Serão oito anos e meio à frente da ABOL - Associação Brasileira de Operadores Logísticos, deixando importante legado para o setor, para a entidade e seus associados. A saída do executivo, como ele mesmo sintetiza, é o encerramento de um ciclo, tanto seu, profissional, quanto o início de uma nova fase para a entidade.
Durante oito anos e meio eles foram praticamente um só. No entanto, agora, chegou a hora de se separarem. Após fundar, erguer e estruturar a ABOL - Associação Brasileira de Operadores Logísticos, Cesar Meireles começa a preparar a passagem do timão da presidência da entidade. Meireles regozija-se em dizer que cumpriu seu mandato com plenitude, sendo reconhecido por todos que o conhecem, o admiram e vêm acompanhando seu escorreito trabalho à frente da ABOL, deixando suas marcas indeléveis e seus legados, como o Projeto de Lei (PL) nº 3.757 de 13/07/2020, de autoria do deputado Hugo Leal (PSD/RJ), em tramitação na Câmara dos Deputados, vários estudos sobre o setor, viagens técnicas e missões ao exterior, e a participação em diversos eventos, que vão levar a ABOL à uma nova fase, com necessárias mudanças e que a projetarão para a nova década.
Cesar Meireles esteve à frente da Abol por oito anos. Foto: Divulgação.
Meireles ingressou no projeto junto aos fundadores em 2012, ano de fundação da Associação, quando 16 empresários confiaram ao executivo a realização de um sonho: atuar em um setor mais estruturado, com maior segurança jurídica e preparado para o crescimento sustentado. Para atender aos anseios do grupo, foram necessárias análises minuciosas e melhor compreensão do mercado. "O objetivo era garantir maior segurança jurídica ao setor, para que pudesse operar em um melhor ambiente de negócios, podendo, assim, desenvolver mais atividades, gerar mais emprego e renda, atrair maiores investimentos e permitir ainda maior robustez a um setor que assim se vê caracterizado", afirma Meireles.
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E as ações feitas nesse período ratificam quase uma década de importantes conquistas. O destaque fica para o PL nº 3.757/2020, que é visto por Meireles como o corolário de um ciclo e, ao mesmo tempo, o ponto de partida para uma importantíssima etapa que pode vir a ser a consagração definitiva do setor. O projeto, que regulamenta a atividade do operador logístico no Brasil, foi protocolado em 13 de julho do ano passado, no auge da grave pandemia da Covid-19, exatamente no mês de aniversário de 8 anos da Associação. Atualmente, o documento está aguardando a nomeação do relator na CVT (Comissão de Viação e Transporte) da Câmara dos Deputados e continuará seguindo os trâmites regulamentares até a sanção presidencial.
“Quando me perguntam como me sinto ao renunciar à presidência da ABOL, não hesito em dizer que não é simples nem fácil para mim, que vi a ABOL nascer em minha casa, tendo ela como uma filha amada, mas que precisa seguir o seu destino, de forma autônoma, com identidade própria”.
Ao falar sobre o tempo em que esteve à frente da ABOL, Cesar Meireles destaca que, ao protocolar o PL, cumpre, regozijado, um dos mais importantes desafios contratuais e entregas que lhe foram demandados pelos fundadores. “O legado regulatório que ora deixamos, o qual em muito me honra,trata-se de fato de extrema relevância para o setor. O resultado aferido nesses oito anos e meio, trouxeram a maturidade, a visibilidade, o reconhecimento, a admiração e o respeito da ABOL de forma muito precoce”, destacou Meireles, enfatizando os primeiros passos dados quando a entidade ainda era sediada dentro da sua própria casa, onde ficou por três meses.
Trajetória
Contextualizar o que era o operador logístico para os 16 fundadores da Associação, assim como analisar o cenário mundial em relação à categoria setorial, foram as primeiras ações realizadas ainda em 2012/2013. Todos estavam voltados à definição e reconhecimento do operador logístico à imagem e semelhança do 3PL (Third Party Logistics Provider), como é conhecido globalmente, já que não havia um regramento definido na legislação brasileira, nem mesmo dos países mais avançados na questão logística.
A partir disso, foram feitas viagens técnicas para o exterior em busca das necessárias informações, tendo participado de vários eventos e fóruns em países como a Argentina, Uruguai, Peru, México, EUA, Holanda, Bélgica e Alemanha. O resultado dessa caminhada foi a elaboração de um estudo amplo, pleno e profundo sobre o setor. Esse, além de outros estudos, consiste em relevante legado deixado por Meireles, os quais podem ser consultados no site da ABOL (www.abolbrasil.org.br), gratuitamente.
O material desenvolvido pelo consórcio KPMG Consulting, Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados e FDC (Fundação Dom Cabral), traz a contextualização, as definições e a caracterização do segmento, além de uma rigorosa análise do ponto de vista regulatório de todos os setores nos quais os operadores logísticos estão presentes, a exemplo das operações em si, de boas práticas, tecnologias embarcadas, certificações, identificadores de performance, dentre outros detalhes reproduzidos em mais de 800 páginas. Por dever de justiça, Meireles faz questão de registrar a importante contribuição que teve a CEDOL (Câmara Empresária de Operadores Logísticos) argentina no entendimento global do trabalho realizado pela ABOL, ainda na sua fundação.
“Comparamos o Brasil com 16 nações, como Alemanha, Itália, Espanha, França, Portugal, Holanda, Bélgica, EUA, Canadá, Argentina, Chile, México, Uruguai, dentre outros. Com o extremo zelo de não sermos cabotinos, podemos dizer que esse estudo é a ‘certidão de nascimento’ do operador logístico no Brasil”, diz Meireles, destacando que o estudo foi criado após a identificação de que uma CNAE (Classificação Nacional de Atividade Econômica) não se aplicaria a esse setor, já que eles operam várias atividades, sendo integradores de todas elas e, portanto, integradores de CNAEs, numa ótica global de one stop shop, da primeira à última milha da cadeia logística de valor.
