Quarta, 27 Novembro 2024

* Reprodução de matéria publicada no site do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp)

Com o objetivo de debater questões de interesse dos engenheiros e do País, o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo realizou mais uma de sua série de lives nesta quarta-feira (29/4). Desta vez, o tema foi "Retomada das obras e a recuperação da economia frente à pandemia do novo coronavírus". A atividade teve participação do consultor do projeto "Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento", Artur Araújo, e do coordenador dessa iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Fernando Palmezan.

infraestrutura

Diretor do sindicato, este último apresentou a atividade e comentou os pontos abordados. Ele lembrou que a entidade reúne 60 mil associados. Conta 400 dirigentes, o que garante ampla atuação e representação no Estado de São Paulo. E frisou: "Está em pauta a retomada das obras paradas [cerca de 14mil] e da engenharia como protagonista no projeto de recuperação econômica ao fim da pandemia. Nossa meta é o pleno emprego para a categoria e todos os trabalhadores do Brasil."

O governo federal apresentou, nesse sentido, o programa Pró-Brasil em 22 de abril, que prevê investimento de R$ 30 bilhões em três anos, basicamente em infraestrutura. Para Araújo, a iniciativa, contudo, reflete "nível de improvisação completo, entre o trágico e o cômico. Para se ter uma ideia, apresenta tabela sem preenchimento para mostrar os serviços, infelizmente. E o valor só faz cosquinhas diante das demandas de infraestrutura do País. Não passa do esboço de um rascunho. Se nos consultassem, o 'Cresce Brasil' poderia recheá-lo com pelo menos 600 páginas. Não há um único tema que não tenha sido tratado ao longo dos anos. E, tranquilamente, um plano sério teria ordem de grandeza de trilhões de reais." A iniciativa da FNE, como salientou, abrange propostas factíveis que possibilitariam a reativação da economia a partir do investimento público.

Conforme sua explanação, projeto nacional tem ainda o desafio da reindustrialização. "O Brasil abandonou sua própria indústria e estamos pagando o preço. Não temos condições de fazer um trilho para trem." A despeito de entender que "apresentar um plano já é um começo", Palmezan completou: "A falta de planejamento é assombrosa. Não temos material para produzir equipamentos necessários diante da pandemia, como respiradores. Pesquisa, desenvolvimento e inovação são muito frágeis. Precisamos voltar a apostar nessas instituições."

Ainda nessa direção, entre as empresas estratégicas, ele comentou sobre a situação da Embraer - sobretudo após a Boeing anunciar em 25 de abril o cancelamento de acordo para aquisição do controle de jatos comerciais (confira Palavra do Murilo). "Tem 18 mil funcionários, entre os quais mais de 4 mil engenheiros e 3 mil técnicos. Produz riqueza, tecnologia, conhecimento e inovação. Precisamos pensar no que foi feito."

Araújo concorda: "No caso da Embraer, ter se desfeito a negociação abriu uma janela de oportunidades e aproveitá-la é chave na saída da crise. É uma companhia extremamente competitiva, internacionalmente, tem altíssima agregação de valor. É uma rede de apoio à inovação em muitos setores, gera cadeias produtivas altamente sofisticadas e empregos de qualidade." O consultor do "Cresce Brasil" citou ainda duas outras empresas essenciais nessa direção: Petrobrás e Eletrobrás, sob mira para privatização. "Não é o momento de pensar em vender. Ambas movimentam a economia com grande geração de empregos no Brasil, não podemos abrir mão disso", ratificou Palmezan, que também jogou luz sobre a importância de um programa habitacional como o Minha Casa Minha Vida à garantia de postos de trabalho e moradia. Além do Sistema Único de Saúde (SUS) e de saneamento básico de qualidade.

Saúde pública
"Relato de comunidades no Rio de Janeiro mostram áreas desprovida de saneamento básico e água tratada. Como lavar as mãos onde não tem água?", pontuou Araújo, corroborando a preocupação e lembrando de uma das medidas fundamentais diante da pandemia. "O investimento é grande. Embora retorne ao eliminar custos em áreas como a saúde, até hoje não foi executado. Imagine nas mãos de uma empresa privada, sobretudo em locais distantes. O sistema público garante o subsídio cruzado mediante pagamento de tarifas, já que o objetivo central não é o lucro, muito embora uma boa empresa estatal seja superavitária, como por exemplo a Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo]."

Quanto ao SUS, o consultor do "Cresce Brasil" considera uma "felicidade não ter sido desmotado". "Vejam os Estados Unidos. Estão sofrendo por não ter mecanismos de coordenação na saúde pública, imagine essa situação no Brasil. É absolutamente inviável a gestão por uma miríade de coisas privadas quando o problema é de natureza coletiva, o mercado não substitui o Estado, há tarefas que não responde." O que falta, ponderou, é investimento no SUS.

Ainda em relação à saúde, observou: "Que falta faz a engenharia nessa área. Por exemplo, na produção de máscaras de pano. Temos um parque têxtil fantástico e há enorme conhecimento de tecnologia de materiais, inclusive sintéticos. Há plantas industriais capazes de fabricar componentes para montar respiradores baratos, sem produção por falta desses itens. O que falhou é que não houve chamamento do governo a um plano para reconverter as fábricas. A crise nos mostrou o quanto a engenharia é fundamental para se buscarem soluções ótimas."

Tanto ele quanto Palmezan entendem que a pandemia desmascarou a ideia de Estado mínimo como panaceia. "As principais áreas ligadas à engenharia, no meu entender, devem estar nas mãos do Estado, com controle social."

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