Como tornar um porto ainda mais ativo economicamente? No Porto do Rio Grande, como defende o prefeito da cidade gaúcha, Alexandre Lindenmeyer (PT), é com a utilização de mais de 1.500 hectares de retroárea para a implementação de um “porto indústria”.
Prefeito Alexandre Lindenmeyer destaca papel do porto local para a economia da cidade.
Imagem reproduzida a partir de vídeo de YouTube.
Convidamos os internautas a conhecer mais como se dá a relação entre o único porto marítimo do Estado do Rio Grande do Sul e a população rio-grandense – quais os pontos positivos e os negativos. Renovamos o convite para que todos se engajem nesse debate deixando comentários, ideias, sugestões, críticas sobre como prosseguir com o nosso WebSummit “Porto & Cidade – Em direção a elos sustentáveis” pelos portos brasileiros.
Primogênito gaúcho
Rio Grande foi o primeiro município do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil. Sua fundação colonial foi realizada por açorianos, em 1737, mas foi povoado por indígenas dos povos Minuano e Carijós. Ocupa uma área territorial de 2. 817,48 km², a maior parte rural, com uma população de mais de 200 mil habitantes (IBGE, 2014) e um IDH de 0,774, considerado alto para a realidade da região, chamada “Metade Sul”, que vive historicamente muitas dificuldades para consolidar seu desenvolvimento. Ali está a Lagoa dos Patos (a maior de água doce do mundo), a praia do Cassino (a maior do mundo) e o Parque do Taim.
Porto do Mercosul
O Porto do Rio Grande, único marítimo do estado gaúcho, é considerado o porto do Mercosul, com importações e exportações para todos os continentes, destacando-se a exportação de grãos e importação de contêineres e fertilizantes.
Economia
A economia do município vem crescendo nos últimos anos no âmbito estadual (4º maior PIB) e nacional, tendo como principal atividade a portuária, com operações no porto público e terminais privados e a ampliação do canal no porto. Os incentivos públicos e privados no setor incrementam a cadeia produtiva e consolidam também o polo naval. As atividades econômicas se expandem para o turismo, a agricultura, a indústria e o comércio e serviços. O polo naval, criado em 2010 pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, colocou em operação a primeira plataforma petrolífera (P-53 da Petrobras) e construiu as plataformas de petróleo P55, P58 e P63, que estão em operação na extração de petróleo.
O prefeito
Essa cidade cheia de histórias é governada por Alexandre Duarte Lindenmeyer, nascido na cidade, em 1963, e formado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande (UFRG). Foi presidente do Sport Club Rio Grande (o clube de futebol mais antigo do País). Já foi vereador e deputado estadual. Assumiu seu primeiro mandato de prefeito em 2012, e o segundo encerra em 2020. O lema da sua gestão é “Rio Grande comvida – cidade humana, inteligente e sustentável”.
Vista aérea do porto velho do Porto de Rio Grande. Crédito: site Portos do Rio Grande do Sul.
Portogente – Como o senhor definiria a relação entre o porto e a sua cidade?
Alexandre Lindenmeyer - Primeiramente, é fundamental mencionarmos que a cidade do Rio Grande é do tamanho atual devido a um polo de referência estadual, nacional e, por vezes, internacional, que é a existência desse Porto, que se coloca em uma condição de logística extraordinária, principalmente, pelo escoamento da Lagoa dos Patos. Não foi por acaso que aqui houve, desde os primórdios, entreveros entre espanhóis e portugueses, pela importância logística que esse Porto tem para a região como um todo: temos a presença do 5º Distrito Naval, a base de apoio para os trabalhos na Antártida, a nossa universidade, dos mares, do oceano, por conta da nossa posição geográfica. Na questão social, oportuniza a geração de emprego e de renda, além do fato de fortalecer a própria economia local da cidade. É uma grande estrutura que possui mais de 22 terminais.
Como se dá o diálogo entre a Administração Municipal e a Autoridade Portuária?
Temos, às vezes mais, outras menos, dependendo de quem está na administração do Porto, um diálogo mais direto, mais aberto, por vezes nem tanto. Estou há sete anos, indo para o oitavo ano de governo e já vivenciei pelo menos três administrações. No ano passado tivemos o início de uma outra administração.
