Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).
A eleição do empresário Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos só serviu até agora para levar mais conturbação ao cenário econômico mundial, que já estava nebuloso desde que o Reino Unido decidira deixar a União Europeia, depois de consulta à própria população (Brexit). Para piorar, há mudanças políticas em curso na Itália, Holanda, França e Alemanha insufladas por um sentimento de xenofobia, forma de preconceito que se caracteriza pela aversão e discriminação dirigidas a pessoas de outras raças, culturas, crenças e grupos. Essa aversão pode desenvolver sentimentos de ódio, animosidade e preconceito contra tudo o que uma sociedade julga ser diferente, refletindo-se nos resultados das eleições nacionais.
Ainda que não tenha apresentado um programa formal de governo, Trump já deixou claro que pretende renegociar o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), assinado em 1994 com Canadá e México. Como se sabe, o Nafta impõe tarifas de 35% às importações provenientes do México e de 45% aos produtos chineses. Além de prometer construir um muro na fronteira com o México, deportar imigrantes ilegais e aumentar o protecionismo comercial, o novo presidente já defendeu em discursos que os Estados Unidos rompam seus acordos comerciais com outros países e blocos.
Em função disso, além da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla em inglês) com a União Europeia, que ainda não está em vigor, poderiam ser afetados acordos de livre-comércio que os Estados Unidos mantêm com mais de 20 países, nos quais existem compromissos de redução tarifária recíproca assim como de eliminação de barreiras comerciais.
Sem contar que, conforme deu a entender Trump, os Estados Unidos poderiam sair do Sistema Multilateral de Comércio, que é regulado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), dirigida pelo diplomata brasileiro Roberto de Azevêdo. Diante disso, se formalizadas essas rupturas, a XI Conferência Ministerial da OMC marcada para dezembro de 2017, em Buenos Aires, assume proporções decisivas para o futuro do comércio internacional.
É de se lembrar que a X Conferência Ministerial, realizada, em dezembro de 2015, em Nairóbi, no Quênia, já apresentou resultados que permitiram dar um passo importante na liberalização do comércio internacional de produtos agrícolas. Aliás, os resultados de Nairóbi mostraram a capacidade da OMC em alcançar conquistas relevantes num contexto multilateral e não discriminatório.
Diante de um crescimento exacerbado do protecionismo por parte dos Estados Unidos, só a OMC terá condições de dar respostas adequadas com reformas que permitam maior acesso dos produtos dos países em desenvolvimento aos mercados internacionais, além de promover condições mais justas no comércio internacional.