Sábado, 23 Novembro 2024

250MuriloArtigo* Presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp)

Sem surpresas, 2021 começou repleto de desafios herdados do ano passado. Temos pela frente nada menos que uma pandemia e uma das piores crises econômicas da nossa história para superar. A tarefa é hercúlea, mas pode ser cumprida se, em ambas as questões, houver compromisso sério com o interesse público por parte de quem toma as decisões e se as ferramentas disponíveis – a engenharia, a ciência e a tecnologia – forem utilizadas devidamente.

Obviamente, em primeiro lugar está a emergência sanitária com a Covid-19, que nos aflige há um ano e já levou a vida de mais de 220 mil brasileiros e mais de 2 milhões em todo o mundo.

O fato a ser comemorado foi o desenvolvimento de várias vacinas seguras e eficazes em tempo recorde, graças ao investimento maciço nas pesquisas voltadas a essa meta e à tecnologia previamente desenvolvida. O obstáculo a ser superado agora em todo o mundo é garantir a produção e a distribuição de bilhões de doses para efetivar a imunização e podermos virar essa página.

Editorial 539No Brasil, apesar de todos os nossos problemas, temos algumas vantagens estratégicas importantíssimas. Dispomos, por exemplo, do Instituto Butantan e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgãos altamente qualificados que participaram diretamente do desenvolvimento das vacinas dos laboratórios Sinovac e Astrazeneca e que produzirão internamente esses imunizantes quando houver disponibilidade dos insumos necessários que, lamentavelmente, precisam ser importados. Há ainda o Sistema Único de Saúde (SUS), com capilaridade por todo o território nacional e imensa expertise em programas de imunização.

Para além das vacinas, nosso arcabouço tecnológico e científico mostrou-se fundamental em todo esse processo de enfrentamento do novo coronavírus. Do sequenciamento genético do vírus feito em 48 horas, passando pela certificação de máscaras, confiáveis, ao desenvolvimento do Inspire, respirador de baixo custo criado por pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), a engenharia nacional e as instituições públicas de pesquisa demonstraram que são imprescindíveis ao bem-estar geral e ao desenvolvimento.

No que diz respeito ao desafio, igualmente urgente, de superação da crise econômica, é essencial que também impere a visão coletiva e racional. Há que se compreender que o quadro exige ação firme, corajosa e relevante do Estado para assegurar a sobrevivência dos brasileiros e das empresas, especialmente as pequenas. Auxílio emergencial aos que nada têm e disponibilidade de crédito a quem emprega e produz continuam a ser medidas inescapáveis.

Num horizonte um pouco além, cabem iniciativas por recuperação e fortalecimento da indústria, que demanda competitividade com ganhos de produtividade e inovação. O processo precoce de encolhimento desse setor é uma ameaça real a qualquer chance de o Brasil alcançar o patamar necessário de desenvolvimento para prover condições dignas de vida aos seus 212 milhões de habitantes. O agronegócio nacional é muito importante e deve se desenvolver cada vez mais, mas sozinho não é capaz de sustentar uma economia robusta o suficiente.

É, pois, tarefa do poder público assegurar uma política industrial que vá além de subsídios fiscais, coordenada com a administração macroeconômica. É hora de abandonar dogmas liberais, hoje questionados até nos centros capitalistas do globo, e agir pragmaticamente em benefício da maioria e do futuro do País.

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