A relação atual é de diálogo, na busca de alternativas para solucionar os impasses que envolvem desde a utilização do Porto Histórico, que dependemos de autorizações, preocupações ambientais, preservação do nosso estuário, dragagem, mobilidade dos caminhões no entorno da cidade etc.
Definiria como uma relação de diálogo permanente, que, às vezes, é mais ou menos efetiva. Agora mesmo estamos trabalhando com a Administração Portuária em torno do projeto de revitalização do Porto Histórico, uma pauta que envolve a administração municipal, o governo do estado e o próprio Porto.
Atividade intensa do terminal de granéis sólidos, Termasa. Crédito: Crédito: site Portos do Rio Grande do Sul.
Ter um porto localizado na sua cidade significa desenvolvimento econômico para o município?
Rio Grande é considerada o terceiro polo turístico do Estado do Rio Grande do Sul, em termos domésticos, e quarto em termos de estrangeiros. Isso se dá por vários fatores. O turismo de negócios e de lazer, as nossas praias, a ilha dos marinheiros, a Estação Ecológica do Taim. O turismo de negócio se dá pela presença do Porto. Qualquer atividade pode gerar impactos negativos. Entre o ônus e o bônus, eu não tenho dúvida que a presença do Porto é um diferencial estratégico para a superação das adversidades, dificuldades que se têm por vezes em uma economia combalida, estagnada como estamos vivendo no País e no Rio Grande do Sul.
Os trabalhadores no Porto do Rio Grande. Crédito: site Portos do Rio Grande do Sul.
O município de Rio Grande consegue se manter, mesmo depois de uma retração significativa na indústria naval, no polo naval que se instalou aqui (e isso não foi por acaso, tinha berço de cais). Estamos sobrevivendo, superando as adversidades, e o Porto tem uma função extraordinária nisso. O próprio Distrito Naval que mencionei, a universidade voltada ao mar, que tem toda uma relação com o nosso Porto. Entendo que traz muito mais benefícios para a população do que os problemas que possam ser gerados pela presença desse equipamento tão importante de logística que é o Porto de Rio Grande.
Como a municipalidade reduz ou mitiga problemas relacionados ao meio ambiente?
O Porto de Rio Grande é o primeiro Porto, segundo a informação que tenho, a criar uma Unidade de Preservação Ambiental. Esse olhar atento temos que ter na preservação do nosso estuário. Precisamos de mais investimentos na prevenção, para que em caso de acidentes possamos ter tempo de resposta rápida para mitigar qualquer impacto ambiental em decorrência da atividade operacional ligada ao Porto. As ações preventivas passam pela Unidade de preservação do Porto, com a Secretaria de Meio Ambiente, do município, a relação direta com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e com o Gabinete de Gestão Integrada de Segurança, que envolve também a questão da segurança ambiental. Isso tudo trabalhando a questão da sustentabilidade, que é o cartão exigido em qualquer contexto mundial atual. Isso faz parte de um diálogo permanente que temos com a administração portuária. A sustentabilidade é o cartão exigido em qualquer contexto mundial atual.
Cidade e Porto com fortes laços. Crédito: site Portos do Rio Grande do Sul.
E problemas e soluções nessa relação?
Um problema é o uso da gestão retroárea portuária. Durante muito tempo isso ficou de fora da competência de gestão do Porto, mas entendemos que a política que está sendo proposta de "Porto Indústria" é algo que irá proporcionar o adensamento da retroárea, que hoje possui mais de 1.500 hectares ociosos. Uma retroárea extraordinária que precisa dessa aproximação da administração municipal com a administração portuária. Uma oportunidade de empreendimentos licenciados, adequados ao Plano Diretor do Município, e ao potencial de geração de empregos.
Em relação ao Porto Histórico de Rio Grande, temos soluções focadas na utilização da área do sítio histórico, com uma visão compartilhada transformarmos essa área em um equipamento de desenvolvimento econômico que envolva negócios e turismo, pela sua beleza. Em relação a outros problemas ambientais, impactos que podemos ter no entorno, estamos fazendo infraestrutura nos bairros Getúlio Vargas e Santa Tereza.