Iniciativa é de grupo de jovens e de diversos coletivos feministas da Baixada Santista que mobilizou mais de cinco mil pessoas em evento criado nas redes sociais.
A manifestação acontece no dia 8 de novembro próximo (domingo), na Praça da Independência, em Santos (SP), às 15 horas, e já conta com mais de oito mil pessoas confirmadas ou interessadas pelas redes sociais. O objetivo é denunciar a violência institucionalizada contra as mulheres trabalhadoras e a cultura do estupro que ficaram evidenciadas com o julgamento do caso da influencer catarinense Mariana Ferrer, em setembro último.
A ideia do protesto surgiu em conjunto por várias mulheres da cidade e agregou coletivos feministas como Ciranda Materna Baixada Santista, Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, Coletivo Feminista Classista Maria vai com as Outras, Frente pela Legalização do Aborto Baixada Santista, Organização Anarquista Socialismo Libertário e Promotoras Legais Populares de Santos. O ato é público e não está vinculado à candidaturas políticas.
A manifestação terá início na Praça da Independência e, após uma hora, seguirá pela Avenida Ana Costa até a Estação da Cidadania. A recomendação é que as participantes levem cartazes, utilizem roupa preta, estejam sempre de máscara e levem álcool em gel por causa da pandemia da Covid-19. Os organizadores propõem, ainda, que as mulheres presentes utilizem máscaras brancas com um X preto no centro, simbolizando o silêncio imposto às mulheres que pedem ajuda e denunciam as agressões.
Entenda o caso
A influencer acusou o empresário André de Camargo Aranha por estupro, ocorrido, numa festa, no final do ano de 2018. Na segunda semana de setembro último, chegou ao fim o julgamento online do acusado, sendo este considerado inocente da acusação de estupro de vulnerável. Na audiência, o advogado do réu, Cláudio Gastão da Rosa Filho, humilhou a jovem, afirmando, inclusive, que "jamais teria uma filha do seu nível" e criando situações extremamente desrespeitosas e humilhantes. Nesses momentos, o juiz Rudson Marcos fez intervenções tímidas.
As revelações do julgamento humilhante e incorreto tomaram conta das redes sociais nos últimos dias no Brasil e também tiveram repercussão internacional, depois que foram divulgadas pelo The Intercept Brasil, portal de notícias.
Culpa
A organização do ato Justiça por Mari Ferrer quer mostrar que esta decisão judicial reforça a culpabilização das mulheres pela agressão sexual e banaliza o estupro e o atentado violento ao pudor, já devidamente tipificados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como crimes hediondos mesmo sem causarem lesão corporal grave ou morte da vítima.
Estudo realizado pelo Fórum de Segurança Pública, em 2016, mostrou que 43% dos brasileiros do sexo masculino maiores de 16 anos acreditam que “mulheres que não se dão ao respeito são estupradas”. Somente em 2018 foram registrados 180 casos de estupro por dia, o que significa mais de 66.000 casos em um ano, sendo que 54% das vítimas tem menos de 13 anos, cerca de 81% são do sexo feminino e 51% são mulheres negras (13° Anuário de Segurança Pública). Isso faz com que as mulheres não denunciem justamente por medo de como serão tratadas após fazê-lo.