Quinta, 16 Outubro 2025

💭 Opinião | Renata Santana
Jornalista, estrategista digital e especialista em tecnologia
Renata Santana

A mobilidade urbana está atravessando uma transformação silenciosa, mas profunda e, desta vez, ela vem pelo ar. A expansão das entregas por drones do iFood não é apenas um avanço tecnológico: ela é um marco na forma como entendemos o transporte de curta distância e o papel da automação nas cidades brasileiras.

✈️ A nova era da mobilidade: do chão ao céu

Com a autorização da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) para operar rotas comerciais com drones, o iFood assume o protagonismo de quem aposta em inovação real, saindo na frente de gigantes do setor logístico.

Mais do que uma curiosidade tecnológica, o projeto representa o início de uma nova logística urbana — híbrida, aérea e terrestre.

Os testes realizados em Aracaju (SE) impressionam: trajetos que levariam até uma hora por via terrestre estão sendo cumpridos em apenas um minuto de voo. É um ganho de tempo inquestionável e um sinal de que o transporte aéreo urbano está deixando de ser uma visão futurista para se tornar uma alternativa concreta.

Os drones do iFood, capazes de carregar até 2,5 kg em rotas de até 3 km, têm papel estratégico. Eles funcionam como uma ponte aérea de última milha, levando pedidos até pontos de entrega (hubs), onde o entregador finaliza o trajeto.
É o nascimento de um modelo multimodal, que une eficiência tecnológica e trabalho humano de forma complementar.

🌱 Benefícios imediatos e potenciais escondidos

Os ganhos são evidentes: redução do tempo de entrega, menor emissão de poluentes e otimização da malha logística urbana.

Em um país com deficiências estruturais, essa tecnologia pode democratizar o acesso ao delivery em comunidades afastadas ou de difícil acesso, impulsionando pequenos empreendedores e tornando o serviço mais inclusivo.

Há também um ganho simbólico importante: o Brasil entra no mapa global da inovação logística, ao lado de países como Estados Unidos, China e Japão, que já utilizam drones em escala comercial.

O iFood, por sua vez, fortalece sua imagem de empresa inovadora e visionária, o que se reflete diretamente em valor de marca e vantagem competitiva.

⚠️ O outro lado do voo

Mas nem tudo que sobe pode se manter no ar por muito tempo.
O entusiasmo tecnológico precisa ser acompanhado de cautela operacional e reflexão social.

Os desafios ainda são proporcionais à ambição do projeto. O alcance e o peso dos drones continuam limitados, o que restringe o uso a entregas leves e trajetos curtos. Em dias de chuva ou ventos fortes, os voos são inviáveis. Além disso, a infraestrutura regulatória do Brasil ainda está em construção.

Voar sobre áreas densamente povoadas exige segurança, rastreabilidade e regras claras — pontos que o país ainda está aprendendo a desenvolver.

Outro aspecto delicado é o impacto sobre o trabalho humano.

Embora o iFood defenda que os drones não substituem os entregadores, a automação tende a mudar a dinâmica do trabalho no setor. A tendência é que surjam novas funções, como operadores e técnicos de manutenção de drones, exigindo capacitação e políticas de inclusão tecnológica. Essa transição precisa ser acompanhada de diálogo e proteção social, para que o avanço não aprofunde desigualdades.

⚖️ O desafio de equilibrar inovação e responsabilidade

O projeto de drones do iFood é, sem dúvida, um marco cultural e logístico.
Não se trata apenas de entregar pedidos mais rápido, mas de redefinir a relação entre tecnologia, trabalho e cidade.

Se bem implementado, o modelo pode criar um novo ecossistema de mobilidade urbana sustentável e inteligente, onde o ar e o solo se complementam de forma harmônica.

Mas a inovação precisa vir acompanhada de transparência, diálogo e regulação justa.
Crescer de forma acelerada, sem preparar a sociedade e as instituições, pode gerar mais exclusão do que eficiência. O verdadeiro progresso acontece quando a tecnologia e a inteligência artificial servem às pessoas — e não o contrário.

Leia também: Seremos substituídos por robôs?

🚀 Um futuro que já começou

O iFood não está apenas testando drones — está, na prática, testando o futuro. O sucesso dessa iniciativa pode inspirar outros setores, como a saúde, a logística pública e o transporte de emergência, onde o uso de drones já mostra resultados promissores, inclusive no transporte de órgãos e medicamentos 💉. O caminho, no entanto, precisa ser trilhado com responsabilidade.

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A tecnologia aérea urbana é fascinante, mas requer pousos programados, com atenção à segurança, sustentabilidade e impacto social. O futuro das entregas no Brasil talvez não esteja apenas nas ruas, mas acima delas.

O céu é, de fato, o limite — mas o verdadeiro desafio está em como escolhemos aterrissar: com pressa ou com propósito.

Renata Santana
Jornalista, estrategista digital e especialista em tecnologia
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