Celso Braga, sócio-diretor do Grupo Bridge
Nascido sem internet, celular e computadores, ainda me lembro de, aos 8 anos de idade, girar a manivela do telefone na casa dos meus avós e falar com a telefonista para pedir para falar na casa de meus tios. Agora me pedem para ajudar as pessoas a se adaptarem ao mindset digital, pois o futuro chegou. Semana passada falava com um vice-presidente de uma organização que atendo, sobre um diretor que está na empresa há trinta e cinco anos, um especialista no negócio da empresa e que não utiliza o e-mail como forma de comunicação porque não gosta. Limite para dizer que não está mais sendo possível conviver com ele na gestão.
Posso dizer que, nestes vinte e três anos de empresa, presenciei e testei muitas mudanças em tecnologia: O e-learning, por exemplo, de fato, nunca chegou a ser um grande negócio, mesmo chamando de EAD. Até o atual momento ainda caminha a passos lentos, poucos tiveram sucesso em implantar ensino virtual nos últimos 15 anos. Atualmente, continua se parecendo promissor e ganhou um pouco de espaço e nem podemos dizer que está no auge, está mais para o começo de adoção depois de um longo ciclo de aprendizado. Testei gestão remota com apps, novos modelos de negócio com apps de apoio aos clientes. Nenhuma destas tentativas chegou a ser um modelo de sucesso absoluto, pois as pessoas gostam e abandonam rápido.
Todo mundo fala de mundo digital, porque Facebook, WhatsApp, Twitter e Instagram, como redes sociais, ainda puxam formas de comunicação. Proliferamos lojas virtuais e, depois de 15 anos, agora começam a dar algum resultado. O ecommerce parece que venceu.
Na indústria, o auge da comunicação é falar do modelo 4.0 que, de verdade, deve levar e torno de duas décadas para chegar à sua plenitude no Brasil. Ainda passaremos por uma automatização da plataforma existente antes de avançar para um mundo industrial conectado. Em robótica, se fala em substituição dos humanos como a grande ameaça. Ainda estamos na primeira geração de robôs que fazem tarefas simples. Funções mais complexas de escolha estão distantes, algoritmos de previsibilidade ainda têm dez ou mais anos para começarem a entrar no jogo.
Há limitações fundamentais na tecnologia que precisam ser percebidas. Estamos bastante distantes de um mundo no qual estaremos totalmente automatizados. Ainda assim, todos os dados requerem humanos para interpretar, analisar e conectar, o que faz perceber que a necessidade de leitura fica ainda maior e mais complexa. A leitura e o trabalho criativo ainda não estarão na inteligência artificial.
De fato, o mindset digital é uma necessidade. É preciso aprender sobre todas essas considerações, não superestimar a capacidade das tecnologias e se focar em liberar a capacidade de todos de serem mais criativos, de lidarem com questões éticas e emocionais. O passo mais acertado é começar uma transformação cultural, entender como a automação simples está nos impactando, como podemos ser mais ágeis ao lidar com os dilemas que se apresentam, como aproveitar a extensão digital, a nossa inteligência. Aproveitar, por exemplo, o Google, nosso mais novo banco de dados ou nossa mais nova enciclopédia, e não achar que vamos transferir tudo aos robôs. Relacionamentos, colaboração, grande capacidade de lidar com dados complexos conectados pela intuição, o amor, o meu cliente e outras coisas mais não serão digitalizados ou se tornaram digitais.