A Pesquisa Origem e Destino - OD 2017, realizada a cada dez anos pelo Metrô, é considerada uma ferramenta extremamente fundamental para o planejamento de transportes e urbano. Os resultados indicam caminhos para a formulação de políticas públicas de transporte, especialmente do sistema de alta capacidade, como os transportes sobre trilhos. De acordo com a última pesquisa divulgada, houve um investimento na expansão do Metrô na metrópole (a rede cresceu cerca de 50%), mas privilegiando áreas consolidadas, com destaque para o vetor sudoeste da metrópole em detrimento às regiões periféricas, principalmente municípios carentes da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).
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Segundo a arquiteta e urbanista e diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie Angélica Benatti Alvim, de modo geral, a expansão da rede de Metrô, em integração com modernização da Ferrovia e novos corredores, privilegiou áreas onde atua o mercado imobiliário e residem classes de alta e média rendas, especialmente no município de São Paulo.
"A população que mora nestas áreas utiliza a rede de transporte público com maior frequência e facilidade, muitas vezes pagando apenas uma tarifa ou bilhete integrado. Por outro lado, devido à baixa oferta de transporte público em áreas e municípios periféricos, associado ao acesso facilitado ao crédito para aquisição de carro, combinado com o fenômeno do uso do aplicativo para transporte público individual (taxi/uber), ampliou significativamente o uso do transporte individual pelas classes de menor renda", diz a professora.
O uso do transporte público coletivo na cidade aumentou, graças aos investimentos realizados ampliação de corredores e faixas de ônibus, não alterou o cenário: o percentual de viagens por transporte coletivo ainda é maior que o individual. "No entanto, se continuarmos com este modelo de política pública reforçando áreas infraestruturadas em detrimento às áreas periféricas, as disparidades irão se acentuar. Os resultados indicam também a ausência de planejamento e governança metropolitana integrados. E o problema pode ser acentuado com a extinção da Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano)", alerta a especialista, complementando: "sem uma visão sistêmica da metrópole, a formulação e implementação de planos urbanos e políticas de transporte integrados, com a consolidação de novas centralidades, o problema irá se agravar nos próximos dez anos", observa a arquiteta.
Portanto, os resultados apontam para a persistência de um modelo histórico de desenvolvimento urbano, onde as mesmas áreas infraestruturadas apresentam maior concentração de empregos e atividades econômicas, investimentos imobiliários, habitação de médio e alto padrões e infraestrutura de mobilidade. "Na minha avaliação, esta atual pesquisa acentua os resultados da mini OD 2012, que já indicava a necessidade de rever as políticas públicas, de modo a favorecer as populações de menor renda e reduzir o número de automóveis da metrópole", finaliza.