Segunda, 25 Novembro 2024

Visão multidimensional, análise mais holística do risco e confiabilidade são algumas habilidades que tem feito empresas apostarem em mulheres para seus departamentos de compliance.

O crescimento das áreas de integridade dentro das empresas, na esteira da cobrança da própria sociedade por transparência e ética, pode acabar sendo uma ferramenta na luta por equidade de gênero no mercado de trabalho. Não apenas porque apoia relações mais justas e sem discriminação no ambiente empresarial, mas, principalmente, porque está revelando o sucesso de habilidades ditas “femininas” na liderança dessas áreas nas organizações. Grandes empresas brasileiras e multinacionais já têm mulheres à frente dos departamentos de compliance, em um movimento lento, mas consistente.

Mulher Freepik

É uma questão de sobrevivência. Pesquisas de institutos internacionais, como o Catalyst, indicam que as mulheres enxergam os riscos de maneira diferente dos homens. “Quanto mais diversa é a equipe, melhor é o seu desempenho pelas decisões abrangerem mais pontos de vista. A inclusão de mulheres traz novos olhares para a governança empresarial tradicional, que compreende majoritariamente homens héteros e brancos. No compliance, que trata justamente de desafios éticos e conformidade, essas demandas precisam ser analisadas de diferentes pontos de vista”, explica Carolina Utida, ChiefAudit Officer da organização certificadora Certigov, que audita e concede selos que avaliam o grau de integridade de empresas que vendem a governos.

Segundo ela, a gestão de riscos pede um olhar atento e amplo, a capacidade de lidar com muitas variáveis ao mesmo tempo e uma compreensão profunda de cenários e pessoas, além da sensibilidade para tratarde temas como sustentabilidade e impactos ambientais. “Se você parar para pensar sob esses aspectos, verá que muitas dessas habilidades são bastante familiares às mulheres em seu dia a dia”, lembra.

O próprio Certigov é um exemplo desse movimento. A certificadora, idealizada e administrada por empreendedoras e mulheres especialistas no setor, foi lançada no final de 2016, época do auge das denúncias de corrupção a partir do acordo de leniência com a construtora Odebrecht e que culminou em centenas de prisões e condenações. A ideia era minimizar riscos nas cadeias de fornecimento, avaliando e sobre as melhores práticas anticorrupção e antissuborno, com base em critérios rigorosos.Hoje, já são 100 empresas certificadas.

“É possível observar o aumento na proporção de mulheres atuantes em áreas mais diversas e também uma mudança significativa na postura dentro dos ambientes de trabalho”, lembra Carolina que atua há mais de 10 anos com sistemas de gestão e certificações e iniciou sua vida profissional na indústria, prioritariamente ocupada por homens, em todos os níveis.

Para se ter uma ideia da importância deste movimento, em 2017,duas advogadas criaram o ComplianceWomenCommittee (CWC), grupo com o objetivo de trabalhar para a concretização do desenvolvimento profissional, empoderamento feminino, capacitação e a promoção das mulheres em cargos de liderança. Segundo o site da entidade, hoje o CWC abrange mais de 500 profissionais da área de compliance, com representantes no Brasil e no exterior.

Empresas como SAP, Cisco do Brasil, Grupo Latam Airlines, Amil e o Grupo Votorantim possuem mulheres à frente de seus compliances. Essa participação nos programas de integridade pode ser uma oportunidade de abrir espaço nos postos de comando empresarial.

A presença de mulheres no compliance e em cargos de liderança é um processo evolutivo que vem crescendo. Esses números, ainda pequenos, refletem uma questão cultural antiga em que as mulheres eram educadas para serem filhas, esposas e mães. Graças a vários movimentos feministas, elas foram conquistando o direito de serem e estarem onde quiserem.

Uma pesquisa divulgada em 2019 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), mostrou que 57% dos entrevistados concordaram que as iniciativas de diversidade melhoram o resultado das empresas. Também foi verificado um aumento nos lucros entre 5% e 20% nas companhias comandadas por mulheres. Outro levantamento, este brasileiro, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) em 2020, mostra que apenas 7,2% dos membros dos conselhos das empresas são mulheres. Ou seja, ainda há muito caminho para ser percorrido.

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