Claudio R. Biscuola é engenheiro e gerente de Operações da Intertek, uma das empresas credenciadas para a realização da autovistoria de gás no Rio de Janeiro
Qual foi a última vez que você checou as instalações de gás do seu imóvel? A resposta que muitos brasileiros vão dar será nunca. Isso porque a maioria da população não tem a cultura de realizar a verificação e manutenção periódica em suas residências. O que muitos não sabem é que podem estar literalmente vivendo com um inimigo silencioso e invisível debaixo de seu próprio teto.
Não são poucos os casos de acidentes, que presenciamos frequentemente, por explosões ou intoxicação causadas por vazamento de gás canalizado, podendo ocasionar até a morte. Os estragos podem ocorrer também em menores proporções, levando a danos à saúde dos moradores pela exposição contínua ao gás natural, altamente tóxico.
Em um dos casos mais recentes, ocorrido em maio de 2015, várias pessoas ficaram feridas e uma morreu em decorrência de uma explosão num apartamento em São Conrado, na cidade do Rio de Janeiro.
Para evitar este tipo de acidente causado por negligência, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, em setembro de 2014, promulgou a Lei nº 6.890 – Lei da Autovistoria de Gás, que determina a obrigatoriedade da inspeção de segurança nas instalações de gás de unidades comerciais e residenciais do Estado do Rio de Janeiro.
A ideia não é somente garantir a segurança imediata dos moradores, mas, principalmente, criar a cultura da inspeção e manutenção das instalações com foco na prevenção.
São diversos os perigos que podem estar escondidos nas instalações de gás canalizado, assim como os problemas provenientes de uma instalação não adequada, podendo ir desde aumento do consumo, falta de abastecimento e mal funcionamento de equipamentos, até risco de morte por intoxicação e explosão.
A vistoria inclui a inspeção de uma série de componentes, desconhecidos dos consumidores, mas que podem trazer sérios riscos à edificação e à vida dos moradores.
Além da tubulação, registros, sistemas de proteção, itens pouco citados podem esconder grandes perigos. Um aquecedor de circuito aberto ou a chaminé do aquecedor posicionada em declive, por exemplo, impede que os gases sejam dispersados e faz com que fiquem concentrados dentro do ambiente, causando riscos não só de explosão e morte por intoxicação, mas, em longo prazo, prejuízos à saúde por inalação contínua de gases tóxicos.
Nos ambientes que têm aquecedores, um fator primordial é a existência de um basculante ou janela que tenha saída para uma área externa e que permaneça constantemente aberta, garantindo assim a abertura permanente exigida pela norma. Pois no caso de um vazamento, é necessário ter um canal livre para que os gases possam se dispersar.
A queima inadequada nas bocas do fogão, apresentando coloração amarela, ou problemas na combustão ou instalação de aquecedores, exaustores, podem gerar a presença de gases tóxicos, como o monóxido de carbono, que, estando acima dos níveis toleráveis, causam desde tonturas, náuseas e convulsões, até a morte, em casos mais graves.
O vazamento de gás é incolor, inodoro e, na maioria das vezes, é fatal. Portanto, é fundamental realizar a autovistoria para ter certeza de que as instalações estão em plena condição de uso, visando a segurança, não só dos moradores da edificação, mas de toda a comunidade no entorno.