A síntese desse estudo é exatamente o PL, que apresenta de forma simples, objetiva e prática, duas questões fundamentais para a economia, para o setor e ao operador logístico, tendo, além da contextualização e definição do operador logísticos, a atualização da legislação do armazém geral, que é a mesma desde 1903. A trajetória de Meireles também inclui a filiação da Associação à CNT (Confederação Nacional dos Transportes)e à ALALOG (Associação Latinoamericana de Logística), ambas em 2016, e a sua inclusão no Fórum Permanente do Brasil Export. Tais conquistas, na análise de Meireles, mesmo após a sua saída, merecem ser continuadas.
“O Conselho Deliberativo, Fiscal e de Ética da ABOL têm mandato de dois anos renováveis por mais dois. Sempre entendi que o mesmo deveria acontecer na presidência da diretoria executiva. Pelo intenso trabalho realizado, com excelentes resultados, terminamos por renovar automaticamente esse mandato. No final de 2020 chegamos à convergência de que a alternância na diretoria executiva também traria oportunidades interessantes de renovação. Ainda não sei quem será o meu sucessor ou a minha sucessora, que está sendo selecionado(a) por headhunter junto ao Conselho Deliberativo. Sei apenas que cumpro o meu ciclo na ABOL, iniciando um novo na minha vida profissional”, afirmou o ainda presidente, que está pronto para novas oportunidades.
Futuro
Parcerias para atuação como conselheiro e consultor estão nos planos de Meireles, ainda que considere uma posição de executivo, como tem sido sua vida nos últimos 34 anos. “Com filhos criados, sinto-me livre para atuar em várias frentes e em outras regiões do país ou até da América Latina, levando em consideração, inclusive, poder retornar ao nordeste, à minha terra natal, a Bahia, ou, quem sabe, à Pernambuco, estado que me acolheu desde a adolescência”.
Como foco de atuação, Meireles enfatiza que essas três décadas de trabalho lhe credenciaram a atuar em toda a cadeia logística de valor, desde portos, retroportos, transportes em quaisquer modais, armazenagem geral e alfandegada, desenvolvimento de clusters e hubs logísticos, além, claro, em operadores logísticos de largo espectro. “Dá-me especial regozijo atuar em projetos de Fusões e Aquisições, ou no inglês M&A (Mergers and Acquisitions), dado ser profundo conhecedor do mercado; assim como em Relgov (Relações Institucionais e Governamentais), como também em projetos de definição e redefinição estratégica, projetos de turnaround, desenvolvimento de novos negócios (inclusive greenfield), hubs de inovação tecnológica e participação na criação de novas entidades (associações) de classe e de representação setorial”.
Quando o assunto é o futuro da ABOL, Meireles é enfático. “O sucesso do que realizamos até o presente não garante o êxito futuro”. Ele acredita que essa etapa do PL nº 3.757/2020 é crucial e vai levar a Associação a um novo espectro, entendimento e projeção. Na visão de Meireles, os fóruns, missões e estudos técnicos são absolutamente imprescindíveis para o continuado êxito da entidade.
“Desde 2015 vínhamos reproduzindo o congresso anual da ABOL, sempre no terceiro trimestre. Em 2020, por conta da pandemia, suspendemos os eventos presenciais. Para 2021 acredito que a realização do evento em modelo híbrido pode ser o início de uma nova estratégia da entidade para os próximos anos”. Para Meireles, o futuro do setor está na formatação e estruturação dos clusters, hubs e plataformas logísticas, sendo importante que a ABOL lidere essa onda de inovação disruptiva, sendo protagonista, inclusive, nos estudos e implantações de startups do setor, a exemplo das logtechs.
Além disso, Meireles destaca a importância e os benefícios de desenvolver convênios de cooperação com entidades acadêmicas e técnicas de primeira linha aqui e no exterior, com universidades e institutos de desenvolvimento e fomento setorial em países como os EUA, a Holanda, Bélgica e Alemanha. “Sempre nos nutrimos de benchmarking em excelência operacional e modelos de gestão, focando em melhores práticas e modelos referenciais de compliance. Manter essa trajetória é imprescindível para o contínuo crescimento da entidade, sempre com maior abrangência e aprofundamento em conhecimento e conteúdo de informações para o setor".
Já em tom de despedida, Meireles diz ser só gratidão. “Estou muito feliz, pois fui agraciado com o imenso desafio de fundar uma entidade como a ABOL, que se tornou, muito precocemente, referência no setor, respeitada e admirada por todos. A lista de agradecimentos é vasta, desde seus fundadores, a todos os associados, aos membros dos conselhos, às minhas colaboradoras diretas da diretoria executiva, aos parceiros externos, às entidades às quais nos filiamos (CNT, CIT, ALALOG, Brasil Exportetc), aos governos e seus executivos, aos amigos e parceiros das entidades congêneres, à academia e à imprensa em geral, aos operadores logísticos ainda não filiados à ABOL e todos aqueles que torceram muito para o êxito da Associação”.
Por fim, ao olhar para o futuro, Meireles destaca “criamos um ambiente que elevou bastante o sarrafo, portanto, pretendo não descansar um só dia, pois sinto-me renovado para dedicar-me a novos e desafiadores projetos, colocando-me, de imediato, já a partir de abril próximo, a disposição do mercado para empreender o que a mim possa vir a ser confiado!”