José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região e Secretário nacional de Formação da Força Sindical
Várias razões levaram Jair Bolsonaro a vencer a eleição presidencial. Como não foi a debates e mal divulgou seu plano de governo, ele foi eleito na base do discurso. E qual o centro retórico do discurso? A defesa dos valores da família.
Mas pode o homem que defendeu a família, poucas semanas depois, apresentar um projeto que ataca o núcleo familiar, que é o pilar da ordem social? Não deveria. Mas é o que ocorre com sua reforma da Previdência.
Observe: ao aumentar tempo de trabalho e de contribuição, sua proposta altera projetos de vida e planos familiares. As pessoas terão de trabalhar mais, contribuir por mais tempo e irão receber menos.
Por que a proposta desestabiliza a família? Por muitas razões. Como, por exemplo, pelo aumento na idade mínima da mulher, que faz dupla e ou mesmo tripla jornada. Nem as professoras escapam, pois só se aposentarão com a idade dos professores, aos 60 anos.
O governo espertamente faz propaganda do regime de capitalização da Previdência, para beneficiar simplesmente os banqueiros e as grandes seguradoras. A ideia é de que, no futuro, o trabalhador faça a própria poupança, individual, sem contribuição de empresa ou do Estado. No Chile deu errado. Lá, só metade dos trabalhadores se aposentou e 90% recebem meio salário mínimo.
A proposta também é reduzir o que ganham os chamados pensionistas. A situação desses idosos vai piorar, pois não poderá mais haver acúmulo de benefícios. Quem irá amparar essas pessoas? Se não é o Estado, será a família. Mas todos têm família? E a família tem condições de ajudar financeiramente?
Eu não quero aqui atirar pedra em governantes. Mas é meu dever alertar que essa reforma, na prática, afetará as famílias, especialmente nas classes mais pobres. É evidente que o enfraquecimento da renda e do amparo familiar provocará exclusão e desagregação na base social.
Existe agressão maior à família do que isso?