É Chief Operating Officer do porto de Liverpool, administrado pela Peel Ports Group, um dos maiores grupos de portos do Reino Unido, que possui e opera sete dos mais importantes portos da Irlanda e do Reino Unido
Quando preparava conteúdo para uma apresentação no TOC Europe (evento global de empresas portuárias), fiquei impressionado com as semelhanças entre o que está acontecendo na indústria naval hoje e a Revolução Industrial, iniciada no século 18. De relance, você pode pensar que os dois não estão relacionados de forma alguma. Mas vamos analisar mais de perto.
A Revolução Industrial marcou uma mudança de paradigma na história: foi o início da transição para novos processos e métodos de produção. Tudo começou na Grã-Bretanha e se espalhou para a Europa Ocidental e os EUA dentro de algumas décadas, e os meios de transporte sofreram uma das grandes transformações desse período.
No começo da Revolução, o transporte terrestre era realizado por rios navegáveis e estradas, com navios costeiros utilizados para transportar mercadorias pesadas por mar. Ainda não haviam sido construídos canais. A Revolução Industrial melhorou a infraestrutura de transportes da Grã-Bretanha, com um sistema de rodovias com pedágio, um sistema de canais e vias aquáticas, e uma rede ferroviária. Os canais foram a primeira tecnologia a permitir que matérias-primas a granel fossem facilmente transportadas por todo o país, de forma mais barata e rápida do que antes. Foi uma importantíssima modificação no comércio.
Agora, na indústria naval, há outra mudança dramática se engendrando, cujas dimensões se comparam às transformações do transporte na era da revolução. Basta olhar o tamanho dos navios de contêineres, que aumentou mais de 3.500% desde meados dos anos 1950. Hoje, cerca de um em cada quatro navios de contêineres no mar é pós-Panamax – o equivalente a 55% da capacidade total da frota mundial. Estamos agora entrando na era de navios Nova Panamax (12.500 TEU) e Triplo E (18.500 TEU), em preparação para a tão aguardada abertura da expansão do Canal do Panamá, em 2016. Isso tudo quer dizer que a indústria está sendo moldada por uma estratégia de redução de custos, que minimiza os custos por TEU movido através de enormes investimentos em igualmente enormes e rentáveis embarcações.
Também estamos vendo um movimento tático entre as operadoras para iniciar novas alianças globais e, assim, ter maior controle sobre as principais rotas de comércio de carga. Embora o plano da Maersk Line para criar uma aliança com suas rivais CMA-CGM, da França, e a Mediterranean Shipping Co., da Suíça, tenha sido aprovado em março pelos reguladores dos EUA, os reguladores chineses rejeitaram a proposta na semana passada. Apesar desse revés, a tendência para a consolidação na indústria naval é definitiva e vamos ver mais atividades do tipo nos próximos anos.
O cenário está mudando rapidamente. O que isso significa para os operadores portuários? Essencialmente, os portos precisam se preocupar constantemente em manter infraestrutura, operações e capacidade alinhadas às reviravoltas vindouras na dinâmica do mercado. A Peel Ports, por exemplo, está investindo mais de £300 milhões na reforma do porto de Liverpool, na Inglaterra, para desenvolver e expandir a infraestrutura e instalações existentes e criar o terminal de contêineres de águas profundas mais importante do Reino Unido.
O porto de Liverpool já é o terceiro maior terminal de contêineres da Grã-Bretanha – e o maior a servir o mercado transatlântico. Quando a expansão for concluída, no fim de 2015, Liverpool2 será o principal porto transatlântico do Reino Unido, capaz de acomodar 95% da frota mundial de contêineres, fazendo a ligação com os mercados das Américas, da Índia, do Extremo Oriente, do Caribe, do Mediterrâneo e do Báltico.
Mais da metade da população do Reino Unido – 35 milhões de pessoas – está localizada em um raio de até 250km do porto. O Liverpool2 também irá se conectar diretamente a uma série de centros de logística ao redor, pelo Manchester Ship Canal. Isso irá resultar no desenvolvimento do primeiro "centro de logística verde" do Reino Unido, que irá reduzir os custos, o congestionamento e a pegada de carbono para empresas de importação e exportação de, e para, o noroeste da Inglaterra.
É hora de uma nova mudança de paradigma no transporte. Existe uma "revolução" (ou "evolução", levando em conta que as mudanças vêm acontecendo há 50 anos) em curso na indústria naval, que ecoa os sentimentos da época da Revolução Industrial por ter o potencial de afetar direta e positivamente a vida do cidadão, tornando mais eficiente o modelo de mundo globalizado concebido séculos atrás.