João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical
A jornada do dia 22 de março foi um sucesso quase desconhecido pela mídia grande, mas com repercussão nas redes sociais e na comunicação sindical.
Embora as direções ainda não tenham conseguido produzir um balanço quantitativo detalhado do conjunto das manifestações, contentando-se cada uma delas a repercutir o que realizaram em suas áreas de influência, a positividade da jornada pode ser aferida em três eixos fundamentais.
Em primeiro lugar, as manifestações foram nacionais, ocorreram em todo o país, nas grandes capitais e nas cidades menores, nas cinco regiões do Brasil.
Em segundo lugar, foram claramente sindicais mobilizando inúmeras categorias de trabalhadores e paralisando, com assembleias, muitos locais de trabalho. Os aliados que participaram as reforçaram, mas não diminuíram suas características sindicais.
E em terceiro lugar, foram unitárias com a denúncia central da deforma previdenciária e com a vontade unânime de resistir a ela e derrotá-la.
Esses três elementos, a nacionalização, a sindicalização e a orientação unitária de propósitos, deram às manifestações um caráter de força marcante – que os números parciais ressaltam – e fizeram cair a ficha dos trabalhadores, muito além das próprias fronteiras sindicais ou da oposição.
Mas a luta é dura, intensa, complexa e cheia de peripécias. O evidente e continuado desarranjo das hostes governistas, ao invés de nos dar uma folga, exige muito mais de nós, com o trabalho de base, com as visitas e conversas com deputados e senadores e com um “escracho” do famigerado Rogério Marinho que prometeu criar empregos com a deforma trabalhista, não cumpriu e agora posa de maestro e guru da deforma previdenciária.
Na maioria das manifestações emergiu a palavra de ordem de um 1º de maio unificado, o que é excelente. Mas o que fazer durante o mês de abril, que promete ser cheio de acontecimentos no Congresso Nacional?
Uma sugestão a ser acatada é a da realização de GPSs – Greves Programadas Simultâneas – onde, sob o comando das direções alguns locais de trabalho ou algumas categorias paralisem coordenadamente suas atividades dando uma demonstração convincente de força.
O dia 22 de março foi, na conturbada conjuntura política e apesar dela, uma jornada positiva que superou as expectativas. Esta vitória, ao invés do relaxamento, deve nos impulsionar a fazer mais, diariamente, com os trabalhadores, com os aliados (como a OAB e a CNBB, por exemplo), com as forças políticas – o necessário para derrotar a deforma.