As fusões e aquisições serão impulsionadas pela necessidade de responder à guerra comercial EUA-China, de acordo com 77% dos entrevistados
As empresas globais estão enfrentando incertezas econômicas e desafios geopolíticos para concluir acordos de fusões e aquisições. No entanto, esse é um mercado que deve estar no centro das discussões do mercado mundial em 2020. É o que revelam pesquisas conduzidas pela empresa de consultoria e auditoria Baker Tilly International e pelo provedor de inteligência de fusões e aquisições, Mergermarket, divulgadas no relatório “Dealmakers globais: Perspectivas de fusões e aquisições internacionais 2019”, realizadas com 150 “negociadores, ou dealmakers”, em todo o mundo.
O relatório foi anunciado no fim de outubro, na Conferência Mundial da Baker Tilly International, realizada em Singapura, e explora as tendências que moldam o mercado global de fusões e aquisições. Também apresenta as áreas de oportunidades - principais mercados em crescimento e setores aquecidos - onde os negociadores provavelmente encontrarão valor no próximo ano. De acordo com as pesquisas, 54% dos entrevistados preveem um aumento nos negócios de fusões e aquisições já em 2020. 71% deles dizem que expandirão seus investimentos além-fronteiras à medida que explorarem os mercados estrangeiros, apesar das turbulências do cenário global.
O Brasil aparece no Top 10 das oportunidades com 19% das intenções de negócios. Embora seja o 10º país do ranking, ainda fica à frente de outros mercados interessantes que não foram bem classificados pelos “dealmakers”. O sócio líder da Baker Tilly no Brasil, Alexandre Labetta, vê com otimismo a presença no Brasil na lista. “Comprova o aumento de credibilidade do Brasil e o potencial para o sucesso de grandes negócios. O mercado de fusões e aquisições de empresas brasileiras vem se desenvolvendo constantemente com recente aumento de negócios. As operações geralmente concentradas entre as grandes companhias vêm se disseminando também entre as organizações menores e deve prosseguir”, comenta Labetta.
Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os negócios de fusões e aquisições avançaram 28% no ano passado. Os anúncios envolvendo aquisições de controle, incorporações e vendas de participações minoritárias, totalizaram R$ 177,2 bilhões, uma elevação de 28% em relação a 2017. Houve, porém, redução no número de negócios, já que este volume correspondeu a 140 anúncios contra 143 ocorridos em 2017. Apenas três segmentos representaram 49,5% do total. O setor de papel e celulose respondeu por 26,9% dos recursos, seguido de Energia Elétrica (11,6%) e TI e Telecomunicações (11,0%). Mesmo estes setores se caracterizaram pela concentração em poucas operações. Papel e celulose, o segmento de maior volume, foi resultado de duas operações. Os três setores líderes em volume representaram 22,1% do total de número de operações no ano.
Na visão do sócio da área de mercados estratégicos da Baker Tilly no Brasil, Otaniel Martins, apesar do aumento das transações de fusões e aquisições no Brasil, o volume de negócios é ainda inferior ao de outras localidades por questões que passam pela cultura empresarial e chegam até a economia e política brasileira. “Em parte, a cultura empresarial, aliada com a baixa governança de forma geral e o volume tímido de negócios com potenciais de sinergia com o mercado global impactam diretamente nesses números. Por outro lado, o ambiente político e a legislação brasileira não passam a segurança esperada e o mercado sofre com a ausência de regras claras e consolidadas”, declara ele.