Antonio Carlos Brito, Sênior Principal, Digital e Value Engineering da Infor no Brasil
O ano começa com boas perspectivas na Indústria de TI, que vive um movimento de proliferação de tecnologias disruptivas, que se tornaram, nos últimos anos, um motor propulsor de novos negócios. Estimativas do Gartner apontam que os gastos globais com Tecnologia da Informação chegarão a cifra de US$ 3,76 trilhões em 2019, um aumento de 3,2% em relação a 2018. Entre as inovações que lideram o “ranking de mais desejadas”, podemos citar Inteligência Artificial, Machine Learning e Internet das Coisas. Todas essas têm impactos significativos na criação de ecossistemas digitais, mas devemos olhar com atenção para a explosão de objetos conectados e tentar descobrir o que o futuro reserva para IoT.
Em 2022, teremos 20 bilhões de dispositivos conectados à internet. Essa expansão, de acordo análises de Gartner e IDC, será fruto de uma adoção cada vez maior por parte dos consumidores (smartwatches, sensores e atuadores domésticos para conforto ambiental, segurança e eletrodomésticos) e, também, por negócios das mais diferentes matizes (centros de fabricação que emitem alertas de manutenção, equipamentos sincronizados em uma cadeia de suprimentos, georreferenciação e geofencing) e no setor público (smart cities, semáforos, iluminação inteligente, transporte público, controle de inundações, distribuição de eletricidade, gás, águas, e coleta de lixo e de esgoto). O IDC prevê um crescimento anual de 13,6% até 2022, quando o mercado de IoT atingirá US$ 1,2 trilhão.
Apesar das inúmeras perspectivas e do otimismo latente, a legislação atual não cobre todas as falhas do modelo e há preocupação que possamos estar vivendo uma “bolha do IoT”: um crescimento muito otimista, pouco regulado, sem as bases para uma estabilização perene.
Preocupações com a segurança
Um dispositivo de IoT gera, a cada segundo, centenas de dados, formando uma verdadeira inundação de eventos nas redes atuais. A latência das redes, ou seja, o atraso de envio de dados de um ponto designado para outro, obriga que os dados sejam tratados, agregados e analisados próximos aos sensores. Hoje há relativamente poucos protocolos padronizados de autorização e autenticação para os dispositivos, assim como regras claras de manutenção e substituição de equipamentos. Da maneira que está, a rede apresenta riscos: e se começam a espionar ou a “drenar” desse mar de dados desprotegidos? Ninguém quer que os dados, no seu estado mais puro, sejam desviados para outras finalidades, da mesma forma que não queremos que invasores tomem conta dos nossos equipamentos.
No Brasil, em 2017, o Centro de Estudos, Respostas e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (CERT.br) recebeu 830 mil notificações de ataques cibernéticos, sendo que 220 mil foram reportados a partir de dispositivos de Internet das Coisas infectados com os chamados botnets. Outro aspecto importante é a ameaça à privacidade. Com sensores monitorando a vida de todos os equipamentos, devices móveis, termostatos e máquinas de dispensar alimentos, como evitar que seus gostos, preferências e hábitos não sejam igualmente monitorados? Poderíamos criar um ciclo vicioso: quanto mais experiências vivenciarmos ou produtos consumirmos, mais desses itens nos serão oferecidos?
E o futuro?
O crescimento continuará espantoso, a dois dígitos, por algumas décadas. As redes atuais provarão ser pequenas para sustentar a conexão de tantos dispositivos. Há o potencial de criação de mercados nos próximos anos sustentados por esta tecnologia. Haverá a busca por maior padronização dos protocolos de autenticação, autorização, manutenção e substituição de componentes. É possível que teremos que encontrar usos específicos da inteligência artificial aplicadas às redes de IoT sugerindo trocas e limpezas de sensores, por exemplo. A legislação deverá passar por mudanças, para organizar o mercado e torná-lo atraente e perene.
Não precisamos de outra bolha: podemos desenvolver este mercado sobre bases sólidas, com segurança e com benefícios para todos os seus integrantes.