Brasil e do mundo”. Pelo nosso porto saem em torno de 55% a 60% do café exportado”.

No entanto, Carvalhaes salienta que o café representa apenas de 2% A 3%, da receita cambial brasileira. “Não porque o negócio de café diminuiu de tamanho no Brasil, mas sim porque a economia cresceu nos últimos 50 anos”, explica.

"Só os americanos consomem mais café. Como corretor de café, me orgulho de fazer parte deste agro-negócio que tem tanto a ver com a identidade do Brasil, assim como outros produtos agrícolas relacionados a outros países. Por exemplo, o vinho para a França e a Itália”, declara.

Na avaliação de Carvalhaes, o Brasil é o primeiro do ranking de exportação de grãos verdes de café, mas ainda gatinha nas vendas do produto industrializado, ou seja, misturado ou de maior valor agregado, o chamado blend. “Hoje, a Alemanha industrializa mais café para reexportação do que o Brasil. Estamos numa grande campanha a partir da Câmara Setorial de Café de São Paulo para exportar o produto com maior valor agregado (torrado, moído e manipulado), mas, é um trabalho muito difícil”.

Carvalhaes afirma que o Brasil ainda é mundialmente conhecido como exportador de volume e não só pela qualidade. “Nós temos café igual aos melhores do mundo, só precisamos divulgar isso, porém é muito difícil criarmos uma marca e convencer o consumidor estrangeiro, uma vez que as marcas de café industrializado já estão nas mãos de grandes torradores internacionais. É preciso convencer alguns mercados, lá fora, a comprar o café já industrializado no Brasil. Inclusive, as marcas comercializadas dentro do Brasil, pertencem às multinacionais como União, Caboclo, Pilão e Café do Ponto. O que nós precisamos para poder agregar valor ao nosso café é a marca, mas isso leva muito tempo”.

Carvalhaes diz que o setor investe no café industrializado há cerca de dez anos “mas eu diria que ainda leva muitos anos para que as exportações brasileiras de torrado e moído passem o valor das exportações de cafés verdes em termos de receita para o Brasil, se acontecer”, ressalva.

Um museu nacional está para ser montado na Bolsa Oficial de Café de Santos. A finalidade é mostrar a relação entre o café e a história de São Paulo e sua importância econômica, tanto para o estado quanto para o Brasil. 

A família Carvalhaes e o café

Eduardo é corretor de café desde 1985, quando passou a trabalhar nos negócios da família. O Escritório Carvalhaes existe desde 1918. Começou com os seus tios avós e antes disso, havia mais duas gerações da família que trabalhavam na exportação de café. “Eu já sou a 5a geração trabalhando com café”, orgulha-se.

A família chegou em Santos, oriunda do Sul de Minas Gerais, por volta de 1890. “O meu bisavô casou com minha bisavó, que morava em Santos. Ela era filha de alemães que já trabalhavam com exportação de café”, recorda.

As crises no mercado cafeeiro, também atingiram o clã. Primeiro em 1914, depois com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 29 de outubro de 1929 e em 1954, com o suicídio de Getúlio Vargas.

Contudo, com tenacidade e tino comercial, a família Carvalhaes sobreviveu a todas as crises, perdurando no mercado até os dias de hoje.

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