Sexta, 22 Novembro 2024

Engenheiro eletrônico, vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

A partir da conclusão dos grandes armadores mundiais de que o crescimento do tamanho dos navios cargueiros seria irreversível para baratear custos e aumentar a produtividade, o trabalho de dragagem nos portos tornou-se cada vez mais necessário e oneroso. A tal ponto essa tendência chegou que muitos portos da costa brasileira, como o de Itajaí-SC, por exemplo, já passaram a sentir os seus efeitos, pois começam a ser descartados em favor daqueles complexos portuários que oferecem melhores condições de navegabilidade.

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A experiência mundial, no entanto, tem mostrado que o trabalho de dragagem por si só não resolve o problema, apenas o ameniza por algum tempo. Basta lembrar que, no caso do Porto de Santos, a região de vez em quando é assolada por fortes tempestades, que elevam a maré e podem provocar até a interdição da barra. A consequência desse fenômeno é o assoreamento do canal de navegação e a inutilização do trabalho de dragagem realizado anteriormente, além do desperdício de considerável soma de recursos públicos.

Foi para procurar evitar esses problemas que portos como o de Roterdã, na Holanda, e Shangai, na China, já procuraram expandir suas instalações para o mar aberto, garantindo maiores profundidades para o tráfego dos megacargueiros, além de eliminar elevados custos com obras de dragagem. Obviamente, a construção de plataformas off shore (afastadas da costa) exige investimentos pesadíssimos, mas que a longo prazo serão compensadores.

É claro que esse futuro não é para já, ainda que se afigure como inevitável. Por isso, ainda por longo tempo, o Porto de Santos dependerá de obras de dragagem para continuar a receber embarcações de maior porte, como as que prevêem o aprofundamento das cotas de 15 para 17 metros no canal externo e de 15 para 15,5 no interno, além do derrocamento de formações rochosas para o estabelecimento da cota de 16 metros no canal do estuário.

Quando essas obras serão iniciadas, ainda não se sabe, até porque a Secretaria de Portos (SEP) pretende dar início neste ano aos estudos necessários para a sua viabilização. Além disso, o governo federal pretende conceder à iniciativa privada o serviço de dragagem do canal de acesso, medida inédita na história do Porto. O que resta saber é se haverá empresa privada disposta a correr os riscos de assumir esse compromisso.

Como se sabe, há pouco tempo, o processo de licitação para as obras de dragagem deu em nada, já que o governo considerou excessivamente altos os custos apresentados pelas empresas concorrentes. Acontece que a Natureza não costuma esperar pela boa vontade dos homens. Pelo contrário, tem dado respostas duras à imprevidência humana. E o assoreamento do canal de navegação é inevitável.

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