Jorgete Leite Lemos é diretora executiva da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços e diretora executiva da ABRH-Brasil
O 13 de maio deste ano será lembrado como o início da efetivação do Empoderamento Negro, ou seja, não há mais retrocesso. Empoderamento alcançado pelo saber, pela competência, graças às ações afirmativas, sim, e ao mérito de cada um dos negros que souberam maximizar os meios que lhes foram apresentados para o seu desenvolvimento.
O empoderamento é o alicerce dos movimentos sociais que tem como particularidade a atuação em relação à questão racial. O movimento negro engloba o conjunto de organizações, coletivos e indivíduos que lutam contra o racismo, apesar de muitas pessoas, neste país, teimarem em negá-lo, mas contra as evidências não há argumentação que se sustente.
Em 2019, já tivemos 14 denúncias de racismo no futebol brasileiro (12 no estádio e duas registradas no ambiente da internet). Neste mês, o veto imposto à peça publicitária do Banco do Brasil, denominada Selfie, com atores e atrizes em sua maioria negros, e também brancos, tatuados, com cabelos coloridos e uma personagem transexual, que visava trabalhar a diversidade racial, de orientação sexual e de identidade de gênero, inspirou a reação de uma multinacional, a Burger King, nas redes sociais – “No BK, todo mundo é bem-vindo. Mesmo que não seja bem-vindo em outro comercial” e, mais recentemente, do Bradesco com a campanha em vídeo “Aliados Pelo Respeito”. Se ainda persistirem dúvidas, é só acompanhar o portal Geledés.
O movimento negro luta por melhores condições de vida para os negros, que são 57% dos brasileiros, seja através de práticas culturais, de estratégias político-partidárias, de iniciativas educacionais, de ações no âmbito da saúde, o que faz da diversidade, pluralidade e interseccionalidade características desse movimento social.
Graças a esse empoderamento, o perfil de parte da população jovem negra mudou. Mudou para aqueles que participaram ou ainda participam de iniciativas, como o ensino da Universidade Zumbi dos Palmares; o programa de inclusão para jovens negros, desenvolvido pela ONG Iniciativa Empresarial pela Igualdade; a consultoria EmpregueAfro; o movimento individual do executivo Theo van der Loo, um condutor dessa transformação no Brasil, que vem disseminando junto aos seus pares, CEOs, uma ação contagiante sobre a responsabilidade do alto escalão na verdadeira mudança do comportamento corporativo; e o Movimento Black Money. Limito-me a citar apenas esses exemplos pois a lista é infindável.
A trajetória poderia ser diferente, mas só sabe o que é ser negro, nesse país quem o é e convive diariamente com o racismo, discriminação e preconceito. E como eliminar esse teto de vidro? Considero que não será pela tomada de consciência, identificação de vieses inconscientes, apenas. Precisaremos acelerar esse processo e isso ocorrerá com o poder econômico negro.
Os afroamericanos, por exemplo, contam com várias opções de bancos fundados e presididos por empresários negros. O OneUnited Bank, o maior deles, foi criado com o objetivo de mensurar o poder de compra da população afroestadunidense e canalizá-lo para gerar empregos, construir negócios e aumentar a riqueza... negra.
O poder econômico é usado como uma ferramenta de protesto. Recentemente, após as constantes mortes de jovens negros americanos, foi criado o movimento BankBlackChallange, que visa provocar a migração de recursos de negros que movimentavam seus investimentos em “bancos brancos” para os “bancos negros”. Estamos atentos a esses sinais?
No Brasil, temos o Black Money, criado por Nina Silva, um agente de desenvolvimento do ecossistema afroempreendedor. Afrocentrismo, Tecnologia, Finanças, Marketing e Negócios são pilares desse movimento, que funciona com dois fundamentos: “Se não me vejo, não compro” e “Compro de afroempreendedores para fortalecer os seus negócios”.
Estamos mais próximos da realidade do empoderamento econômico negro do que muitos pensam. É só lembrar que já é possível comprar um carro moderno, de luxo, de uma marca que pertence a um negro. Isso é Black Money. É a Kantanka Motors, em Gana.
Por fim, prezados leitores, deixo este meu pensamento para reflexão: internamente, todos nós temos a mesma cor, mas nem sempre a mesma dor, pois esta só é sentida pelos discriminados. Humanização sem valorização e promoção racial não existe; é apenas discurso, vazio.